São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2008
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QUÍMICA

Massa leva troféu de biomassa no GP Brasil

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

E não é que Felipe Massa, piloto brasileiro de F-1, deu um azar tremendo e não foi campeão, mesmo ganhando o GP Brasil deste ano? Graças a essa vitória, ele ao menos levou para casa um belo troféu feito de...
plástico! Calma, não é deboche! Afinal, não se trata de um plástico qualquer, mas um para lá de especial: o polietileno verde, obtido da cana-de-açúcar (biomassa) em vez do petróleo, como seria mais comum. E foi desenhado por ninguém menos que Oscar Niemeyer. Peraí! É possível transformar cana em plástico? Como?
Primeiro, a cana é moída e, em seguida, seu caldo é filtrado, igualzinho ao que se faz nos carrinhos de garapa. Só que, em vez de beber o caldo de cana, os cientistas o aquecem de modo a evaporar a água; logo se forma um líquido rico em açúcar, viscoso e escuro: o melado. Agora é a vez do ataque das leveduras, mais conhecidas como fermento biológico. Inicialmente, elas quebram as moléculas de sacarose em outras duas: a glicose e a frutose.
Em seguida, as mesmas leveduras transformam açúcar em álcool. Nas usinas produtoras de álcool etílico (C2H5OH), isso acontece em tanques de fermentação, onde inclusive se vê o caldo "ferver", conseqüência da produção de gás carbônico.
Depois que as leveduras sintetizaram o álcool etílico, basta separá-lo do resto do material (o mosto fermentado) por meio de destilação. Em seguida, com auxílio de aquecimento e um forte agente desidratante (o ácido sulfúrico), o álcool é transformado em eteno (H2C=CH2), também chamado de etileno. Note que essa reação chama-se desidratação intramolecular, pois nela uma molécula de água é extraída de "dentro" da molécula do álcool.
O gás etileno formado, por sua vez, submetido a condições adequadas (pressão e temperatura altas), sofre quebra de uma das ligações que compõem a dupla C=C. Como resultado, para compensar a ligação perdida, os "resíduos" de H2C-CH2 começam a se unir, formando uma longa molécula de fórmula.
Esse tipo de molécula em que um determinado grupo se repete muitas vezes é chamado de polímero. Nesse caso, o tal polímero é o polietileno, plástico (termo que indica que o polímero pode ser moldado na forma desejada) usado em sacos de lixo, garrafas de água e, agora, até em troféus! Ufa, chegamos lá! Como a matéria-prima desse polímero é a biomassa vegetal (a cana), ele é chamado de polietileno verde. Grande coisa, você pode estar pensando... E é mesmo! O plástico verde, além de utilizar matéria-prima renovável, auxilia na retirada de CO2 da atmosfera ao longo do seu ciclo completo de vida, do cultivo da cana à reciclagem do produto, contribuindo para a redução do aquecimento global. E tudo com tecnologia brasileira. Orgulho para os químicos canarinhos e para o Massa, que ganhou, mas não levou...
Desta vez!

LUÍS FERNANDO PEREIRA é químico formado pela USP, leciona no curso Intergraus e é co-autor de "Planeta Química" (editora Ática)

lula7@terra.com.br



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