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Crítica/show
Cranberries faz show quadrado e sério em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Com os cabelos bem curtos e o corpo franzino,
quase frágil, Dolores
O'Riordan entra no palco e nos
dá a impressão de que ela dificilmente conseguirá domar a
agitação do público que recebe
o Cranberries. Mas, ao soltar a
voz e elaborar os primeiros gestos, essa irlandesa coloca nas
mãos as 6.700 pessoas que estão ali para vê-la.
O'Riordan evoca uma postura messiânica a partir de seu
vozeirão e das letras que canta,
e é essa atitude que gera certo
incômodo na apresentação.
Quarteto formado no comecinho dos anos 1990 em Limerick, na Irlanda, o Cranberries
fez show na sexta à noite no
Credicard Hall, em São Paulo,
como parte da turnê brasileira
que passou pelo Rio, se estenderia por Belo Horizonte ontem e que será encerrada na
quarta-feira em Porto Alegre.
Em São Paulo, a banda viu
um Credicard Hall com lotação
máxima e fãs emocionados.
O'Riordan, Noel Hogan (guitarra), Michael Hogan (baixo) e
Fergal Lawler (bateria) posicionaram-se em meio a um cenário mínimo, formado apenas
por um enorme pano na parte
de trás do palco.
A banda iniciou a apresentação pouco antes das 22h30 (o
horário previsto era 22h) e tocou por uma hora e meia.
A imensa popularidade do
grupo irlandês veio com
"Everybody Else Is Doing It, So
Why Can't We?" (1993) e "No
Need to Argue" (1994), e foram
esses dois discos que serviram
de alicerces para o show. Das 22
músicas executadas, 13 foram
tiradas desses álbuns. São canções que martelaram bastante
nas rádios brasileiras, como
"Linger", "Zombie", "Ode to
My Family" e "Dreams".
A balada "Linger", o maior
hit do Cranberries, apareceu já
como a terceira música do
show -como se a banda quisesse se livrar logo de cara da obrigação de ter de tocar a canção
-e nesse momento ainda havia
fãs entrando no Credicard Hall.
O'Riordan é a comandante
do grupo, tanto que um punhado de músicas de sua carreira
solo são tocadas, como "Ordinary Day", "Lunatic" e "The
Journey". Enquanto ela caminha, corre e salta de um lado ao
outro do palco, os outros três
músicos permanecem distantes, no fundo, quase como
coadjuvantes.
A estrela é a vocalista -mas
ela é, também, o ponto irritante
da banda. Fala muito entre as
canções, age e canta como se
estivesse passando mensagens
positivas ao público.
Isso deixa o show quadrado,
sério demais. Chato.
Nesse sentido, Dolores
O'Riordan lembra o conterrâneo Bono. Mas mesmo Bono
guarda um pingo de ironia. Falta isso ao Cranberries.
(THIAGO NEY)
Avaliação: regular
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