São Paulo, quarta-feira, 01 de fevereiro de 2006

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Alex Flemming adere à fotografia digital e revela à Ilustrada série com foco em corpo e arquitetura

Olhares digitais

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

São Paulo, Belém, Lisboa e Berlim encerram geografias urbanas bastante conhecidas pelo artista plástico paulistano Alex Flemming, 51, que divide sua vida entre a capital paulista e a da Alemanha. Em curta passagem pelo Brasil, o artista adiantou à Folha sua nova produção.
Os trabalhos serão expostos ainda neste primeiro semestre em Berlim, na galeria Blickensdorff. Até o final do ano, estarão em Belo Horizonte, na galeria Celma Albuquerque, e em Curitiba, na Ybakatu. São obras realizadas com imagens fotográficas digitais naquelas quatro cidades.
São Paulo, que tem o conjunto de obras mais popular de Flemming -a série "Sumaré", na estação homônima de metrô, um dos exemplos recentes mais bem-sucedidos de arte pública-, também deve receber a nova mostra, mas o local não está definido. Por opção própria, ele não tem uma galeria específica que o represente na cidade.
Produto dos anos 80, Flemming considera-se um artista sem geração - diz que se sente como se estivesse no "limbo".
Até recentemente, ele relutava em utilizar a tecnologia digital em suas fotografias. "Achava que da passagem do analógico para o digital haveria uma perda significativa. Mas fui seduzido pela instantaneidade, pela possibilidade de edição imediata e por algo mágico, difícil de explicar, mas que se relaciona a uma percepção que o digital traz."
Os eixos temáticos que Flemming traçou em sua nova série são o corpo masculino e a arquitetura. "Acho que a formação de arquiteto sempre esteve presente em minha obra. Tive aulas na faculdade com Cristiano Mascaro [fotógrafo com grande parte do trabalho voltado para a cidade de São Paulo] e, certamente, isso me influenciou", conta ele, que sem dúvida lembra com mais carinho de sua graduação na FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) do que dos outros cursos que freqüentou -economia e cinema. A sensibilidade em captar detalhes dos chamados "não-lugares" -como interiores de aviões e metrôs- parecem dever algo à sua formação de arquiteto.
O cinema também desempenha um papel relevante em seu trabalho: "Há alguma coisa de cinematográfico nessas séries. Elas parecem narrações constituídas por instantâneos que se assemelham a fotogramas", avalia o artista.
Utilizando uma câmera fotográfica Leica de última geração, Flemming elaborou trípticos (obras formadas por três peças) sobre situações e objetos, que podem ser lidos em conjunto ou apreciados individualmente, em cada uma de suas partes.
Sobre as fotos captadas em digital e ampliadas, ele deixa sua marca -"AF", número da imagem dentro da série e ano de realização- com tinta, como a enfatizar a presença gestual do artista no trabalho. Essa atitude é ressaltada quando Flemming utiliza um estêncil de material escolar para identificar as obras. "Tenho muitos, mas é cada vez mais difícil encontrá-los."
Depois das recentes séries "Body Builders" -nas quais mapas de regiões geopolíticas conflagradas eram gravados sobre corpos atléticos- e "Flying Carpets"- em que aviões de madeira foram revestidos de tapetes persas-, Flemming, em sua atual série, ainda sem nome, teria amenizado sua abordagem política?
"Não. Esses trabalhos continuam bastante políticos. Minha "política do corpo" se choca com a recente onda neoconservadora, ao exibir a beleza do corpo em sua nudez. Já a arquitetura é uma "política de memória", daquilo que o homem deixa de legado", diz ele.


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