São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2006
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ELE É SHOW

Muitos alunos, conteúdo extenso e tensão pré-vestibular pedem profissional específico

Cursinho exige professor carismático

CONSTANÇA TATSCH
DA REDAÇÃO

É manhã de sexta-feira. Faz frio. Começa a faltar fôlego para acompanhar a aula de biologia sobre doenças virais. Até que vem o berro: "Acorrrrrrrrrrrrda!" Os olhos se arregalam e o coração dispara. Pronto. Todos os alunos estão atentos novamente.
Ser professor não é tarefa fácil. Mas ser professor de cursinho é para poucos. As salas, lotadas, chegam a ter 150 adolescentes, muitas vezes, desesperados para passar no vestibular. E o tempo é curto para poder repassar toda a matéria dada no ensino médio.
"Se não tiver descontração, não rola", afirma o professor do CPV Luis Ricardo Palermo, após uma representação barulhenta sobre a decapitação dos reis franceses durante a revolução -o ápice foi a guilhotina, quando a classe quase veio abaixo. "Professor de cursinho é o professor que deu certo. Tem um algo a mais. Você tem que ser bem preparado, porque o aluno cobra muito, e tem que ter uma veia teatral. Especialmente para ter a coragem de encarar até 200 alunos."
Vocação artística é o que não falta ao professor de literatura e redação do Anglo Maurício Soares Filho, também formado em artes cênicas. "Chego e tenho que criar um campo magnético, quase uma interação palco/platéia. Preciso fazer aquecimento vocal, estar bem e me desligar do meu outro mundo. Saio exaurido. Cada aula é um momento intenso e me sinto muito mal se ligo o piloto automático. Busco sempre o frescor da emoção."

Limites
"Lindo! Rebola!" É ao som desses gritos que o professor do Anglo Gian Paolo Dorigo entra na sala. A turma do fundão puxa uma música. Todos cantam. Ele arruma o microfone, separa o giz. Os alunos batem com as mãos nas carteiras e com os pés no chão. Mas, quando ele começa a explicar a matéria, silêncio. "Tolero a bagunça no começo para o aluno extravasar, depois seduzo pelo discurso. É um acordo que se estabelece: enquanto eu estou fazendo meu mapa, nem ouço, mas enquanto eu falo, eles prestam atenção."
O professor de história do Objetivo Marco Antonio Jacob é bastante popular entre os alunos, mas exige disciplina. "A aula pode ser descontraída sem ser bagunçada. Eles me vêem como um irmão mais velho, um amigo, mas nunca deixei de colocar limites."
Para o estudante Bruno Rosa Athayde, 23, é preciso ter uma didática especial para dar aula em cursinho. "Os professores passam bastante conteúdo, sem ser aquela aula chata. É muita matéria, e tem muita tensão, o próprio aluno se cobra muito. Se passarem de maneira informal, fica mais fácil", afirma. A admiração que sente por essa equipe já mudou os rumos de Bruno. Ele ainda não sabe qual curso irá fazer, mas tem uma certeza: quer ser professor de cursinho.


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