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CINEMA/ESTRÉIA
Todd Field dirige "Entre Quatro Paredes", que tem cinco indicações ao Oscar
Tensão no quarto de dormir
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Dos cinco indicados a melhor
filme no Oscar deste ano, "Entre
Quatro Paredes" pode ser considerado o grande azarão. Concorrendo com blockbusters como
"Uma Mente Brilhante", de Ron
Howard, e "Senhor dos Anéis - A
Sociedade do Anel", de Peter
Jackson, o californiano Todd
Field, 38, não se preocupa com a
premiação. "Quem pode saber o
que se passa na cabeça dos membros da Academia?", desconversa.
Vencedor do Grande Prêmio do
Júri em Sundance, em 2001, seu
longa está na disputa por cinco estatuetas (filme, roteiro adaptado,
ator, atriz e atriz coadjuvante) e
corre por fora para tentar garantir
alguma categoria. É a aposta independente do ano: Field gastou
US$ 1,7 milhão na produção, enquanto Jackson usou US$ 109 milhões, e Howard, US$ 60 milhões.
"Entre Quatro Paredes" (no original, "In the Bedroom") se baseia
em livro de Andre Dubus, amigo
pessoal de Field, que morreu pouco antes de começarem as filmagens. "Ele sempre construiu ótimos personagens", diz. A trama
envolve uma família de classe média na Nova Inglaterra que tem
seu cotidiano bruscamente alterado com o relacionamento do filho
único (Nick Stahl) com uma mãe
de dois filhos (Marisa Tomei) que
tenta se separar do ex-marido.
Leia a seguir entrevista concedida à Folha, por telefone, de seu escritório em Los Angeles.
Folha - O que achou de ter sido indicado a cinco categorias do Oscar?
Todd Field - Acho bom para o filme, mas não fico pensando nisso.
Não foi nisso que eu estava pensando quando fiz o filme.
Folha - O que você acha dos outros indicados a melhor filme?
Field - Não assisti a nenhum deles. Não tenho tempo. Minha vida
é passar o dia todo no telefone.
Folha - Quais as chances de seu
longa na competição à estatueta?
Field - Quem consegue saber
uma coisa dessas? Ninguém sabe
o que se passa na cabeça dos
membros da Academia [risos".
Folha - O filme já venceu o Globo
de Ouro de melhor atriz (Sissy Spacek) e está indicado ao Oscar para
ator (Tom Wilkinson), atriz (Spacek) e atriz coadjuvante (Marisa Tomei). Como foi a escolha do elenco
e o processo de filmagem?
Field - Foi tudo muito produtivo. Todos opinaram e o filme só
cresceu com isso. São atores realmente maravilhosos e entenderam o que eu queria, que era enfocar a vida do casal mais velho, que
tinha mais história e conflitos
possíveis de serem explorados.
Folha - Você começou sua carreira como ator, tendo trabalhado
com Woody Allen (em "A Era do Rádio") e Stanley Kubrick (em "De
Olhos bem Fechados"). Acha que isso mudou seu jeito de dirigir?
Field - Não sei dizer. Acho que o
fato de eu ter começado como
ator me fez ver o quanto outros
envolvidos na produção podem
contribuir para o resultado final.
Folha - Como foi a temporada em
Sundance, no ano passado?
Field - Tivemos uma ótima acolhida em Sundance. Foi a estréia
do filme, e o público e a crítica receberam-no muito bem. Aliás,
sempre que eu estive em Sundance fui bem recepcionado.
Folha - O que você quis mostrar
em "In the Bedroom"?
Field - O título é uma metáfora à
situação das lagostas dentro das
câmaras em que são caçadas
[também chamadas de "bedrooms"". O que quis retratar é o
casamento, com seus percalços,
brigas, reconciliações, desventuras, ou seja, tudo de que ele é feito.
E tudo isso se passa no espaço
dentro de um quarto.
Folha - O que achou do título escolhido em português?
Field - Bom, eu queria que o título fosse mantido. Mas, dentro do
significado que eu imaginei, ele se
encaixa perfeitamente também.
Folha - O filme é dedicado ao escritor Andre Dubus. Qual sua relação com ele?
Field - Fomos muito amigos. Eu
fui a última pessoa a falar com ele,
no dia de sua morte, em 1999. Foi
antes de começarmos as filmagens. Foi muito triste. O que eu
tentei fazer foi uma homenagem a
ele, recriando suas grandes histórias na telona. Ele sempre construiu ótimos personagens.
Folha - Você está trabalhando em
um novo projeto?
Field - Sim, estou escrevendo
um roteiro. Mas não me sinto
pronto para falar a respeito. É ainda muito novo e não quero falar
sobre uma coisa que ainda não fiz.
De repente, mudo de idéia e faço
tudo diferente. Melhor não arriscar. Nunca se sabe, não é?
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