São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

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Crítica/música/"IRM"

Cantora sai da sombra do pai em CD

Francesa Charlotte Gainsbourg lança no exterior ótimo disco composto e produzido pelo norte-americano Beck

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Serge? Serge quem? Até pouco tempo atrás, qualquer texto sobre Charlotte Gainsbourg trazia o apêndice "filha de Serge Gainsbourg". Amparada por elogiadas atuações em filmes como "Anticristo" (2009) e "The Science of Sleep" (2006), ela está tornando esse aposto desnecessário.
E Charlotte deixa definitivamente a enorme sombra do pai com "IRM". É um disco sublime, encantadoramente intimista e melancólico.
Não é um disco "de atriz" -é o disco de uma cantora que sabe usar a voz com a intensidade devida, sem exageros, sem adereços supérfluos.
Charlotte não é boba. Não se arrisca nos arranjos e nem na produção de seus três discos.
O primeiro, "Charlotte for Ever" (1986), lançado quando ela tinha apenas 15 anos, traz letras e produção de Serge. O segundo, "5:55", de 2006, contém canções compostas por, entre outros, Jarvis Cocker e pela dupla Air, e foi produzido por Nigel Godrich (que trabalha com o Radiohead).
Para "IRM", que saiu na semana passada nos Estados Unidos, ela convocou o prolífico Beck, que desde os anos 1990 circula entre rock, folk, música negra, eletrônica e experimentalismos variados.
Beck compôs 12 das 13 canções de "IRM" -"Le Chat du Café des Artistes" é do canadense Jean-Pierre Ferland e cuidou da produção do álbum.
O disco foi feito mais ou menos na época em que Charlotte filmava "Anticristo". "IRM" é, segundo a cantora, um escape do clima asfixiante do longa.
Além disso, algumas canções remetem direta ou indiretamente ao sério acidente sofrido por Charlotte em 2007, fazendo esqui aquático -ela passou por uma cirurgia no cérebro.
A própria música título faz referência ao acidente (as iniciais são de imagem de ressonância magnética). "Perfure meu cérebro/ Cheio de furos", ela canta em "Master's Hands".
A voz de Charlotte é charmosa, e Beck a enquadra com melodias sexies e leveza.
O álbum nunca torna-se monótono -traz a doçura errante de "Heaven Can Wait" ("O céu pode esperar e o inferno é muito longe"); a grandiosidade de "Time of the Assassins"; os corais de "Me and Jane Doe"; a dramaticidade de "Le Chat du Café des Artistes".
Charlotte sempre será a filha do mestre. Mas a qualidade de "IRM" e da voz dessa cantora fará agora com que os textos sobre Serge tragam o aposto "pai de Charlotte".


IRM

Artista: Charlotte Gainsbourg
Lançamento: Because (importado)
Quanto: US$ 12 (R$ 22), no site www.amazon.com
Avaliação: ótimo




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