|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Televisão / Comentário
Íris Abravanel brinca de fazer novela
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
É árdua a missão de eleger a
pior novela do momento. A disputa está acirradíssima entre
"Três Irmãs", a das sete da Globo, "Os Mutantes" (Record) e
"Revelação" (SBT). E há "Chamas da Vida" (Record), que está
longe de ser boa, mas não chega
a ser tão ruim. E "Negócio da
China", a das seis da Globo, que
deve ser tratada como "hors-concours", uma vez que foi
idealizada para as 19h, é escrita
por alguém (Miguel Falabella)
que admite não saber falar com
o telespectador das 18h e está
sem mocinho desde que Fábio
Assunção abandonou a canoa.
Pelo que se viu até agora,
"Revelação" é a pior das piores.
A novela é ruim como um todo.
Mas, justiça seja feita, o pior de
"Revelação" não é o texto de
Íris Abravanel -que é ruim, fique claro! É a (falta de) direção.
Só para ter uma ideia da tosquice, no capítulo de quarta
passada uma atriz se movimentou para o lado para falar algo
ao ator que faz seu pai. Seu rosto simplesmente foi cortado, ficou fora do enquadramento. A
atriz interpretava tão mal
(aliás, isso é regra no elenco)
que pode ter sido um engano.
Teriam exibido o ensaio.
"Revelação" é uma síntese de
clichês folhetinescos ambientada numa cidade com o nada
sutil nome de Tirânia, "metáfora" do Brasil. Mal comparando,
lembra a estrutura das novelas
de Benedito Ruy Barbosa.
A impressão que se tem é a de
que Íris Abravanel, mulher de
Silvio Santos, de tanto ver o
marido brincar com a programação do SBT, resolveu ela
mesma escrever uma novela,
juntando seus conhecimentos
de telespectadora com um pouco de "repertório pessoal" e uns
enigmas (que sacada!).
Dona Íris, como se sabe, é
evangélica e militante das
obras sociais. Pois "Revelação"
tem uma personagem que vive
a praticar o bem e a dizer frases
como "Que Deus abençoe o seu
dia!". E uma socialite que se
"entrega de corpo e alma" (ah,
os diálogos sempre têm um clichezinho como esse) a uma
obra social típica de socialite.
A novela é cheia de mistérios
-tanto que a autora teve de explicar no seu blog por que a mocinha não tem família. Um personagem, justo o detentor da
tal "revelação", só aparece de
perfil, só tem voz. Outra, Maria
dos Ventos, também fundamental para o esclarecimento
da trama, vive numa gruta, maltrapilha, invisível. Recita supostas metáforas entre uma cena e outra, sem qualquer critério de inserção (ah, "Revelação"
é zero em roteiro). No memorável capítulo de quarta, ela surgiu num bosque. "A esperança",
foi tudo o que disse. "Lost"?
É por isso que "Revelação" se
sobressai entre "Os Mutantes"
(que se caracteriza pela repetição de situações e diálogos) e
"Três Irmãs", uma novela cinzenta sobre uma praia azul, ou
seja, uma novela sem história.
Texto Anterior: Resumo das novelas Próximo Texto: Crítica: Troque animação por um Hitchcock Índice
|