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ATUALIDADES
Mianmar, em busca da democracia
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O momento é oportuno. Com
a aproximação das Olimpíadas
de Pequim em 2008, os países
do Sudeste Asiático e adjacências, áreas de influência chinesa, ganharão visibilidade com a
chegada do grande evento esportivo. Para os ativistas tibetanos que lutam por uma maior
autonomia em relação a Pequim e para os dirigentes de
Taiwan que defendem a soberania da ilha, é chegada a hora
de pressionar a China, divulgando ao mundo os impasses
regionais.
Situação semelhante observa-se na antiga Birmânia, com a
"Revolução Açafrão" -em referência à cor das vestes dos
monges que lideram os protestos pró-democracia. Submetida há mais de quatro décadas a
uma ditadura militar brutal,
acusada de perseguir e assassinar estudantes e monges budistas, a junta militar de Mianmar
sob o comando do general Than
Shwe adverte que não tolerará
qualquer forma de protesto.
O estopim da crise atual foi o
aumento no preço dos combustíveis em meados de agosto,
que provocou a majoração das
tarifas nos transportes públicos. A situação se agravou com
a repressão às manifestações
pacíficas de protestos, ocorridas na capital Yangun.
Ex-colônia britânica, Mianmar, antiga Birmânia, tornou-se uma república independente
em 1948. Um golpe militar levou ao poder o general Ne Win,
em 1962. A crise econômica do
final dos anos de 1980 provocou protestos pela democratização do país, resultando em
milhares de mortes. Eleições
parlamentares realizadas em
maio de 1990, consagraram
uma vitória esmagadora à Liga
Nacional Pró-Democracia
(LDN) que teve mais de 80%
dos votos. O governo não reconheceu o resultado das urnas,
prendeu os líderes da oposição
e reprimiu com rigor os protestos pró-democracia.
Aung San Suu Kyi, líder da
LDN, agraciada com o Prêmio
Nobel da Paz, em 1991, foi condenada a prisão domiciliar em
1989. Sem partidos de oposição, colocados na ilegalidade, a
repressão aumentou, principalmente após a ascensão do
general Than Shwe que assumiu o comando da junta militar
em 1992.
Sob intensa pressão internacional, o governo de Mianmar
conta com o apoio da China no
Conselho de Segurança da
ONU. Pequim veta as resoluções contra a ditadura de Yangun, porque tem interesses
energéticos, estratégicos e comerciais no país. O regime chinês é o maior fornecedor de armas à junta militar, mantém
um comércio bilateral que chega a US$ 1 bilhão e estuda a
construção de um oleoduto da
Baía de Bengala até a província
de Yunnan, na China. Razões
suficientes para saber que a solução para a questão da democracia em Mianmar passa obrigatoriamente por Pequim.
ROBERTO CANDELORI é professor do Colégio
Móbile.
rcandelori@uol.com.br
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