São Paulo, quarta-feira, 01 de fevereiro de 2006

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ANÁLISE

"Filme Judeu" é o plano B de Hollywood a "Filme Gay"

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

O tempo passa, o tempo voa, e Hollywood continua tucana. Envergonhada, deu apenas oito indicações ao "Filme Gay" (também conhecido como "O Segredo de Brokeback Mountain"), incluindo as importantes filme, diretor, ator e roteiro adaptado. Não chega perto de recordes de anos anteriores para filmes piores.
E -só para o caso de a América Profunda chiar muito- deu cinco indicações ao "Filme Judeu" (também conhecido como "Munique"), incluindo os importantes filme, diretor e roteiro adaptado. É o plano B, uma cortina de fumaça, saídos do inconsciente coletivo dos 6.000 eleitores.
O provável é que os dois títulos pulverizem as estatuetas importantes na noite de 5 de março, em Los Angeles, com um ou outro agrado jogado ao "Filme do Jornalista Gay" ("Capote"), provavelmente o primeiro e merecido Oscar de ator a Philip Seymour Hoffman, e ao "Filme do Jornalista Liberal" ("Boa Noite e Boa Sorte"), talvez roteiro original.
Satisfaz, assim, os dois lobbies mais importantes da indústria do entretenimento sem alienar o grande público, que é quem afinal paga as contas do pessoal. Se for dessa maneira, o que sobra ao "Filme Brasileiro" ("O Jardineiro Fiel", dirigido por Fernando Meirelles)? Pouca coisa, infelizmente.
Das quatro indicações que recebeu -atriz coadjuvante, roteiro adaptado, trilha sonora original e edição-, é a da britânica Rachel Weisz que tem mais chances. Por dois motivos: ela já levou o Globo de Ouro e a concorrência é fraca.
Na outra que importa, os concorrentes são peso-pesado demais. Em roteiro adaptado, apesar de a obra original ser de John Le Carré, há o favorito "Brokeback Mountain", o elogiado "Capote" e o prestigiado dramaturgo Tony Kushner ("Munique"), autor de "Angels in America", sobre os anos Reagan e a Aids.

Estrangeiros
Na categoria estrangeira, deu o óbvio: o italiano "La Bestia nel Cuore", história de dois irmãos que foram vítimas de abuso sexual na infância; a superprodução francesa "Joyeux Noël", sobre a Primeira Guerra; o alemão "Uma Mulher contra Hitler", que fala da participação feminina na resistência ao nazismo; e "Tsotsi", um "Cidade de Deus" sul-africano.
Completa a lista o provável vencedor, o palestino "Paradise Now", sobre homens-bomba, atualmente em cartaz em São Paulo. Ficaram de fora o brasileiro "2 Filhos de Francisco", de Breno Silveira, apesar de boa campanha publicitária e do prêmio em Palm Springs, e o iraquiano "Réquiem da Neve", que poderia ter entrado por motivos geopolíticos.
O resto é o resto, com um registro final e não-ufanista: intrincado, bem-feito, original, o belo "O Jardineiro Fiel" merecia mais.


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