São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2008

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Música

DJ Dolores lança CD e faz show no Carnaval

Disco do produtor, que se apresenta no Marco Zero, sai primeiro no exterior

Pernambucano mostra faixas de álbum inédito no Carnaval recifense, que reafirmam seu diálogo com música eletrônica periférica

BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dono de batidas eletrônicas que recriam a cultura popular pernambucana, DJ Dolores se apresenta domingo no Marco Zero, palco principal do Carnaval recifense. Com uma carreira estruturada fora do Brasil, é uma das poucas apresentações do produtor no país, que trará faixas de seu terceiro e ainda inédito disco "1 Real".
O título é uma referência a gêneros musicais populares do Norte e Nordeste, como o forrozão de Manaus ou o tecnobrega do Pará, que inspiraram esse disco. "São criações supersimples, toscas até, feitas em estúdios caseiros. Os caras sampleiam tudo -videogame, comercial de TV. Daí o título, "1 Real", um fascínio por essa cultura de música barata, meio fuleira e imediatista de hits que se renovam muito rapidamente."
A limitação destes gêneros também é identificada como sua. "Eu não sou músico, sou muito limitado. Programo, faço os arranjos e peço para um amigo passar para a partitura para os músicos tocarem."
O diálogo com a música eletrônica periférica e uma relutância com uma estética puramente preservacionista permeiam o trabalho de Dolores. Neste mês, ele ensaiava no Brasil "Hotel Medeia", espetáculo teatral de uma companhia inglesa, que estreará na Escócia, com atores de todo o mundo -o que dá pistas sobre seu cosmopolitismo.
"Meu papel é inserir a figura do DJ no lugar de simplesmente deixá-los repetir o maracatu, que é a referência deles", conta. "Inseri bootlegs de hits de pista com células de maracatu rural, pois uma festa desse gênero no interior é exatamente assim: os músicos fazem versões do que está rolando no momento nas rádios e na TV com as batidas de maracatu. Nenhum deles se preocupa com retóricas preservacionistas", afirma.
"É também algo ideológico: acho ruim quando as pessoas tentam só repetir [o maracatu] como se fosse uma coisa "rousseauniana", preservando o bom selvagem. É besteira, como escola de samba de Nova York."

Canção
O DNA de "1 Real", conta, é a canção. "Esse disco tem mais letra, é bem mais dançante que os anteriores, com menos efeitos." Com lançamento em toda a Europa neste mês, Japão e EUA em seguida, Dolores tem dúvidas quanto ao lançamento do álbum no Brasil, depois de ter lançado seu segundo disco por um selo que ele mesmo criou, experiência que considerou desastrosa. "Por mim, eu colocava tudo para download, mas não posso por causa do meu contrato com a gravadora lá fora. Eu estimulo as pessoas a copiarem ele."
No fim de fevereiro, Dolores e a Aparelhagem (grupo que o acompanha em shows), embarcam para a Europa. "Vão ser 15 dias tocando diariamente", conta. As constantes turnês fora do Brasil são fruto de uma escolha de linha de trabalho. "Lá fora o reconhecimento é mais fácil, o público é mais aberto, os cachês são melhores."
Dolores reluta em tocar em palcos destinados a artistas de world music. "Não faz sentido sair daqui e tocar para brasileiros e europeus em busca de coisas exóticas", avalia. "Esse termo [world music] está tão desgastado, tem tanta gente usando eletrônica com influência da música pop", afirma o DJ, em sua busca por transcender os regionalismos e evitar os estereótipos.


1 REAL
Artista:
DJ Dolores
Gravadora: Crammed (www.crammed.be)
Quanto: a definir


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