São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2008
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VALE A PENA SABER/QUÍMICA

Luminol ajuda a desvendar o caso Isabella

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A não ser que você tenha morado em Júpiter nos últimos meses, deve saber alguma coisa (senão, muita coisa) sobre o caso da menina Isabella Nardoni.
Teriam sido mesmo o pai e a madrasta que a mataram? Uma das provas mais fortes contra o casal é o sangue encontrado no carro da família, que comprovaria que a garota já vinha sendo agredida no caminho para casa. Para encontrar o sangue, mesmo que ele não esteja mais visível, os peritos borrifam um líquido na suposta cena do crime -um brilho azulado denuncia: havia sangue ali. Mas, como isso é possível?
O líquido usado pela polícia chama-se luminol, reagente de fórmula C8H7N3O2, que é dissolvido em uma solução aquosa básica em que também há água oxigenada (H2O2). São esses dois compostos que reagem entre si produzindo a luz azul.
Esse tipo de reação é chamada de quimioluminescente. Nela, a energia é liberada na forma de luz -em vez de calor, como é mais comum.
Para você ter uma idéia da sensibilidade desse teste, ele consegue identificar manchas de sangue em proporções mínimas, mesmo em locais muito lisos, como azulejos e pisos cerâmicos, que tenham sido lavados várias vezes e ainda que já tenham se passado alguns anos da data do suposto crime.
Por isso, pôde-se facilmente comprovar que uma fralda, encontrada no apartamento dos Nardoni, teria sido usada para limpar algumas manchas de sangue (de Isabella?), ainda que já tivesse sido lavada.
Por que o brilho azul só aparece onde há traços de sangue? Lembre-se de que a reação que gera a luz acontece entre o luminol e a água oxigenada -só que ela é muito, muito lenta.
Mas pode ser catalisada, isto é, acelerada, por alguns metais de transição. E aí, vestibulando, isso não lhe diz nada? Enquanto você pensa, vamos relembrar como funciona um catalisador.
Para que uma reação química aconteça, as partículas reagentes devem se chocar, certo?
Esse choque, por sua vez, deve apresentar um mínimo de energia para que leve efetivamente à formação dos produtos. Esse mínimo de energia, chamado energia de ativação, é diminuído pela presença de um catalisador. Não entendeu direito? Então veja essa comparação: imagine que você esqueceu as chaves de casa e precisa pular o muro para entrar; só que o muro (a energia de ativação) tem 2,5 metros de altura. Aí você tenta, tenta, e, depois de alguns minutos, finalmente consegue pular e entrar em casa. Se esse muro tivesse só um metro, não seria mais fácil e rápido entrar (só não sei se seria uma casa muito segura...)? Pois, então, a ação de um catalisador é parecida: ele diminui a energia de ativação (a altura do muro) e, assim, acelera o processo.
E aí, lembrou que há íons de ferro II -um metal de transição- na hemoglobina do sangue? Por isso, a reação só é acelerada onde esses íons são encontrados, isto é, onde há traços de sangue. E só ali pode ser vista a luz azul. Brilhante, não é? O resto é com a Justiça.


LUÍS FERNANDO PEREIRA é químico formado pela USP, leciona no curso Intergraus e é co-autor de "Planeta Química" (editora Ática)

lula7@terra.com.br



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