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HISTÓRIA
O livre mercado e as desvantagens repetitivas
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na última coluna começamos a examinar uma antiga tese do liberalismo econômico
(ela remonta ao século 19) que
tem sido amplamente utilizada
para defender o processo de integração dos mercados mundiais segundo as regras do livre
mercado (globalização).
De acordo com esse ponto de
vista, quanto maiores a liberdade comercial e o volume de comércio entre as nações, maiores os benefícios colhidos pelos
participantes do mercado
mundial. A Inglaterra, no período compreendido entre a
década inicial do 19 e a Crise de
1929, e os EUA, nas décadas que
se seguiram ao fim da 2ª Guerra
Mundial, foram as grandes responsáveis pelo patrocínio deste
receituário.
Há, pelo menos, dois aspectos relevantes ao se examinar
essa tese. O primeiro é que os
EUA e os demais países desenvolvidos atualmente pressionam os países pobres a abrir
seus mercados, mas, no passado, quando se encontravam
num estágio de desenvolvimento semelhante ao desses
países, foram muito ativos em
políticas protecionistas e intervencionistas visando a promoção da produção e da sua indústria nacional.
O segundo aspecto foi ressaltado por um grupo de economistas da Cepal (Comissão
Econômica para a América Latina), órgão ligado à ONU, no
decorrer da década de 50. Eles
demonstraram que os preços
dos produtos produzidos pelos
países pobres (geralmente de
origem agrícola) evoluem num
ritmo muito inferior aos preços
dos artigos produzidos pelos
países ricos (bens industrializados). Nessas condições, se forem asseguradas as regras do livre mercado e condições de
igualdade nas trocas internacionais, os países pobres serão
obrigados a exportar uma
quantidade cada vez maior de
produtos para obter a mesma
quantidade de bens, além de
perpetuarem a dependência
dos artigos industrializados
dos países desenvolvidos. Em
síntese, mantidas essas regras,
não há como superar a pobreza
e a subordinação econômica e
tecnológica.
Portanto, na perspectiva liberal, a globalização representa
um mercado no qual agentes
econômicos interagem em condições de igualdade, cada um
oferecendo um produto com
melhor preço e qualidade, mas
obscurece o fato de que, preservadas as regras do livre mercado, as relações de poder entre
as nações tendem a ser mantidas e reproduzidas.
Roberson de Oliveira é professor da Escola Móbile e autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD)
roberson.co@uol.com.br
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