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ESFORÇO DOBRADO
Cansaço e falta de tempo são algumas das queixas dos estudantes que trabalham
Alunos reclamam de dupla jornada
DA REPORTAGEM LOCAL
Michelle Ferreira, 21, trabalha
da meia-noite às 9h como
operadora de telemarketing. Depois do trabalho, vai para casa,
onde dorme e tenta estudar um
pouco para o vestibular. Antes
das 19h, já está no cursinho, de
onde sai e vai direto para o trabalho.
"Há dias em que não consigo
acordar para ir para a aula, de tão
cansada que eu estou", diz ela,
que queria fazer artes cênicas,
mas vai prestar letras pelo fato de
o vestibular ser menos concorrido. Na USP, o curso de artes cênicas teve 45,20 candidatos por vaga, contra 9,04 do de letras.
Mayra Neves, 20, tem um horário de trabalho mais tradicional,
das 8h às 18h, como assistente administrativa. Como a empresa fica em um bairro muito distante
do cursinho, ela demora mais de
uma hora para chegar. "Nunca
consigo chegar a tempo de assistir
à primeira aula."
As duas são bons exemplos de
como é complicado tentar conciliar trabalho com estudos. Principalmente se os estudos são a preparação para o vestibular, ou seja,
têm uma carga extra de pressão e
de ansiedade.
Mas, apesar disso, há meios de
driblar as dificuldades. De acordo
com o professor Paulo Motta, que
é psicólogo na Unesp e desenvolve um trabalho com adolescentes
no Centro de Pesquisa e Psicologia Aplicada de Assis (SP), é possível trabalhar e estudar, desde
que o vestibulando consiga gerenciar e administrar o tempo.
Motta deu um exemplo de gerenciamento do tempo: "O dia
tem 24 horas, sendo oito horas de
sono, oito de trabalho e, em tese,
mais quatro de aula. Restam outras quatro horas livres que precisam ser bem aproveitadas para
que o estudo renda o suficiente
para que o candidato conquiste
uma vaga no vestibular", diz.
Erik Dias Ferreira, 25, afirma
que tenta administrar corretamente o tempo para conciliar trabalho e estudo. Ele é PM e quer
entrar na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, em que, no
último processo seletivo, a concorrência foi de 43,54 candidatos
por vaga. "É puxado trabalhar e
estudar, mas é importante se planejar para conseguir fazer tudo.
Consigo até praticar esportes."
A prática de alguma atividade
esportiva, segundo o psicólogo da
Unesp, é uma das melhores maneiras de o aluno relaxar e conseguir absorver o conteúdo que está
sendo estudado, sem estresse e de
maneira saudável. "Nós sugerimos que o estudante pratique alguma atividade física por no mínimo uma hora por dia, principalmente a natação, que é o esporte mais completo porque mexe com toda a musculatura do
corpo e ajuda a relaxar", disse
Motta.
Pique
A estudante Aline Krukas, 21,
assistente administrativa de um
escritório contábil, levanta outra
situação complicada: como se
manter alerta nas aulas depois de
um dia inteiro de trabalho? "Não
temos o pique que o pessoal da
manhã tem."
Para essa questão, o psicólogo
sugere que o aluno faça um sacrifício no ano de vestibular. "O cansaço físico e o mental com certeza
são as principais queixas que recebemos dos jovens que trabalham e estudam. Mas é necessário
ter em mente que isso é uma fase
da vida e que haverá recompensa
por todo esse esforço", diz Motta.
Os professores de cursinho
também tentam fazer a sua parte e
driblar o cansaço dos alunos. Para
isso eles costumam usar métodos
de aula diferenciados para os cursos noturnos.
"Em primeiro lugar, as aulas são
um pouco mais curtas, o que faz
com que os alunos tenham mais
matérias no mesmo dia. Isso provoca um ritmo mais dinâmico e
ajuda a não deixar o cansaço tomar conta", diz Caio Sérgio Calçada, professor de física e coordenador do Objetivo.
"Além disso, as aulas à noite
têm de ser independentes umas
das outras. Não posso começar
uma aula no curso noturno cobrando o conteúdo da aula anterior, como faço com a turma da
manhã. Sei que eles não têm o
mesmo tempo de rever a matéria
em casa, então sempre começo fazendo uma revisão", afirma Calçada.
(FERNANDA BASSETTE, MAYRA STACHUK, FÁBIO TAKAHASHI)
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