|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
Crítica/música/"IRM"
Cantora sai da sombra do pai em CD
Francesa Charlotte Gainsbourg lança no exterior ótimo disco composto e produzido pelo norte-americano Beck
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Serge? Serge quem?
Até pouco tempo
atrás, qualquer texto sobre Charlotte Gainsbourg trazia o apêndice "filha de Serge
Gainsbourg". Amparada por
elogiadas atuações em filmes
como "Anticristo" (2009) e
"The Science of Sleep" (2006),
ela está tornando esse aposto
desnecessário.
E Charlotte deixa definitivamente a enorme sombra do pai
com "IRM". É um disco sublime, encantadoramente intimista e melancólico.
Não é um disco "de atriz" -é
o disco de uma cantora que sabe usar a voz com a intensidade
devida, sem exageros, sem adereços supérfluos.
Charlotte não é boba. Não se
arrisca nos arranjos e nem na
produção de seus três discos.
O primeiro, "Charlotte for
Ever" (1986), lançado quando
ela tinha apenas 15 anos, traz
letras e produção de Serge. O
segundo, "5:55", de 2006, contém canções compostas por,
entre outros, Jarvis Cocker e
pela dupla Air, e foi produzido
por Nigel Godrich (que trabalha com o Radiohead).
Para "IRM", que saiu na semana passada nos Estados Unidos, ela convocou o prolífico
Beck, que desde os anos 1990
circula entre rock, folk, música
negra, eletrônica e experimentalismos variados.
Beck compôs 12 das 13 canções de "IRM" -"Le Chat du
Café des Artistes" é do canadense Jean-Pierre Ferland e
cuidou da produção do álbum.
O disco foi feito mais ou menos na época em que Charlotte
filmava "Anticristo". "IRM" é,
segundo a cantora, um escape
do clima asfixiante do longa.
Além disso, algumas canções
remetem direta ou indiretamente ao sério acidente sofrido
por Charlotte em 2007, fazendo esqui aquático -ela passou
por uma cirurgia no cérebro.
A própria música título faz
referência ao acidente (as iniciais são de imagem de ressonância magnética). "Perfure
meu cérebro/ Cheio de furos",
ela canta em "Master's Hands".
A voz de Charlotte é charmosa, e Beck a enquadra com melodias sexies e leveza.
O álbum nunca torna-se monótono -traz a doçura errante
de "Heaven Can Wait" ("O céu
pode esperar e o inferno é muito longe"); a grandiosidade de
"Time of the Assassins"; os corais de "Me and Jane Doe"; a
dramaticidade de "Le Chat du
Café des Artistes".
Charlotte sempre será a filha
do mestre. Mas a qualidade de
"IRM" e da voz dessa cantora
fará agora com que os textos sobre Serge tragam o aposto "pai
de Charlotte".
IRM
Artista: Charlotte Gainsbourg
Lançamento: Because (importado)
Quanto: US$ 12 (R$ 22), no
site www.amazon.com
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Indicados ao Oscar saem amanhã Próximo Texto: Filme Francês repassa a vida de Serge Índice
|