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DEU NA MÍDIA
60 anos da Declaração Universal dos Direitos
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
No momento em que se
comemoram os 60 anos da
DUDH (Declaração Universal dos Direitos Humanos),
numa pesquisa publicada pela Folha, 43% dos entrevistados afirmaram concordar
com a máxima popular "bandido bom é bando morto".
Ao confundirem justiça
com vingança deixam-se
persuadir pela falaciosa tese
de que os direitos humanos
existem para proteger "bandidos". Nada mais insensato:
transformar a garantia de direitos fundamentais em sinônimo de impunidade.
Baseada sobretudo na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, da Constituinte francesa de 1789, a
Carta da DUDH, aprovada
pela ONU em dezembro de
1948, surgiu na esteira de
uma série de acontecimentos que marcaram o século
20 e abalaram os alicerces
daquilo que chamamos de
"civilização": o trauma da
Segunda Guerra (1939-1945), que matou mais de 50
milhões e o horror dos crimes perpetrados por Adolf
Hitler e o regime nazista.
Fatos que ilustram o assombroso cenário do Holocausto, o extermínio de milhões de judeus e outros grupos "indesejados", como comunistas e homossexuais.
Para proteger a humanidade dessas crueldades e, sobretudo, para manter acesa a
chama da memória sobre
tais atrocidades, que revelam a face mais sinistra da alma humana, surgiram os 30
artigos da DUDH.
Sua premissa básica é a de
que existem valores universais, compartilhados por todas as comunidades humanas, valores que vão além das
especificidades de cada cultura, como a democracia, por
exemplo. Uma ordem social
democrática se estrutura a
partir de um modelo de organização social pautado pelo direito à Justiça, direito à
igualdade (contra a discriminação racial), direito à liberdade de opinião e expressão,
entre outros.
Por essa razão, a DUDH
representa uma conquista
da "civilização" contra a
"barbárie". Mas, apesar dos
avanços, fatos recentes revelam quão distantes estamos
ainda da consolidação da
Carta Universal dos Direitos.
Um deles refere-se às denúncias de tortura praticada
por soldados norte-americanos no presídio de Abu
Ghraib contra iraquianos
suspeitos de terrorismo. Outro é o que vem ocorrendo na
base de Guantánamo, em
Cuba, no tribunal militar da
guerra contra o terror. Os
detidos são encaminhados à
base na condição de "combatentes ilegais", destituídos
do direito de defesa.
No alvorecer do século 21,
Abu Ghraib e Guantánamo
sinalizam que há muito por
realizar na construção de
uma sociedade realmente civilizada.
ROBERTO CANDELORI é professor
do colégio Móbile
rcandelori@uol.com.br
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