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Alex Flemming adere à fotografia digital e revela à Ilustrada série com foco em corpo e arquitetura
Olhares digitais
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
São Paulo, Belém, Lisboa e Berlim encerram geografias urbanas
bastante conhecidas pelo artista
plástico paulistano Alex Flemming, 51, que divide sua vida entre a capital paulista e a da Alemanha. Em curta passagem pelo Brasil, o artista adiantou à Folha sua nova produção.
Os trabalhos serão expostos
ainda neste primeiro semestre em
Berlim, na galeria Blickensdorff.
Até o final do ano, estarão em Belo Horizonte, na galeria Celma Albuquerque, e em Curitiba, na
Ybakatu. São obras realizadas
com imagens fotográficas digitais
naquelas quatro cidades.
São Paulo, que tem o conjunto
de obras mais popular de Flemming -a série "Sumaré", na estação homônima de metrô, um dos
exemplos recentes mais bem-sucedidos de arte pública-, também deve receber a nova mostra,
mas o local não está definido. Por
opção própria, ele não tem uma
galeria específica que o represente
na cidade.
Produto dos anos 80, Flemming
considera-se um artista sem geração - diz que se sente como se
estivesse no "limbo".
Até recentemente, ele relutava
em utilizar a tecnologia digital em
suas fotografias. "Achava que da
passagem do analógico para o digital haveria uma perda significativa. Mas fui seduzido pela instantaneidade, pela possibilidade de
edição imediata e por algo mágico, difícil de explicar, mas que se
relaciona a uma percepção que o
digital traz."
Os eixos temáticos que Flemming traçou em sua nova série são
o corpo masculino e a arquitetura. "Acho que a formação de arquiteto sempre esteve presente
em minha obra. Tive aulas na faculdade com Cristiano Mascaro
[fotógrafo com grande parte do
trabalho voltado para a cidade de
São Paulo] e, certamente, isso me
influenciou", conta ele, que sem
dúvida lembra com mais carinho
de sua graduação na FAU-USP
(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo) do que dos outros cursos
que freqüentou -economia e cinema. A sensibilidade em captar
detalhes dos chamados "não-lugares" -como interiores de
aviões e metrôs- parecem dever
algo à sua formação de arquiteto.
O cinema também desempenha
um papel relevante em seu trabalho: "Há alguma coisa de cinematográfico nessas séries. Elas parecem narrações constituídas por
instantâneos que se assemelham a
fotogramas", avalia o artista.
Utilizando uma câmera fotográfica Leica de última geração,
Flemming elaborou trípticos
(obras formadas por três peças)
sobre situações e objetos, que podem ser lidos em conjunto ou
apreciados individualmente, em
cada uma de suas partes.
Sobre as fotos captadas em digital e ampliadas, ele deixa sua marca -"AF", número da imagem
dentro da série e ano de realização- com tinta, como a enfatizar
a presença gestual do artista no
trabalho. Essa atitude é ressaltada
quando Flemming utiliza um estêncil de material escolar para
identificar as obras. "Tenho muitos, mas é cada vez mais difícil encontrá-los."
Depois das recentes séries
"Body Builders" -nas quais mapas de regiões geopolíticas conflagradas eram gravados sobre corpos atléticos- e "Flying Carpets"- em que aviões de madeira foram revestidos de tapetes
persas-, Flemming, em sua atual
série, ainda sem nome, teria amenizado sua abordagem política?
"Não. Esses trabalhos continuam bastante políticos. Minha
"política do corpo" se choca com a
recente onda neoconservadora,
ao exibir a beleza do corpo em sua
nudez. Já a arquitetura é uma "política de memória", daquilo que o
homem deixa de legado", diz ele.
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