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Gravando com violão depois de 26 anos, músico teve de ser convencido a fazer projeto
Jorge Ben Jor - acústico como sempre
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
"Este ainda não é um "Acústico"
de aposentado, embora eu esteja
tocando no banquinho", avisou o
carioca Jorge Ben Jor, 59, logo no
início da gravação de seu "Acústico MTV", anteontem, no Rio.
As palavras, que dificilmente
devem constar do programa da
MTV ou do CD e do DVD que a
Universal deve lançar em maio,
mostram turbulências que cruzaram a negociação para a realização de mais um "Acústico MTV".
No ano passado, Jorge afirmou
à Folha que discos acústicos parecem "fim de carreira". Precisou
da ação de um pool formado por
seu empresário, a Universal e a
MTV para ser convencido a mudar de idéia e aderir à fórmula ultracomercial, que desta vez aponta para um artista apaixonado pela guitarra, que havia 26 anos não
gravava com violão, o instrumento com o qual se notabilizou a partir de 1963, ainda como Jorge Ben.
O recrutado pelo pool para readaptar Jorge ao violão foi o diretor
musical Paulinho Tapajós, parceiro constante nos discos de auge
do Ben violonista, na primeira
metade da década de 70.
"O cara que tem mais cara de
acústico no Brasil é Jorge. Ele iniciou essa pegada de violão com
dedo de paleta, ou seja, do violão
com cara de guitarra", defende
Tapajós. "Só não sei se ele concorda. Hoje o acústico é mais atual
que o eletrônico, mas para nossa
geração é difícil entender."
Nos bastidores se sabe que Jorge
se debate com o formato (e com
regravações de eterno retorno, de
"Taj Mahal" pela décima vez e de
"Mas que Nada" e "País Tropical"
pela sexta, por exemplo) e dá a entender que este não é o disco que
queria fazer agora. Anteontem ele
já se dizia feliz, chegando a comemorar o resultado de algumas novas versões. Mesmo assim, a fase
final de ensaios foi tumultuada.
A participação do Admiral Jorge V, seu "power quinteto" dos
anos 70 especialmente reunido
para o "Acústico", foi cortada pela
metade, para que entrasse de volta a Banda do Zé Pretinho, com
ele desde 78. O desvio de rota seria
iniciativa do próprio Jorge, para
sufocar a "ingratidão" de ele dispensar a banda fiel num momento de potencial sucesso comercial.
Polido com a Admiral Jorge V,
ele definiu a banda como seu "primeiro conjunto", desconsiderando o "combo" de samba-jazz que
o acompanhou no início dos 60 e
a fase (acústica) de transição com
o Trio Mocotó, entre 69 e 71.
Outro reencontro histórico
marca seu "Acústico MTV". Os
arranjos de cordas (há uma orquestra delas no palco) e metais
ficaram sob o cuidado de Lincoln
Olivetti, artífice da black music à
moda Tim Maia que foi tachado
de pasteurizador quando, nos 80,
passou a "sintetizar" discos de dez
entre dez medalhões da MPB.
"Sugerimos Lincoln porque é o
maestro que tem a linguagem
mais próxima do que era o sonho
original de Jorge. Ele queria uma
orquestra sinfônica, mas não foi
possível", diz o diretor artístico da
Universal, Max Pierre.
Olivetti comemora discretamente: "Curti fazer. Jorge tem
uma maneira criativa e espetacular de fazer música. A cada vez
que toca, improvisa. Falo com a
orquestra o tempo todo, para dar
instruções conforme o que ele decide fazer na hora".
O jornalista Pedro Alexandre Sanches
viajou a convite da gravadora Universal
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