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Vale a pena saber/ QUÍMICA
Leite indigesto por culpa da lactose
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Água, lactose, gordura, proteínas e minerais são os componentes mais comuns do leite de
vaca. Ou deveriam ser, já que
soda cáustica e água oxigenada
apareceram como "novidade"
no leite brasileiro em 2007.
É verdade que um copo de
leite, ainda que não "batizado",
pode ser indigesto para muitos,
culpa da lactose. Essa terminação "ose" identifica os açúcares,
como a sacarose, açúcar caseiro. Já o leite é rico em outro
açúcar: a lactose.
Como a maior parte dos nutrientes, a lactose, um dissacarídeo, apresenta-se na forma de
moléculas grandes, não absorvidas pelo intestino; para isso,
ela deve ser reduzida a unidades menores -é aí que entra a
enzima lactase. Quando crianças, temos essa enzima de sobra. Mas, ao longo do tempo,
ela vai rareando. Por isso, na fase adulta, tomar um copo de leite pode causar, digamos, alguma inconveniência social...
Quando esse açúcar chega ao
nosso intestino sem ser "quebrado" pela lactase em dois
açúcares menores, glicose e galactose, que seriam facilmente
absorvidos, vira alimento para
microorganismos que, em troca, produzem gases e irritam o
intestino produzindo ácido láctico. Agora você já sabe a razão
daquele "desconforto" depois
de tomar leite...
O leite fresco logo fica repleto de bactérias que degradam a
lactose para obter energia; nesse processo, assim como fazem
em nossos intestinos, excretam
ácido láctico. A alta presença de
ácido no leite é sinal de atividade microbiana, isto é, está impróprio para consumo. Qualquer medição de pH pode detectar o problema, a menos que
uma base seja adicionada, o que
foi feito em algumas cooperativas em Minas Gerais. A escolhida foi a perigosíssima soda
cáustica (NaOH), até então conhecida por sua importância na
produção do sabão e, tóxica como é, sem relação com a indústria do leite. Para piorar, essas
cooperativas ainda adicionavam água oxigenada (a mesma
que usamos para desinfetar
machucados!) ao leite, de modo
a eliminar os microorganismos.
Assim, aumentava-se a data de
"validade" e o volume dessa bebida agora levemente parecida
com o leite.
Essa história me fez lembrar
de um bordão do personagem
Maxwell Smart, da série "Agente 86", que se aplica direitinho
ao "gênio" que elaborou essa
receita láctea: "Se pelo menos
ele usasse sua inteligência para
o bem, e não para o mal".
LUÍS FERNANDO PEREIRA é químico formado
pela USP e leciona no Curso Intergraus
lula7@terra.com.br
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