São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2008

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Festival Sundance trará histórias pessoais e tramas de sobrevivência

Obras de estréia de novos diretores são destaque em mostra independente

DAVID M. HALBFINGER
DO "NEW YORK TIMES"

Histórias pessoais, soluções individuais para problemas sociais e uma vertente inesperada de otimismo vão tomar o lugar das diatribes, das exposições e do clima de mau agouro na edição 2008 do Festival de Cinema Sundance, em janeiro. Entre os 64 filmes narrativos e documentários da competição do festival, 29 são os primeiros longas-metragens de diretores novatos que se expressam numa grande variedade de vozes e pontos de vista, lembrando a diversidade da blogosfera.
Os organizadores dizem que o festival pode proporcionar uma injeção muito necessária de surpresa -mas não necessariamente de rentabilidade- num setor do cinema independente prejudicado pelos resultados desanimadores das bilheterias deste ano. "Existe neste momento um certo clima de mal-estar na arena independente", comentou Geoffrey Gilmore, diretor de longa data do festival, que acontece entre 17 e 27 de janeiro em Park City, nos EUA. "Talvez o público esteja encontrando filmes que o deixam exausto, ou talvez ache os filmes demasiado familiares, atendendo demais às expectativas. Este é um festival cujos filmes, independentemente de chegarem ao mercado mais amplo, em muitos casos farão você sair do cinema e querer falar sobre eles."
Essa vitalidade, segundo Gilmore, vem dos lugares mais inesperados. Sundance, que é ao mesmo tempo uma vitrine da maior importância do cinema americano e bazar livre para executivos do cinema, procura enfrentar o dilúvio anual de filmes, examinando dezenas de possíveis trabalhos candidatos ao longo do ano. Mas, segundo Gilmore, mais de metade dos filmes escolhidos para serem mostrados em 2008 saiu "da pilha". Ou seja, esses filmes não se beneficiaram de divulgação antecipada pela rede de agentes de talentos e vendas, diretores e outros "olheiros".
A política sempre permeia os documentários em Sundance, e os cinéfilos de gorro de lã em Park City poderão ver filmes sobre o sigilo governamental, a dívida nacional e o problema da escassez de água. Mas a edição deste ano é muito marcada por temas políticos tratados em termos humanos. Em "Traces of the Trade: A Story From the Deep North", de Katrina Browne, a diretora explora a história do envolvimento de sua família, da Nova Inglaterra, com o tráfico negreiro. E Christopher Bell, em "Bigger, Stronger, Faster*", trata do consumo de esteróides por seus irmãos.
Os filmes que refletem "um senso de sobrevivência, de avançar em nosso mundo", nas palavras de Gilmore, incluem "Greatest Silence: Rape in the Congo", de Lisa F. Jackson, na qual a diretora entrevista vítimas de estupro. Em "Nerakhoon (the Betrayal)", de Ellen Kuras, um jovem do Laos encara os efeitos devastadores do trabalho que seu pai fez para a CIA na guerra do Vietnã, escolhendo alvos para bombas.


Tradução de CLARA ALLAIN


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