São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2008
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DEU NA MÍDIA

Bolívia, Unasul e a democracia na América do Sul

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Reunidos em setembro no Palácio de La Moneda, em Santiago, no Chile, os 12 presidentes da América do Sul membros da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) reafirmaram seu compromisso com a democracia e declararam que não aceitariam um golpe de Estado contra o governo Evo Morales, presidente da Bolívia.
Como assinalou Michelle Bachelet, presidente do Chile, evocando os acontecimentos que levaram à deposição do presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, "as nações da América do Sul advertem que seus respectivos governos rechaçam energicamente e não reconhecerão nenhuma situação que implique uma tentativa de golpe civil ou de ruptura da ordem institucional". Mais do que um passo no aprofundamento da integração política e econômica dos países da região, o encontro de Santiago conferiu à União recém-criada um peso político importante ao se posicionar com firmeza em relação à crise boliviana.
O projeto para a criação de um órgão de integração regional foi apresentado inicialmente numa reunião realizada em Cuzco, no Peru, em 2004, quando surgiu a Casa (Comunidade Sul-Americana de Nações).
Na Reunião Energética da América do Sul, na Venezuela, em 2007, o nome foi mudado para União das Nações Sul-Americanas. Finalmente, no encontro de Brasília, em maio último, foi oficializada a criação da Unasul.
Neste início do século 21, ocorreram transformações importantes no cenário político da América do Sul. De um lado, a ascensão de governos de esquerda ou mais progressistas, comprometidos com uma agenda social de maior envergadura (caso dos programas sociais do Brasil e da Venezuela).
Governos que, no âmbito da América, buscam estabelecer novos parâmetros nas relações com os EUA, uma postura de maior autonomia na construção de uma agenda de interesses recíprocos baseada em negociações bilaterais. Governantes que se recusam a se submeter aos interesses das potências, assumindo um posicionamento mais atuante nos organismos multilaterais, como ONU e OMC.
Sob o signo desse novo paradigma, o que temos assistido na região, especificamente no caso da Bolívia, é à busca da superação das divergências através do diálogo e da negociação. O posicionamento da Unasul, recusando com veemência um desfecho que não estivesse dentro do campo democrático, se constituiu num marco institucional, uma referência sob a qual, espera-se, seja possível escrever uma nova história no sul da América.


ROBERTO CANDELORI é professor do Colégio Móbile
rcandelori@uol.com.br


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