São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004
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PROFISSÃO/HISTÓRIA

Hoje, órgãos públicos e empresas usam historiador para conservar o passado

Preservar memória amplia mercado

Moacyr Lopes Junior/ Folha Imagem
Vista aérea do museu do Ipiranga, em que historiadores atuam na curadoria e em pesquisas


ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Até há algum tempo, quem escolhesse a graduação em história muito provavelmente seria obrigado a dar aulas depois de formado -no ensino fundamental, no médio ou no superior. Hoje, os campos de atuação estão crescendo, apesar de o magistério ainda ser a principal atividade.
Esse aumento do número de possibilidades é proporcional ao crescimento da preocupação da sociedade com a sua memória. Prefeituras, órgãos públicos e até empresas têm desenvolvido trabalhos de preservação de seus documentos e de resgate de sua história, o que é feito por equipes de profissionais da área.
É comum, por exemplo, que empresas contratem consultorias especializadas quando completam aniversário e pretendem publicar um livro ou um CD-ROM comemorativo. É o historiador que levantará os documentos, fará entrevistas com pessoas que participaram da trajetória da empresa (chamada de história oral) e redigirá o produto final.
Essas mesmas empresas, assim como outros órgãos públicos e privados, costumam produzir em suas rotinas diárias documentos, como laudos, ofícios, contratos e relatórios. A organização e a pesquisa desses arquivos também é trabalho do historiador, em parceria com outros profissionais, como arquivistas e museólogos.
"Há acervos enormes no Estado e em empresas que estão encaixotados, sem a menor ordem. Para fazer um levantamento, organizar, informatizar e, se possível, digitalizar esse acervo, é importante a presença do historiador", disse Ivan Esperança Rocha, coordenador do conselho do curso da Unesp de Assis.
A coordenadora da graduação da Unicamp, Silvia Lara, ressalta que a atuação do historiador difere da do arquivista. "A pesquisa histórica é necessária para organizar o acervo. É preciso conhecer a história do órgão para separar em temas ou em séries históricas."
Um exemplo de trabalho com acervos foi feito pela professora da USP Maria Aparecida de Aquino, que, durante quatro anos, catalogou e organizou os quase 2 milhões de documentos do arquivo do Dops (Departamento de Ordem Política e Social). "No Brasil, a preocupação histórica ainda engatinha. A consciência de guardar adequadamente os documentos é algo recente."
Os museus também são possíveis locais de atuação do historiador, onde participará de pesquisas, da organização dos acervos e de curadoria de exposições.
Desde 1990, a historiadora Solange Ferraz de Lima trabalha no Museu Paulista, mais conhecido como museu do Ipiranga, ligado à USP. Ela é uma das curadoras do acervo de imagens da instituição. "Atuar como curadora de uma exposição implica não só selecionar as imagens e definir o conceito básico, mas também garantir que todas as atividades e os profissionais envolvidos confluam para um objetivo comum."
Segundo ela, normalmente, o profissional que trabalha em museus ligados a universidades também tem de dar aula. "A docência é importante, pois, ao lecionar, na graduação ou na pós-graduação, estamos formando e preparando novos profissionais para a realidade de hoje, que contempla a preocupação com a preservação e com a memória."
Também ligada ao ensino, mas sem diretamente dar aulas, outra atividade é a produção de livros didáticos e paradidáticos em editoras. Mesmo não escrevendo o livro inteiro, o historiador pode ajudar na pesquisa iconográfica e na revisão, verificando se os conteúdos estão corretos.
Segundo Sílvia Lara, da Unicamp, outra área em expansão é em órgãos de preservação do patrimônio histórico e cultural, como o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico). "O historiador atua com antropólogos, arquitetos e outros profissionais avaliando e propondo programas de preservação."
Para Maria Aparecida de Aquino, da USP, a assessoria para meios de comunicação, em breve, será um mercado em ascensão. "Os historiadores são chamados para explicar o que acontece no mundo. Por enquanto, isso geralmente é feito de graça, mas a tendência é ser remunerado. Na Europa, isso já é constante."


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