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QUÍMICA
Das beterrabas para as varas de pescar
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Domingão de pescaria! Nesse calorão, pode ser uma boa. Depois, pegando ou não algum peixe, você, como um bom pescador,
pode sair por aí contando que pegou um pintado de 40 quilos! Se
perguntarem: "Mas a linha não
quebrou?". Você responde: "Que
nada, a minha linha é especial,
tem pontes de hidrogênio!". É
verdade que vão achá-lo um pouco estranho... Mas o que você disse também é verdade: o náilon
tem mesmo pontes de hidrogênio, por isso ele é tão forte.
A história do náilon começa nos
anos 30, quando o grupo do químico W. Carothers, das indústrias
Du Pont, procurava um polímero
artificial que substituísse a seda.
Só que vários deles já haviam sido
produzidos e rejeitados, inclusive
o próprio náilon, que estava abandonado em um canto do laboratório. Até que, num belo dia, os
ajudantes de Carothers começaram a brincar de esticar o náilon
até formar um fio bem fininho.
Surpresa: esse fio era muito resistente! Pronto, estava criada a primeira seda artificial. Eles, por acaso, tinham descoberto o segredo:
esticar o náilon a frio.
O que acontece é que, na estrutura desse polímero, existem grupos N-H e C=O. Como você sabe,
os átomos de N e de O são muito
eletronegativos, isto é, atraem elétrons. Isso faz com que eles fiquem carregados negativamente,
enquanto os átomos de C e H fiquem positivos. No estiramento a
frio, as longas cadeias do polímero são alinhadas de modo que a
carga negativa do O de uma delas
atraia a positiva do H da cadeia vizinha. Essa intensa força de atração, que "cola" as cadeias, é a tal
ponte de hidrogênio. Como são
inúmeras pontes de hidrogênio
por fio, o resultado é uma tremenda resistência à tração!
De cara, o náilon foi um sucesso, e ele está aí até hoje. Aliás, você
já percebeu que, às vezes, a gente
toma pequenos choques ao encostar na lataria de um carro? Culpa de quem? Das roupas de náilon
(e de mais alguns fatores, é verdade). Quando elas são atritadas no
estofamento, esses ladrões de elétrons -os átomos de N e de O-
colaboram para eletrizar a sua
roupa. Aí é só encostar num metal
e... choque!
E o que as beterrabas do título
têm a ver com essa história? Para
fazer o náilon, utiliza-se uma
substância chamada ácido hexanodióico, que, adivinha só, ajuda
a dar o sabor das beterrabas! Essa
química é mesmo um barato!
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail:
lula5@ig.com.br
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