São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002
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DIVERSÃO E ARTE

Montagem simplifica "D. Casmurro"

A peça "D. Casmurro", uma adaptação do romance homônimo de Machado de Assis, assume de pronto um empenho didático, esclarecendo até mesmo o vocabulário empregado pelo autor. Ao apoiar-se no enredo, a montagem superestima os acontecimentos, que apenas ensejam o dilema da divisão, da dúvida, este, mais que a suposta traição, o verdadeiro tema do romance.
Quem lê o romance tende a acompanhar o vaivém da mente de Bentinho, que é protagonista mas também narrador. Na peça, o espectador é avisado de que vai sair do teatro em dúvida, mas, ao mesmo tempo, encontra personagens esquematizados, que parecem a serviço de uma certa leitura do original. Entre pueril e astuciosa, a Capitu da peça contracena com um Bentinho infantilizado e assumidamente doente de ciúmes, quase caricaturesco.
A complexidade das personagens machadianas afrouxa-se, cedendo lugar ao prosaísmo do enredo em si. São omitidas passagens como a do penteado que Bentinho faz em Capitu (capítulo 33), em que arruma as tranças da menina e ata as suas pontas (como viria mais tarde a tentar "atar as duas pontas da vida"), e a da morte de Escobar, ocasião em que os "olhos de ressaca" de Capitu, capazes de engolfar o "nadador da manhã" (capítulo 123), levam a extremo as suspeitas de Bentinho. Isso sem falar nas inúmeras passagens em que Machado ironiza a retórica de seu tempo, a vaidade e os sentimentos mundanos que, de resto, engendram a maioria das ações humanas.
Na peça, a ironia machadiana, por meio da qual o autor exercita sua inteligência viva, parece cair no vulgar, escorregando no corriqueiro da situação, vista aos olhos de hoje quase como ridícula.
Melhor assistir à peça após a leitura do romance.
(THAÍS NICOLETI DE CAMARGO)


Teatro Lucas Pardo Filho, rua Gravataí, 47, Consolação. Ingresso: R$ 25. Informações: 0/xx/11/3862-9403

Arte chinesa no Museu da Faap
Com peças desde o período neolítico até os dias atuais, o Museu da Faap traz até o dia 3 novembro a exposição "China: a Arte Imperial, a Arte do Cotidiano, a Arte Contemporânea". Nela, o vestibulando poderá saber o que é um vaso da dinastia Ming (1368-1644) e ver obras da época da Revolução Cultural de Mao Tse-tung.
Museu da Faap - r. Alagoas, 903. De ter. a sexta, das 10h às 20h. Sábado, domingo e feriados, das 10h às 17h. Grátis.

Semana Eco 2002 na Cultura
A TV Cultura apresentará a partir de domingo uma série de programas, chamada "Semana Eco 2002", sobre ambiente e desenvolvimento sustentável. O assunto será o tema de uma conferência das Nações Unidas de segunda-feira até o próximo dia 4. A emissora transmitirá uma série de reportagens sobre a conferência, documentários e entrevistas em diversos dias e horários. A programação está no site www.tvcultura.com.br.


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