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MÚSICA
Rui Mendes inaugura amanhã, em SP, mostra dedicada a retratar sambistas históricos em seus próprios ambientes
Fotógrafo do rock se rende ao samba
DA REPORTAGEM LOCAL
O Rui Mendes que se notabilizou como fotógrafo de nove entre
dez bandas e discos do rock nacional dos anos 80 está de férias.
Em seu lugar, entra em cartaz
amanhã o autor da exposição
"Heróis do Samba".
A mostra reúne, na Pinacoteca
do Estado, em São Paulo, 23 imagens em preto-e-branco de grandes figuras do samba, das mais celebradas (como Guilherme de
Brito) às mais marginalizadas
(como Dona Shirley da Nenê, para Mendes uma "Aretha Franklin
brasileira, que nunca teve chance
de gravar um disco").
A tônica que une as fotos, de sabor "impressionista" segundo o
autor, é a de flagrar sambistas cariocas e paulistas como Dona Ivone Lara, Nelson Sargento, Germano Mathias, Mestre Fuleiro, Osvaldinho da Cuíca e outros em seu
habitat natural, quase como se fizessem parte da paisagem -as
salas de suas casas, quase sempre.
A idéia surgiu em 1994, de uma
reportagem que Rui Mendes, 40,
fotografou para a extinta revista
musical "Showbizz", inicialmente
com cinco sambistas. De lá para
cá, levou adiante a série, que já
conta com 38 fotografados.
"O objetivo, para mim, era homenagear essas pessoas, tirá-las
um pouco do ostracismo, mostrar
que existem e que já foram muito
importantes", define.
"O que mostro é a simplicidade
e a precariedade em que essas
pessoas tão importantes vivem. É
uma denúncia, é dizer "acorda,
gente"." Vários dos paulistas retratados prometeram presença na
inauguração, amanhã.
O grupo reunido nas fotos inclui autores e intérpretes, mas não
só. "Coloquei gente relacionada
ao samba em geral. Dona Zica,
por exemplo, está lá. A mostra ficou restrita a Rio e São Paulo, mas
pretendo transformá-la em livro e
documentário e aí fazer o Brasil
todo, com Riachão da Bahia, Antonio Vieira do Maranhão..."
Na tentativa de institucionalizar
o trabalho, encontrou os obstáculos de sempre: "Não consegui patrocínio, tive que investir do meu
próprio bolso. Uma marca de cerveja me disse que não queria sua
imagem atrelada ao samba".
E o rock?
Mais marcado por sua ligação
com a geração rock, Rui Mendes
se diz hoje desanimado com ela.
"Sempre fui ligado ao rock, mas
de uns anos para cá ele me encheu
o saco. Na verdade, nunca ouvi
muito rock. Nos 80 só ouvia porque era impossível não ouvir. Na
época eu gostava, fazia parte, mas
foi uma década de cópia, não há
nada de original ali", esnoba.
Ainda assim, é imodesto ao citar
sua participação naquela geração
agora quarentona: "Criei um certo visual para as bandas, em mais
de 300 capas de discos. Em muitos
casos, criei a própria identidade
das bandas. As atitudes do Ira! e
dos Raimundos fui eu que criei.
Eles vão dizer "não, imagina", mas
é verdade".
Nega que a aproximação com o
samba corresponda a qualquer
desavença com o rock. "Gosto
ainda de fotografar bandas, continuo fazendo. Mas meu trabalho
pessoal, hoje, é com o samba".
Conta, então, experiências do
Carnaval de 2002: "No centro do
Rio, o Carnaval está renascendo.
Vêm bandos de 60 bandidos da
periferia, maravilhosamente indumentados, só criar confusão.
Você passa por cadáveres no caminho e vê fantasias com Osama
Bin Laden e Saddam Hussein estampados ao lado da frase "paz
para quem merece". Ninguém sabe que isso tudo existe".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
HERÓIS DO SAMBA - exposição do
fotógrafo Rui Mendes.
Onde: Pinacoteca
do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/
229-9844).
Quando: a partir de amanhã,
às 11h; de terça a domingo, das 10h às
18h.
Quanto: entrada franca.
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