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Crítica/exposição/"Circumstances/Circunstâncias"
Em mostra, videoartista questiona o tempo
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das modalidades
recorrentes da videoarte é a desaceleração do tempo, evitando edições
ágeis, o que, de certa forma, representou uma reação ao ilusionismo do cinema e da televisão. Assim, quanto mais devagar se observa uma cena, mais
obviamente se percebe que ela
é uma construção.
O coreano Nam June Paik
(1932-2006) é um dos mais importantes precursores dessa
perspectiva, que tem nos norte-americanos Bill Viola e Gary
Hill a segunda geração que discute essa questão.
Hill está em cartaz em São
Paulo em "Circumstances/Circunstâncias", com curadoria de
Marcelo Dantas, criada para a
Oi Futuro, no Rio, e aqui exibida no MIS (Museu da Imagem e
do Som), onde estão duas de
suas obras-primas que também
discutem o tempo: "Viewers"
(1996) e "Wall Piece" (2000).
Em "Viewers" (observadores), 17 operários vestidos com
roupas do cotidiano são projetados numa parede em tamanho real. A maioria é composta
por imigrantes ilegais de Seattle -onde Hill tem estúdio- e
todos, silenciosamente, confrontam os visitantes.
Figuras invisíveis da sociedade norte-americana, se tornam
cúmplices dos visitantes numa
reunião irônica e praticamente
impossível. A obra, contudo, está longe de ser agressiva, e é pelo forte apelo estético que o sarcasmo do vídeo ganha contornos mais fortes. Como não há
ação, o silêncio passa a ser quase constrangedor.
Já em "Wall Piece" (peça do
muro), vê-se um homem-artista atirar-se repetidamente contra uma parede, sendo iluminado apenas nos momentos em
que a toca de fato. Cada vez que
a atinge, fala o trecho de um
texto que começa com "uma
palavra, um milésimo de uma
imagem". Como num ritual, a
obra provoca uma espécie de
transe e a experiência, um tanto violenta pela pulsão da luz e
do corte entre as falas, faz com
que, de fato, o texto fique em
segundo plano.
Essas duas obras, complexas
e intrigantes, no entanto, destoam um tanto das demais
obras expostas, especialmente
de "Unconditional Surrender
(Circunstance)", que está disposta na monumental sala circular do MIS. Totalmente virtual, o trabalho apresenta rodas
que surgem num horizonte distante, até que se chocam ao ganhar maior volume quando se
aproximam do observador.
Mais cerebral, "Unconditional Surrender" parece se submeter à tecnologia, sem que a
experiência do corpo seja tão
primordial quanto é nas demais obras.
CIRCUMSTANCES/ CIRCUNSTÂNCIAS
Quando: de terça a sábado, das 12h às
22h, domingos e feriados, das 11h às
21h; até 21/3
Onde: Museu da Imagem e do Som (av.
Europa, 158, tel. 0/xx/ 11/2117-4777)
Quanto: R$ 4 (grátis aos domingos e
para maiores de 65 anos)
Avaliação: bom
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