São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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Televisão / Comentário

Íris Abravanel brinca de fazer novela

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

É árdua a missão de eleger a pior novela do momento. A disputa está acirradíssima entre "Três Irmãs", a das sete da Globo, "Os Mutantes" (Record) e "Revelação" (SBT). E há "Chamas da Vida" (Record), que está longe de ser boa, mas não chega a ser tão ruim. E "Negócio da China", a das seis da Globo, que deve ser tratada como "hors-concours", uma vez que foi idealizada para as 19h, é escrita por alguém (Miguel Falabella) que admite não saber falar com o telespectador das 18h e está sem mocinho desde que Fábio Assunção abandonou a canoa.
Pelo que se viu até agora, "Revelação" é a pior das piores. A novela é ruim como um todo. Mas, justiça seja feita, o pior de "Revelação" não é o texto de Íris Abravanel -que é ruim, fique claro! É a (falta de) direção.
Só para ter uma ideia da tosquice, no capítulo de quarta passada uma atriz se movimentou para o lado para falar algo ao ator que faz seu pai. Seu rosto simplesmente foi cortado, ficou fora do enquadramento. A atriz interpretava tão mal (aliás, isso é regra no elenco) que pode ter sido um engano. Teriam exibido o ensaio.
"Revelação" é uma síntese de clichês folhetinescos ambientada numa cidade com o nada sutil nome de Tirânia, "metáfora" do Brasil. Mal comparando, lembra a estrutura das novelas de Benedito Ruy Barbosa.
A impressão que se tem é a de que Íris Abravanel, mulher de Silvio Santos, de tanto ver o marido brincar com a programação do SBT, resolveu ela mesma escrever uma novela, juntando seus conhecimentos de telespectadora com um pouco de "repertório pessoal" e uns enigmas (que sacada!).
Dona Íris, como se sabe, é evangélica e militante das obras sociais. Pois "Revelação" tem uma personagem que vive a praticar o bem e a dizer frases como "Que Deus abençoe o seu dia!". E uma socialite que se "entrega de corpo e alma" (ah, os diálogos sempre têm um clichezinho como esse) a uma obra social típica de socialite.
A novela é cheia de mistérios -tanto que a autora teve de explicar no seu blog por que a mocinha não tem família. Um personagem, justo o detentor da tal "revelação", só aparece de perfil, só tem voz. Outra, Maria dos Ventos, também fundamental para o esclarecimento da trama, vive numa gruta, maltrapilha, invisível. Recita supostas metáforas entre uma cena e outra, sem qualquer critério de inserção (ah, "Revelação" é zero em roteiro). No memorável capítulo de quarta, ela surgiu num bosque. "A esperança", foi tudo o que disse. "Lost"?
É por isso que "Revelação" se sobressai entre "Os Mutantes" (que se caracteriza pela repetição de situações e diálogos) e "Três Irmãs", uma novela cinzenta sobre uma praia azul, ou seja, uma novela sem história.


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