São Paulo, domingo, 01 de janeiro de 2006

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MELHOROU

Sem maquiagem, 4º ano desdenha do correto

DA REPORTAGEM LOCAL

Torturador , assassino, ex-inimigo do Estado, ex-viciado e com problemas em relacionamentos. Não poderia ter herói mais difícil de seduzir o espectador, mas é nessa soma de (anti)valores que reside o charme de Jack Bauer (Kiefer Sutherland).
Com a família longe (sua filha e o namorado dela se mudam para Valência após as aventuras da terceira temporada), Bauer se envolve com a filha do chefe (o secretário de Defesa dos EUA), arruma um emprego em que trabalha menos e sai da linha de tiro. Ou seja, não poderia estar mais infeliz.
O quarto ano da série ganha pontos ao desistir do politicamente correto das temporadas anteriores, em que os malvados não tinham proveniência definida e matavam só por dinheiro. Agora, a ação se concentra em um vilão e no ódio político-religioso. O problema a solucionar: como desmantelar várias células terroristas infiltradas nos EUA há anos e sem nenhum registro criminal. Exatamente como foi no 11 de Setembro, e é aí que está o lado mais emocionante de "24 Horas".
O preconceito existe no mundo real. As bombas atômicas, perseguidas por pessoas determinadas a morrer por sua religião se assim for preciso, também. Qualquer ambiente de trabalho, que lide com combate ao terrorismo ou não, está povoado de traições e disputa de poder. E os norte-americanos falham na proteção de seu próprio território. A vida segue sendo assim, e não é porque falamos de ficção que isso vai mudar. Aliás, é melhor que não mude.
Embora alguns personagens se percam pelo caminho, o quarto "24 Horas" mostra a força do primeiro ano, em que o tempo real causou sensação para o público, e uma coragem renovada, em que os abusos cometidos no mundo atual não são maquiados por uma Hollywood de fantasia.
Algumas pessoas se sentem mais confortáveis perto do inferno. Jack Bauer é uma delas. E não há nada mais próximo disso hoje em dia do que viver na terra de George W. Bush. (LVR)


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