São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

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Má Educação

Com roteiro de Nick Hornby, filme aborda garota seduzida por homem mais velho na Londres dos anos 60

Divulgação
Jenny (Carey Mulligan, ao centro) em ‘Educação’, da dinamarquesa Lone Scherfig

FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Lone Scherfig, diretora dinamarquesa de 50 anos, nunca precisou usar uniforme escolar, como os que se vê em seu novo filme, o premiado "Educação", que estreia no Brasil no dia 19. Tampouco teve uma formação careta, como a das escolas conservadoras de Londres, onde se passa o longa, ambientado nos anos 60, antes dos Beatles e dos Rolling Stones.
Ao contrário, Scherfig é uma mulher de vanguarda, a primeira a dirigir com os conceitos radicais do movimento Dogma 95, "Italiano para Principiantes" (2000), que lhe valeu um Urso de Prata em Berlim.
Para voltar no tempo e filmar "Educação" na Londres pré-"swinging sixties", ela mergulhou em extensa pesquisa histórica, lapidando o roteiro do inglês Nick Hornby, que aqui faz a primeira adaptação de um livro que não seja seu -as memórias da jornalista Lynn Barber. A editora Rocco lança o livro com o roteiro neste mês.
A jovem protagonista, Jenny, tenta de várias maneiras escapar dessa vida tediosa, sonhando com Paris e aprendendo francês, até que conhece David, um homem mais velho que lhe apresenta os encantos da vida adulta e burguesa.
"Li o roteiro primeiro e de cara gostei muito do personagem David; é um retrato interessante que eu queria explorar", disse Scherfig por telefone à Folha. "Sempre gostei muito dessa combinação de humor, emoção e algo profundo dos romances de Nick."
David (Peter Sarsgaard) é um homem misterioso que seduz não só Jenny (Carey Mulligan), uma garota estudiosa de 16 anos prestes a terminar o colégio, mas também seu rigoroso pai (Alfred Molina) e, de quebra, o espectador. É como se David representasse o futuro, a modernidade que Londres viria a conhecer anos depois.

Influências do Dogma
Mesmo ainda sem a explosão cultural, Londres surge bastante sonora. "Uma ou duas das canções foram sugestões de Nick. Ele é muito bom nisso, mas havia algumas no roteiro que não funcionaram", disse. "Naquela época, boa música vinha da América [...] Foi difícil achar coisas que tinham a ver; passamos um tempão ouvindo músicas e mais músicas. Adoro essa parte do trabalho."
Scherfig foi a quinta pessoa a entrar no movimento Dogma, criado pelos conterrâneos Lars von Trier e Thomas Vinterberg, em 1995, por um cinema mais realista e menos comercial, influência que ela diz ter levado para "Educação".
"Há um pouco de Dogma aqui e ali. Um pouquinho de improvisação, mas bem de leve", diz. "Acho que essa sensibilidade e essa inocência [da história], além do fato de o filme não ser escorregadio ou superproduzido, é uma honestidade com a qual eu fico feliz. E acho que tem a ver com Dogma."
Scherfig diz que qualquer um pode ainda fazer um filme Dogma, embora concorde que algumas regras possam ter ficado obsoletas. "Tecnicamente, muita coisa aconteceu desde então. Mas você pode interpretar de maneiras diferentes", diz. "A maioria de nós diz que, se conseguíssemos um roteiro certo, voltaríamos a fazer de novo. Amávamos isso."
"Educação", que passou na 33ª Mostra de São Paulo com o nome "Sedução", lidera as indicações ao Bafta, prêmio da academia britânica, concorrendo em oito categorias, assim como "Avatar" e "Guerra ao Terror".
Mulligan, 24, que até então tinha feito poucos trabalhos, tem se destacado na temporada de prêmios como a atriz revelação de 2009. Após "Educação", já emendou outros oito longas.


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