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Três gerações do samba se encontram no Sesc
Pioneiras em suas épocas, Dona Ivone Lara, Leci Brandão e Teresa Cristina dividem palco
Cantoras interpretam clássicos como "Sorriso Negro", que encerra o show "Santíssima Trindade do Samba", no Sesc Vila Mariana
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Teresa Cristina tinha apenas
seis anos quando, em 1974, Leci
Brandão subiu ao palco da extinta boate Monsieur Pujol, em
Ipanema (zona sul do Rio), para fazer seu primeiro show profissional. A seu lado estava Dona Ivone Lara, que já era havia
muitos carnavais uma das estrelas da escola de samba Império Serrano, além de cantora e
compositora respeitada.
Essas três gerações se encontram de amanhã a domingo no
Sesc Vila Mariana, no show
"Santíssima Trindade do Samba", título que constrange a caçula Teresa Cristina.
"Eu diria: "Menos". Ainda tenho que comer muito arroz
com feijão", avalia a cantora.
Em comum, as três têm o
pioneirismo. Dona Ivone foi a
primeira mulher a levar um
samba-enredo para a avenida
(na época, a Presidente Vargas): "Os Cinco Bailes da História", parceria com Silas de Oliveira e Bacalhau que o Império
Serrano cantou em 1965.
Aos 85 anos, ela não tem desfilado mais. "Eu gosto de vir no
chão, mas não dá mais para
mim. Em carro, eu não quero",
afirma a cantora, que por muito
tempo integrou a ala das baianas da escola.
Em função de compromissos
profissionais, Leci Brandão já
vai para o terceiro Carnaval
sem desfilar pela Mangueira.
Em 1972, ela foi a primeira mulher a ser aceita na ala de compositores da verde-e-rosa.
"Eu ainda passaria por um
batismo de fogo dois anos depois: estava na casa do Cartola,
e o meu nome foi citado na roda
de partido-alto. E, pela primeira vez, eu versei [improvisar
versos]", conta ela, que acabou
se tornando uma craque do
partido-alto.
Pé espalhado
Com Dona Ivone, Leci, 62, já
dividiu o palco várias
vezes. Em 1982, no
Projeto Pixinguinha, a
mangueirense recebeu da imperiana um
alerta que nunca esqueceu.
"Eu tinha o costume de cantar descalça.
Ela me disse: "Você
dança com o pé espalhado. Tem que dançar miudinho." Passei
a sambar miudinho
e, depois, desisti de
cantar descalça", lembra ela, que diz ter
aprendido também
outras lições com Dona Ivone.
"Quando eu a conheci, ela já era uma
grande compositora,
tocava cavaquinho e
tinha essa poesia toda.
Dona Ivone é a única mulher
para quem eu bato pandeiro. É
uma referência", exalta Leci.
Para Teresa, pioneira por se
destacar na revitalização musical da Lapa carioca, são duas
referências com quem dividir
as apresentações: Leci é a
"mulher guerreira" e "grande
compositora", e Dona Ivone é
simplesmente
"sinistra".
"Há dois anos,
eu e o Grupo Semente fizemos oito shows com
participação dela.
Nos sete primeiros, segurei a onda. Mas, no último, na hora de
anunciá-la, travei
de tanta emoção.
Como sou manteiga derretida, fico sem saber o
que fazer diante
dela para não
chorar", conta
Teresa.
Cantora da noite, ela está acostumada a interpretar clássicos
de Dona Ivone,
como "Tendência", "Sonho
Meu", "Alguém me Avisou" e
"Acreditar", que ficarão a cargo
da autora no Sesc Vila Mariana.
Teresa interpretará "Candeeiro", "Acalanto" e outros
sambas seus. Já Leci cantará
clássicos como "Isso É Fundo
de Quintal". No final, elas se
juntarão em "Sorriso Negro".
Cristina Buarque
Outra importante sambista
carioca faz shows em São Paulo: a portelense Cristina Buarque se une ao grupo Terreiro
Grande, a partir de hoje, para
duas semanas de temporada no
teatro Fecap (qui. a sáb., às 21h,
e dom., às 19h, na av. Liberdade,
532, tel. 3089-6999, R$ 10).
No repertório, sambas conhecidos e desconhecidos de
Candeia, Zé Keti, Ismael Silva e
muitos outros.
SANTÍSSIMA TRINDADE DO SAMBA, COM DONA IVONE LARA, LECI BRANDÃO E TERESA CRISTINA
Quando: amanhã e sáb., às 21h; dom.,
às 18h
Onde: Sesc Vila Mariana (rua Pelotas,
141, 0/xx/11/5080-3000)
Quanto: entre R$ 7,50 e R$ 20
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