São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007
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ATUALIDADES

Mianmar, em busca da democracia

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O momento é oportuno. Com a aproximação das Olimpíadas de Pequim em 2008, os países do Sudeste Asiático e adjacências, áreas de influência chinesa, ganharão visibilidade com a chegada do grande evento esportivo. Para os ativistas tibetanos que lutam por uma maior autonomia em relação a Pequim e para os dirigentes de Taiwan que defendem a soberania da ilha, é chegada a hora de pressionar a China, divulgando ao mundo os impasses regionais.
Situação semelhante observa-se na antiga Birmânia, com a "Revolução Açafrão" -em referência à cor das vestes dos monges que lideram os protestos pró-democracia. Submetida há mais de quatro décadas a uma ditadura militar brutal, acusada de perseguir e assassinar estudantes e monges budistas, a junta militar de Mianmar sob o comando do general Than Shwe adverte que não tolerará qualquer forma de protesto.
O estopim da crise atual foi o aumento no preço dos combustíveis em meados de agosto, que provocou a majoração das tarifas nos transportes públicos. A situação se agravou com a repressão às manifestações pacíficas de protestos, ocorridas na capital Yangun.
Ex-colônia britânica, Mianmar, antiga Birmânia, tornou-se uma república independente em 1948. Um golpe militar levou ao poder o general Ne Win, em 1962. A crise econômica do final dos anos de 1980 provocou protestos pela democratização do país, resultando em milhares de mortes. Eleições parlamentares realizadas em maio de 1990, consagraram uma vitória esmagadora à Liga Nacional Pró-Democracia (LDN) que teve mais de 80% dos votos. O governo não reconheceu o resultado das urnas, prendeu os líderes da oposição e reprimiu com rigor os protestos pró-democracia.
Aung San Suu Kyi, líder da LDN, agraciada com o Prêmio Nobel da Paz, em 1991, foi condenada a prisão domiciliar em 1989. Sem partidos de oposição, colocados na ilegalidade, a repressão aumentou, principalmente após a ascensão do general Than Shwe que assumiu o comando da junta militar em 1992.
Sob intensa pressão internacional, o governo de Mianmar conta com o apoio da China no Conselho de Segurança da ONU. Pequim veta as resoluções contra a ditadura de Yangun, porque tem interesses energéticos, estratégicos e comerciais no país. O regime chinês é o maior fornecedor de armas à junta militar, mantém um comércio bilateral que chega a US$ 1 bilhão e estuda a construção de um oleoduto da Baía de Bengala até a província de Yunnan, na China. Razões suficientes para saber que a solução para a questão da democracia em Mianmar passa obrigatoriamente por Pequim.


ROBERTO CANDELORI é professor do Colégio Móbile.
rcandelori@uol.com.br


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