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      São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003
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QUÍMICA

Anticongelantes: úteis, mas perigosos

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Lá fora, um frio tremendo. Dez graus abaixo de zero. Você olha para o seu carro "dormindo" na rua e pensa: com esse frio, é capaz até de a água do radiador congelar. Será? É fato que a água congela a zero grau. Assim, se em um dia de inverno a temperatura ficar negativa, a água do radiador pode, sim, congelar-se. Mas só se você deixar. Quer saber por quê?
Primeiro, é importante saber que, quando a água congela, ela expande, isto é, aumenta de volume. Então, se a água do radiador congelar, ele estoura.
É aí que a química entra em ação. É só colocar etileno-glicol (OH-CH2-CH2-OH), um anticongelante, na água do radiador que o problema está resolvido. Adicionado à água, ele atrai fortemente suas moléculas. Isso acontece porque o etileno-glicol (EG) carrega dois grupos OH. Em cada um deles, há uma carga negativa no O e uma positiva no H. Essas mesmas cargas aparecem na molécula de H2O. Resultado: surgem atrações elétricas entre esses dois tipos de molécula que dificultam a organização dos cristais de gelo. Sabe o que acontece? A água só congela a -37C!
Mas há um porém. O EG é muito tóxico. Se vazar de um carro e, por exemplo, um gato lambê-lo, é morte na certa. Às vezes, isso acontece com crianças. Esse líquido é verde, bonito. As crianças, curiosas, acabam tomando um pouco e se contaminando.
A ingestão desse anticongelante é perigosa porque, no corpo humano, ele sofre uma reação de oxidação que o transforma em ácido oxálico (C2H2O4). Aí é que começam os problemas. O ânion oxalato (C2O42-) combina-se com os íons cálcio do sangue, formando um precipitado (uma substância insolúvel identificada pela flecha °): °. Isso leva a uma diminuição dos níveis de cálcio abaixo do mínimo necessário para o bom funcionamento do organismo, o que causa a morte. Mesmo em doses não letais, os cristais formados do sal oxalato de cálcio (CaC2O4) podem interromper o fluxo sangüíneo, causando lesões cerebrais e renais. Aliás, é esse sal o principal constituinte das pedras nos rins.
Mas a química tem a solução para mais esse problema. Recentemente, o EG vem sendo substituído pelo seu "parente" propileno-glicol (CH3-CHOH-CH2OH), também dono de propriedades anticongelantes, mas inofensivo aos seres humanos. Sempre com uma solução na manga. Essa é a química!


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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