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SOB PRESSÃO
Nota de simulado gera desgastes
Muitos alunos buscam na comparação de desempenho uma forma de auto-afirmação
Bruno Miranda/Folha Imagem
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Da esq. para a dir.: Renan, Alexander, Vinícius e Rodrigo que fazem a turma de exatas no cursinho |
SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL
"Sua dúvida é minha vaga",
mostra a estampa numa camiseta de vestibulando. O candidato mais inseguro treme ao
encarar dizeres como estes no
dia dos exames. Mas não é só
durante as provas que isso
acontece: já na época dos simulados alguns estudantes sentem o estresse da competição
com os próprios colegas. A saída? Autocontrole.
"Odeio que me perguntem
quantos pontos fiz no simulado. Muitos ficam querendo
comparar nota, mas eu não falo
sobre isso", afirma Nicolle Hofer Tebbe, 20, que está no pré-vestibular há três anos em busca de uma vaga em medicina.
"Tem gente com menos anos
no cursinho que se coloca como
superior porque tirou uma nota maior no simulado. Só que o
tempo de cursinho não tem nada a ver com o desempenho no
vestibular. Tem gente boa que
não passa porque fica nervosa
durante a prova", completa.
Segundo a psicóloga Mariita
Bertassoni da Silva, do UnicenP (Centro Universitário Positivo) e da PUC do Paraná, alguns jovens até utilizam conscientemente a nota dos simulados como forma de desestabilizar o oponente. "Mas a proporção de quem faz isso sem saber,
só para se auto-afirmar, é
maior. É um desejo grande de
superar o vestibular. Bem
maior do que o de prejudicar o
colega."
"A nossa intenção com o simulado é fazer com que o aluno
tente descobrir onde está fraco,
para melhorar e se desenvolver. Dependendo da estrutura
emocional e familiar, a comparação com os outros pode fazer
mal", diz Vera Guimarães, psicóloga do Objetivo.
A estudante Yara Dias, 19,
que está no segundo ano de
cursinho para medicina, revela
que, no ano passado, "entregou
os pontos" depois de maus resultados nas avaliações. "Quando chegou setembro, bateu um
desespero", diz.
No entanto, mais experiente,
ela revela que até "gambiarra"
existe para tirar uma pontuação melhor. "Muitos fazem a
prova depois que já saiu o gabarito." Com isso, os estudantes
conseguem se posicionar em
salas melhores e mostrar para
os pais uma nota que não é exatamente a que mereciam.
Mesmo nos colégios a competição aparece. De acordo com
Osmar Antônio Ferraz, coordenador de vestibular do Bandeirantes, é no segundo e no terceiro ano do ensino médio que
a disputa se acirra. "O grande
fator é a carreira escolhida. As
turmas de biológicas, devido à
ansiedade, se preocupam em
comparar o desempenho com o
outro. Às vezes, até dissimulam."
Estratégias
"Tudo é questão de terrorismo", ironiza Fernando Martos
Martins, 17. Na parede de sua
sala de biológicas do cursinho,
ele e os colegas pregam o número de dias que faltam para a
Fuvest. "A galera que é mais
fraca psicologicamente pira."
No cursinho, outra brincadeira que beira a tática de guerra é escrever nas portas de banheiros ou nas pranchetas de
estudo frases como "Enquanto
você lê esta mensagem, tem um
concorrente estudando".
Para o coordenador do Etapa, Carlos Eduardo Bindi, a
competição, dependendo do
nível, pode se tornar até doentia. "O que o candidato tem de
fazer é potencializar seu próprio desempenho. Pensar no
outro não resulta em nada."
O coordenador do Anglo, Ernesto Birner, diz que há duas
formas de passar pela fase da
concorrência acirrada. "Uma
delas é deixando afetar a auto-estima. A outra é utilizar a experiência para crescer." Ele
afirma ainda que, quando o
candidato erra uma questão no
simulado, tem de aprender
com o erro. Só assim ele se iguala a quem acertou.
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