São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2002

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Gravando com violão depois de 26 anos, músico teve de ser convencido a fazer projeto

Jorge Ben Jor - acústico como sempre

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

"Este ainda não é um "Acústico" de aposentado, embora eu esteja tocando no banquinho", avisou o carioca Jorge Ben Jor, 59, logo no início da gravação de seu "Acústico MTV", anteontem, no Rio.
As palavras, que dificilmente devem constar do programa da MTV ou do CD e do DVD que a Universal deve lançar em maio, mostram turbulências que cruzaram a negociação para a realização de mais um "Acústico MTV".
No ano passado, Jorge afirmou à Folha que discos acústicos parecem "fim de carreira". Precisou da ação de um pool formado por seu empresário, a Universal e a MTV para ser convencido a mudar de idéia e aderir à fórmula ultracomercial, que desta vez aponta para um artista apaixonado pela guitarra, que havia 26 anos não gravava com violão, o instrumento com o qual se notabilizou a partir de 1963, ainda como Jorge Ben.
O recrutado pelo pool para readaptar Jorge ao violão foi o diretor musical Paulinho Tapajós, parceiro constante nos discos de auge do Ben violonista, na primeira metade da década de 70.
"O cara que tem mais cara de acústico no Brasil é Jorge. Ele iniciou essa pegada de violão com dedo de paleta, ou seja, do violão com cara de guitarra", defende Tapajós. "Só não sei se ele concorda. Hoje o acústico é mais atual que o eletrônico, mas para nossa geração é difícil entender."
Nos bastidores se sabe que Jorge se debate com o formato (e com regravações de eterno retorno, de "Taj Mahal" pela décima vez e de "Mas que Nada" e "País Tropical" pela sexta, por exemplo) e dá a entender que este não é o disco que queria fazer agora. Anteontem ele já se dizia feliz, chegando a comemorar o resultado de algumas novas versões. Mesmo assim, a fase final de ensaios foi tumultuada.
A participação do Admiral Jorge V, seu "power quinteto" dos anos 70 especialmente reunido para o "Acústico", foi cortada pela metade, para que entrasse de volta a Banda do Zé Pretinho, com ele desde 78. O desvio de rota seria iniciativa do próprio Jorge, para sufocar a "ingratidão" de ele dispensar a banda fiel num momento de potencial sucesso comercial.
Polido com a Admiral Jorge V, ele definiu a banda como seu "primeiro conjunto", desconsiderando o "combo" de samba-jazz que o acompanhou no início dos 60 e a fase (acústica) de transição com o Trio Mocotó, entre 69 e 71.
Outro reencontro histórico marca seu "Acústico MTV". Os arranjos de cordas (há uma orquestra delas no palco) e metais ficaram sob o cuidado de Lincoln Olivetti, artífice da black music à moda Tim Maia que foi tachado de pasteurizador quando, nos 80, passou a "sintetizar" discos de dez entre dez medalhões da MPB.
"Sugerimos Lincoln porque é o maestro que tem a linguagem mais próxima do que era o sonho original de Jorge. Ele queria uma orquestra sinfônica, mas não foi possível", diz o diretor artístico da Universal, Max Pierre.
Olivetti comemora discretamente: "Curti fazer. Jorge tem uma maneira criativa e espetacular de fazer música. A cada vez que toca, improvisa. Falo com a orquestra o tempo todo, para dar instruções conforme o que ele decide fazer na hora".


O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da gravadora Universal


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