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QUÍMICA
Quando o próprio sangue pode matar
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Se você está vivo (e deve estar,
porque está lendo este texto),
agradeça ao pH do seu sangue! Isso mesmo! No caso do ser humano, o pH do sangue deve ficar entre 7,35 e 7,45. Uma alteração de
apenas 0,4 unidade pode ser fatal!
Assim, os médicos devem ter na
manga uma solução rápida que
corrija possíveis variações de pH.
E aí, mais uma vez, a química entra em campo.
No sangue, há o seguinte equilíbrio químico : CO2 +
H2OH+ + HCO3-. Quando alguém, numa crise de ansiedade ou de histeria, respira de modo
ofegante, os pulmões perdem
muito CO2. O equilíbrio, então, é
deslocado para a esquerda, consumindo os íons H+. Isso pode fazer
com que o pH suba a aproximadamente 7,7 em poucos minutos (alcalemia sangüínea). Nesses casos,
os médicos podem até dar um calmante para que a respiração volte
ao normal. Mas, quando nem isso
funciona, é necessária uma intervenção radical: injetar uma solução ácida no sangue do paciente.
Mas que ácido seria esse? Sulfúrico? De jeito nenhum, pois poderia matar. O que se usa é uma solução salina de cloreto de amônio
(NH4Cl). Mas como um sal pode
gerar acidez?
Na água pura, além das moléculas de H2O, existem os íons H+
(responsáveis pela acidez) e OH-
(responsáveis pela alcalinidade)
na mesma concentração. Ao dissolvermos o NH4Cl em água, o íon
NH4+, por ser derivado de uma base fraca (NH4OH), "captura" os
íons OH-. Assim, acaba havendo
uma sobra de H+ na solução, que
se torna ácida.
E veja que coincidência: é também por causa desse mesmo sal, o
NH4Cl, que as pilhas comuns duram menos que as alcalinas! Em
ambas, o zinco metálico é o pólo
negativo, isto é, o fornecedor dos
elétrons que geram a corrente elétrica. Só que o zinco é atacado por
soluções ácidas e, na pilha comum, há uma pasta com... NH4Cl!
O meio ácido gerado por ele corrói o zinco e faz a pilha render menos.
Nas alcalinas, o NH4Cl é substituído por uma solução alcalina (daí o
nome) de hidróxido de potássio (KOH). O zinco fica livre do ataque ácido e a pilha dura bem mais!
Mas vamos voltar ao tema inicial: pH do sangue. Quando a respiração é deficiente -em casos de pneumonia ou de asma, por exemplo, o sangue fica mais ácido
(acidemia). Nesse caso, a solução ministrada ao paciente é a de carbonato de sódio (Na2CO3). Agora é o íon CO32-, derivado do ácido fraco H2CO3, que "captura" os H+, produzindo uma solução alcalina que combate a acidez.
Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna.
Email: lula5@ig.com.br
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