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QUÍMICA
Massa leva troféu de biomassa no GP Brasil
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
E não é que Felipe Massa, piloto brasileiro de F-1, deu um
azar tremendo e não foi campeão, mesmo ganhando o GP
Brasil deste ano? Graças a essa
vitória, ele ao menos levou para
casa um belo troféu feito de...
plástico! Calma, não é deboche!
Afinal, não se trata de um plástico qualquer, mas um para lá
de especial: o polietileno verde,
obtido da cana-de-açúcar (biomassa) em vez do petróleo, como seria mais comum. E foi desenhado por ninguém menos
que Oscar Niemeyer. Peraí! É
possível transformar cana em
plástico? Como?
Primeiro, a cana é moída e,
em seguida, seu caldo é filtrado,
igualzinho ao que se faz nos
carrinhos de garapa. Só que, em
vez de beber o caldo de cana, os
cientistas o aquecem de modo a
evaporar a água; logo se forma
um líquido rico em açúcar, viscoso e escuro: o melado. Agora
é a vez do ataque das leveduras,
mais conhecidas como fermento biológico. Inicialmente, elas
quebram as moléculas de sacarose em outras duas: a glicose e
a frutose.
Em seguida, as mesmas leveduras transformam açúcar em
álcool.
Nas usinas produtoras de álcool etílico (C2H5OH), isso
acontece em tanques de fermentação, onde inclusive se vê
o caldo "ferver", conseqüência
da produção de gás carbônico.
Depois que as leveduras sintetizaram o álcool etílico, basta
separá-lo do resto do material
(o mosto fermentado) por
meio de destilação. Em seguida, com auxílio de aquecimento e um forte agente desidratante (o ácido sulfúrico), o álcool é transformado em eteno
(H2C=CH2), também chamado
de etileno. Note que essa reação chama-se desidratação intramolecular, pois nela uma
molécula de água é extraída de
"dentro" da molécula do álcool.
O gás etileno formado, por
sua vez, submetido a condições
adequadas (pressão e temperatura altas), sofre quebra de uma
das ligações que compõem a dupla C=C. Como resultado, para
compensar a ligação perdida, os
"resíduos" de H2C-CH2 começam a se unir, formando uma
longa molécula de fórmula.
Esse tipo de molécula em
que um determinado grupo se
repete muitas vezes é chamado
de polímero. Nesse caso, o tal
polímero é o polietileno, plástico (termo que indica que o
polímero pode ser moldado na
forma desejada) usado em sacos de lixo, garrafas de água e,
agora, até em troféus! Ufa, chegamos lá!
Como a matéria-prima desse
polímero é a biomassa vegetal
(a cana), ele é chamado de polietileno verde. Grande coisa,
você pode estar pensando... E é
mesmo! O plástico verde, além
de utilizar matéria-prima renovável, auxilia na retirada de
CO2 da atmosfera ao longo do
seu ciclo completo de vida, do
cultivo da cana à reciclagem do
produto, contribuindo para a
redução do aquecimento global. E tudo com tecnologia brasileira. Orgulho para os químicos canarinhos e para o Massa,
que ganhou, mas não levou...
Desta vez!
LUÍS FERNANDO PEREIRA é químico formado
pela USP, leciona no curso Intergraus e é co-autor de "Planeta Química" (editora Ática)
lula7@terra.com.br
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