São Paulo, sexta-feira, 01 de março de 2002

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CINEMA/ESTRÉIA

Todd Field dirige "Entre Quatro Paredes", que tem cinco indicações ao Oscar

Tensão no quarto de dormir

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO

Dos cinco indicados a melhor filme no Oscar deste ano, "Entre Quatro Paredes" pode ser considerado o grande azarão. Concorrendo com blockbusters como "Uma Mente Brilhante", de Ron Howard, e "Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel", de Peter Jackson, o californiano Todd Field, 38, não se preocupa com a premiação. "Quem pode saber o que se passa na cabeça dos membros da Academia?", desconversa. Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Sundance, em 2001, seu longa está na disputa por cinco estatuetas (filme, roteiro adaptado, ator, atriz e atriz coadjuvante) e corre por fora para tentar garantir alguma categoria. É a aposta independente do ano: Field gastou US$ 1,7 milhão na produção, enquanto Jackson usou US$ 109 milhões, e Howard, US$ 60 milhões.
"Entre Quatro Paredes" (no original, "In the Bedroom") se baseia em livro de Andre Dubus, amigo pessoal de Field, que morreu pouco antes de começarem as filmagens. "Ele sempre construiu ótimos personagens", diz. A trama envolve uma família de classe média na Nova Inglaterra que tem seu cotidiano bruscamente alterado com o relacionamento do filho único (Nick Stahl) com uma mãe de dois filhos (Marisa Tomei) que tenta se separar do ex-marido.
Leia a seguir entrevista concedida à Folha, por telefone, de seu escritório em Los Angeles.

Folha - O que achou de ter sido indicado a cinco categorias do Oscar?
Todd Field -
Acho bom para o filme, mas não fico pensando nisso. Não foi nisso que eu estava pensando quando fiz o filme.

Folha - O que você acha dos outros indicados a melhor filme?
Field -
Não assisti a nenhum deles. Não tenho tempo. Minha vida é passar o dia todo no telefone.

Folha - Quais as chances de seu longa na competição à estatueta?
Field -
Quem consegue saber uma coisa dessas? Ninguém sabe o que se passa na cabeça dos membros da Academia [risos".

Folha - O filme já venceu o Globo de Ouro de melhor atriz (Sissy Spacek) e está indicado ao Oscar para ator (Tom Wilkinson), atriz (Spacek) e atriz coadjuvante (Marisa Tomei). Como foi a escolha do elenco e o processo de filmagem?
Field -
Foi tudo muito produtivo. Todos opinaram e o filme só cresceu com isso. São atores realmente maravilhosos e entenderam o que eu queria, que era enfocar a vida do casal mais velho, que tinha mais história e conflitos possíveis de serem explorados.

Folha - Você começou sua carreira como ator, tendo trabalhado com Woody Allen (em "A Era do Rádio") e Stanley Kubrick (em "De Olhos bem Fechados"). Acha que isso mudou seu jeito de dirigir?
Field -
Não sei dizer. Acho que o fato de eu ter começado como ator me fez ver o quanto outros envolvidos na produção podem contribuir para o resultado final.

Folha - Como foi a temporada em Sundance, no ano passado?
Field -
Tivemos uma ótima acolhida em Sundance. Foi a estréia do filme, e o público e a crítica receberam-no muito bem. Aliás, sempre que eu estive em Sundance fui bem recepcionado.

Folha - O que você quis mostrar em "In the Bedroom"?
Field -
O título é uma metáfora à situação das lagostas dentro das câmaras em que são caçadas [também chamadas de "bedrooms"". O que quis retratar é o casamento, com seus percalços, brigas, reconciliações, desventuras, ou seja, tudo de que ele é feito. E tudo isso se passa no espaço dentro de um quarto.

Folha - O que achou do título escolhido em português?
Field -
Bom, eu queria que o título fosse mantido. Mas, dentro do significado que eu imaginei, ele se encaixa perfeitamente também.

Folha - O filme é dedicado ao escritor Andre Dubus. Qual sua relação com ele?
Field -
Fomos muito amigos. Eu fui a última pessoa a falar com ele, no dia de sua morte, em 1999. Foi antes de começarmos as filmagens. Foi muito triste. O que eu tentei fazer foi uma homenagem a ele, recriando suas grandes histórias na telona. Ele sempre construiu ótimos personagens.

Folha - Você está trabalhando em um novo projeto?
Field -
Sim, estou escrevendo um roteiro. Mas não me sinto pronto para falar a respeito. É ainda muito novo e não quero falar sobre uma coisa que ainda não fiz. De repente, mudo de idéia e faço tudo diferente. Melhor não arriscar. Nunca se sabe, não é?



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