São Paulo, quinta, 1 de janeiro de 1998.




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DISCOS LANÇAMENTOS
Funarte recupera Cartola, Capiba e Geraldo Pereira

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

O projeto de recuperação "Acervo Funarte da Música Brasileira", operado pela Funarte, pela gravadora Atração e pelo Instituto Cultural Itaú, chega à segunda fornada de lançamentos com dez CDs dedicados a artistas como Cartola, Geraldo Pereira, Capiba, Braguinha e João Pernambuco.
São discos lançados originalmente em vinil pela Funarte, que agora, no pós-Collor, ganham edição em CD.
O carro-chefe é "Entre Amigos", gravado em 84, que revela 11 canções de um Cartola semi-anônimo (pois antes de se tornar conhecido, nos 60, já trabalhava com samba havia 30 anos).
De Capiba, morto ontem aos 93 anos (leia sobre sua morte à pág. 4-8) -um dos mais importantes compositores pernambucanos, hoje um tanto subvalorizado-, o CD homônimo re-recupera criações essenciais como "Maria Bethânia" (canção-pretexto para Caetano Veloso batizar a irmã recém-nascida) e "É de Amargar".
Um terceiro CD, interpretado por Antonio Adolfo e Nó em Pingo d'Água, vem enriquecer o momento de memória ora dedicado a João Pernambuco (um álbum do pesquisador e músico Leandro Carvalho, dedicado a releituras de obras do violeiro, acaba de ser lançado).
Também de pura memória é o volume dedicado ao flautista Patápio Silva, que relê sua obra via Altamiro Carrilho, Luizinho Eça e Galo Preto.
Ainda no terreno instrumental, "Dois Pianos" (84) reúne o casal Francisco e Josephina Mignone, e "Violão" (80), apresenta a arte de Sérgio Assad.
O mérito, muitas vezes, é mais documental que necessariamente artístico -as gravações são irregulares. Exemplares da inconstância do pacote são os tomos dedicados a Geraldo Pereira e Custódio Mesquita.
No primeiro, o cantor Pedrinho Rodrigues (morto em 96) tem de duelar com a voz frágil de Bebel Gilberto, que mina a potência própria de temas como "Sem Compromisso" e "Pisei num Despacho".
Também Custódio Mesquita, papa da música conservadora brasileira, padece da oscilação. Se Marlene depura síncopes como "Se a Lua Contasse" e "Vai Meu Samba", Ney Matogrosso e Amélia Rabello não suportam o pique em "Quem É?" (dueto de Ney e Marlene) ou "Nada Além" (Amélia).
Tal se repete em "Yes, Nós Temos Braguinha", em que as antológicas marchinhas do autor são maltratadas pelo registro em coral do grupo Garganta Profunda, secundado em alguns momentos por Eduardo Dusek e pelo próprio Braguinha.
Enfim, há o segundo volume do "Documento Sonoro do Folclore Brasileiro", com registros in loco de ritmos do Pará, Maranhão, Ceará e Rio de Janeiro.
No todo, a série, às vezes de assimilação custosa, continua endereçada a pesquisadores e estudiosos -e, mesmo entre eles, só aos mais compenetrados.

Série: Acervo Funarte da Música Brasileira (dez títulos) Lançamento: Atração Quanto: R$ 18 (cada CD, em média)


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