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QUESTÃO DE COR
Cotas serão adotadas neste ano no RJ
PROJETO DE LEI PODE FAZER QUE UNIVERSIDADES TENHAM RESERVAS DE ATÉ 50% DAS VAGAS DESTINADAS A NEGROS E A CARENTES EM SÃO PAULO
FÁBIO PORTO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Neste ano, chega ao vestibular a
polêmica reserva de vagas para estudantes negros e pardos.
Adotada até o momento apenas
no Estado do Rio, a medida vai
garantir que 40% dos estudantes
que ingressem na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
e na Uenf (Universidade Estadual
do Norte Fluminense) sejam de
afrodescendentes.
Entre as outras iniciativas em
andamento, a de maior alcance é
o projeto de lei do senador José
Sarney (PMDB-AP), que determina 20% de vagas para negros e
pardos em todas as universidades
públicas do país -municipais,
estaduais e federais.
No Estado de São Paulo, a única
proposta é a do deputado estadual Cândido Vaccarezza (PT),
em trâmite na Assembléia e que
prevê 50% de reserva de vagas para estudantes carentes nas instituições de ensino superior estaduais. Ambos os projetos devem
ser votados ainda neste ano.
As universidades brasileiras, no
entanto, têm autonomia para
criar seus próprios programas de
cotas. A UnB (Universidade de
Brasília), por exemplo, pode ter
reserva de 20% das vagas para negros já no vestibular do final deste
ano. O autor do projeto de cotas
da instituição, o antropólogo José
Jorge de Carvalho, considera que
a academia tem responsabilidade
na exclusão racial. "Há décadas
que os professores universitários
têm conhecimento de dados que
mostram a difícil inserção do negro na sociedade e nada fizeram."
A questão suscita debates acalorados mesmo entre os próprios
estudantes negros. "É uma iniciativa que abre a discussão para a
questão do racismo", diz Johnny
Brasiliense, 19, que é favorável às
cotas e estuda no Cursinho da Poli. Já o estudante Franklin Machado, 20, seu colega de sala, é contra
a proposta. "Isso pode gerar um
novo tipo de preconceito. Sou a
favor de cotas para carentes."
O argumento de Machado é
muito comum na defesa de cotas
para estudantes pobres e sem a diferenciação da cor. "E quem é carente e não é negro? Vai ter de
competir com o negro que estuda
em escola particular?", afirma Patrícia Tavares, 18, que vai fazer o
vestibular da Uerj e diz que se sente discriminada pela instituição
por não ser negra nem parda.
"Há a tendência de achar que o
preconceito é social e não racial,
mas a população branca pobre
tem mais escolaridade que a população negra pobre", afirma a
presidente da ONG Geledes, Maria Aparecida da Silva.
Determinar quem é negro, pardo e mestiço em um país como o
Brasil é outro alvo de muita discussão. Para Sonia Wanderley, assessora da direção do Departamento de Seleção Acadêmica da
Uerj, é impossível fazer essa distinção. "O critério a ser adotado
aqui é o da autoclassificação."
Para o coordenador-executivo
do Núcleo de Consciência Negra,
José Adir, a possibilidade de alguém se assumir como pardo
apenas para se beneficiar da reserva não é significativa. "A dimensão desse oportunismo é muito pequena. Não é isso que deve impedir a adoção de cotas."
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