Narrativas do autor mineiro enfocam questões existenciais

Divulgação

A atriz Débora Falabella faz papel masculino na peça

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A peça "O Amor e Outros Estranhos Rumores", encenada pelo Grupo 3 de Teatro, leva ao palco três contos de Murilo Rubião, principal representante brasileiro do realismo fantástico.
Essa corrente literária, cujo precursor foi Kafka, tem na América Latina ilustres representantes, como Garcia Marquez, Borges e Cortázar.
A ótima adaptação que Silvia Gomez fez dos contos "Memórias do Contabilista Pedro Inácio", "Os Três Nomes de Godofredo" e "Bárbara" permitiu transpor para a linguagem dramática o universo narrativo do autor e recriar sua atmosfera onírica.
As três histórias desenvolvem-se num "continuum" e trazem referências de outros contos do escritor. A presença de um personagem mudo com cabeça de coelho que perpassa todos os episódios, para além da referência ao conto "Teleco, o Coelhinho", cujo tema central é a possibilidade infinita de se metamorfosear (seria a identidade algo volátil?), funciona como elo entre as histórias e como ponte entre a realidade e o mundo imaginário.
Nas narrativas de Rubião, os personagens não se surpreendem com o elemento fantástico, como se este instaurasse possibilidades do real, e o leitor logo se engaja nesse universo de ambiguidades. Em contraponto com a realidade, o "mágico" torna-se uma via de reflexão.
Influenciado pelas histórias bíblicas e por Machado de Assis, Rubião enfoca, com seu filtro peculiar, temas como o relativismo dos valores, a busca da identidade, o tédio e a solidão.
A experiência humana é tratada de um ponto de vista privilegiado, instalado numa espécie de plano superposto.