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ELE É SHOW
Muitos alunos, conteúdo extenso e tensão pré-vestibular pedem profissional específico
Cursinho exige professor carismático
CONSTANÇA TATSCH
DA REDAÇÃO
É manhã de sexta-feira. Faz
frio. Começa a faltar fôlego para acompanhar a aula de biologia sobre doenças virais. Até
que vem o berro:
"Acorrrrrrrrrrrrda!" Os olhos
se arregalam e o coração dispara. Pronto. Todos os alunos estão atentos novamente.
Ser professor não é tarefa fácil. Mas ser professor de cursinho é para poucos. As salas, lotadas, chegam a ter 150 adolescentes, muitas vezes, desesperados para passar no vestibular.
E o tempo é curto para poder
repassar toda a matéria dada no
ensino médio.
"Se não tiver descontração,
não rola", afirma o professor do
CPV Luis Ricardo Palermo,
após uma representação barulhenta sobre a decapitação dos
reis franceses durante a revolução -o ápice foi a guilhotina,
quando a classe quase veio
abaixo. "Professor de cursinho
é o professor que deu certo.
Tem um algo a mais. Você tem
que ser bem preparado, porque
o aluno cobra muito, e tem que
ter uma veia teatral. Especialmente para ter a coragem de
encarar até 200 alunos."
Vocação artística é o que não
falta ao professor de literatura
e redação do Anglo Maurício
Soares Filho, também formado
em artes cênicas. "Chego e tenho que criar um campo magnético, quase uma interação
palco/platéia. Preciso fazer
aquecimento vocal, estar bem e
me desligar do meu outro mundo. Saio exaurido. Cada aula é
um momento intenso e me sinto muito mal se ligo o piloto automático. Busco sempre o frescor da emoção."
Limites
"Lindo! Rebola!" É ao som
desses gritos que o professor do
Anglo Gian Paolo Dorigo entra
na sala. A turma do fundão puxa uma música. Todos cantam.
Ele arruma o microfone, separa
o giz. Os alunos batem com as
mãos nas carteiras e com os pés
no chão. Mas, quando ele começa a explicar a matéria, silêncio. "Tolero a bagunça no
começo para o aluno extravasar, depois seduzo pelo discurso. É um acordo que se estabelece: enquanto eu estou fazendo meu mapa, nem ouço, mas
enquanto eu falo, eles prestam
atenção."
O professor de história do
Objetivo Marco Antonio Jacob
é bastante popular entre os alunos, mas exige disciplina. "A
aula pode ser descontraída sem
ser bagunçada. Eles me vêem
como um irmão mais velho, um
amigo, mas nunca deixei de colocar limites."
Para o estudante Bruno Rosa
Athayde, 23, é preciso ter uma
didática especial para dar aula
em cursinho. "Os professores
passam bastante conteúdo,
sem ser aquela aula chata. É
muita matéria, e tem muita
tensão, o próprio aluno se cobra muito. Se passarem de maneira informal, fica mais fácil",
afirma. A admiração que sente
por essa equipe já mudou os rumos de Bruno. Ele ainda não
sabe qual curso irá fazer, mas
tem uma certeza: quer ser professor de cursinho.
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