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      São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2003
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ALTA TENSÃO

ESTRESSE BAIXA IMUNIDADE, O QUE DEIXA CANDIDATO MAIS SUSCETÍVEL A TER PROBLEMAS

"Doenças de vestibulando" podem influenciar na preparação para as provas

ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se não bastasse os pais pressionarem por um bom desempenho, você ter de estudar o dia inteiro e não entender várias partes da matéria, sentir que o vestibular está se aproximando e estar em dúvida sobre qual carreira seguir, você ainda contrai uma gripe terrível, que o obriga a faltar uma semana no cursinho. Mais do que uma fatalidade, você provavelmente adoeceu por causa de todo o resto que está sentindo.
Mesmo sendo causada por um vírus, a gripe encontra um terreno mais fértil em um estudante estressado do que em um que lida de forma mais tranqüila com os mesmos eventos. Pesquisas apontam que o estresse pode influir diretamente na saúde das pessoas.
O estresse que dura mais de alguns dias provoca modificações hormonais (leia texto ao lado), que atuam em várias partes do corpo. O principal hormônio que sofre alterações com o estresse é o chamado cortisol, produzido nas glândulas supra-renais.
Um dos impactos mais importantes do cortisol é a diminuição da imunidade, facilitando infecções, resfriados, gripes e outras doenças. "A herpes labial, por exemplo, pode ficar latente durante algum tempo no corpo da pessoa e só se manifestar quando ela está com a imunidade baixa", disse Telma Spera de Andrade, psicobióloga da Unesp.
Para complicar a situação, o vestibulando, já com a imunidade baixa, pode ser obrigado a assistir aulas em uma sala com mais de cem alunos, sem janelas e com o ar-condicionado ligado.
Com tudo isso, no ano passado, Juliana Scagliusi Zamarion, 19, pegou uma gripe que a deixou uma semana sem ir ao cursinho. "A gente fica o dia todo no ar condicionado, todo mundo respirando o mesmo ar. Depois fiquei com aquela sensação de não ter sido aprovada por causa daquela semana." Além disso, por volta de agosto, ela começou a ter gastrite, que, em fevereiro, após as provas, não deu mais sinal. "Tenho certeza de que foi estresse. Nunca tinha tido gastrite e depois passou. Em agosto, começam as inscrições, os professores falam de revisão, o nervosismo aumenta."
Viviane Lopes Pereira, 18, candidata de relações internacionais, pegou uma infecção de garganta no começo deste mês que acabou passando para o ouvido, obrigando-a a tomar antibióticos fortes. Além disso, ela sofre diariamente com a gastrite. "No final do dia, a dor é insuportável. Não consigo nem respirar direito", disse ela.
A gastrite, segundo o gastroenterologista da Unicamp Antonio Frederico Magalhães, é comum em pessoas estressadas porque há uma maior secreção dos ácidos responsáveis pela digestão, além de mudanças nas contrações responsáveis pela mistura dos alimentos no estômago .
A maioria dos problemas causados pelo estresse, segundo o professor de endocrinologia da USP Walter Bloise, tende a passar quando o indivíduo consegue superar o nervosismo. Algumas doenças, entretanto, podem ser mais complicadas de serem tratadas, como o hipertireoidismo.
"Quando a pessoa fica estressada, uma série de hormônios entram em jogo e deprimem a imunidade e, com isso, fazem com que apareçam respostas anômalas, desenvolvendo anticorpos contra o próprio indivíduo. Um deles faz aparecer o hipertireoidismo." O ganho de peso, segundo ele, acontece mais devido a um efeito psicológico do que hormonal. "O que pode ocorrer é a pessoa estressada comer mais, que é uma forma de autogratificação."


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