São Paulo, terça-feira, 25 de setembro de 2007
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HISTÓRIA

O livre mercado e as desvantagens repetitivas

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na última coluna começamos a examinar uma antiga tese do liberalismo econômico (ela remonta ao século 19) que tem sido amplamente utilizada para defender o processo de integração dos mercados mundiais segundo as regras do livre mercado (globalização).
De acordo com esse ponto de vista, quanto maiores a liberdade comercial e o volume de comércio entre as nações, maiores os benefícios colhidos pelos participantes do mercado mundial. A Inglaterra, no período compreendido entre a década inicial do 19 e a Crise de 1929, e os EUA, nas décadas que se seguiram ao fim da 2ª Guerra Mundial, foram as grandes responsáveis pelo patrocínio deste receituário.
Há, pelo menos, dois aspectos relevantes ao se examinar essa tese. O primeiro é que os EUA e os demais países desenvolvidos atualmente pressionam os países pobres a abrir seus mercados, mas, no passado, quando se encontravam num estágio de desenvolvimento semelhante ao desses países, foram muito ativos em políticas protecionistas e intervencionistas visando a promoção da produção e da sua indústria nacional.
O segundo aspecto foi ressaltado por um grupo de economistas da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), órgão ligado à ONU, no decorrer da década de 50. Eles demonstraram que os preços dos produtos produzidos pelos países pobres (geralmente de origem agrícola) evoluem num ritmo muito inferior aos preços dos artigos produzidos pelos países ricos (bens industrializados). Nessas condições, se forem asseguradas as regras do livre mercado e condições de igualdade nas trocas internacionais, os países pobres serão obrigados a exportar uma quantidade cada vez maior de produtos para obter a mesma quantidade de bens, além de perpetuarem a dependência dos artigos industrializados dos países desenvolvidos. Em síntese, mantidas essas regras, não há como superar a pobreza e a subordinação econômica e tecnológica.
Portanto, na perspectiva liberal, a globalização representa um mercado no qual agentes econômicos interagem em condições de igualdade, cada um oferecendo um produto com melhor preço e qualidade, mas obscurece o fato de que, preservadas as regras do livre mercado, as relações de poder entre as nações tendem a ser mantidas e reproduzidas.


Roberson de Oliveira é professor da Escola Móbile e autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD)
roberson.co@uol.com.br


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