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São Paulo, sábado, 01 de março de 2003

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LIVROS/LANÇAMENTOS

"PREPARE SEU CORAÇÃO"

Produtor dirigiu eventos históricos dos anos 60

Solano Ribeiro relata sua versão sobre os festivais

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os festivais de MPB ganham revisão em livro, feita por dentro pelo seu principal idealizador, o produtor paulista Solano Ribeiro.
Em "Prepare Seu Coração - A História dos Grandes Festivais", o neo-escritor conta também outras memórias. Lembra-se de quando foi ator de teatro, nos anos 60, ou de quando diz ter tentado espantar o jabaculê (execução de música mediante pagamento) de uma rádio nos 70.
Mas é a relevância de sua participação nos festivais históricos dos anos 60 que justifica tanto o subtítulo do livro quanto sua existência. Ele admite, no entanto, que não se trata de um trabalho extensivo, de biografia: "Minha visão dos festivais é muito restrita, até porque é de quem estava fazendo, uma visão de bastidor".
Realçam-se no livro as polêmicas que acompanharam cada uma das premiações mais acirradas. De 66, o livro descreve a disputa (e empate final) entre "A Banda" (Chico Buarque) e "Disparada" (Geraldo Vandré), sugerindo que Chico tendia inicialmente a ser o vencedor. Mas Ribeiro fecha questão na legitimidade do resultado final: "O empate existiu".
De 67, diz que a polarização entre a tropicalista "Domingo no Parque" (Gilberto Gil) e a mais tradicional "Ponteio" (Edu Lobo) não trouxe maiores discussões. "O júri foi conservador e optou por "Ponteio'", avalia ele, que preferia "Domingo no Parque".
O mesmo não diz da radicalização de 68, quando a idílica "Sabiá" (de Chico e Tom Jobim) venceu a participante "Pra Não Dizer que Não Falei de Flores" (de Vandré), segundo o livro sugere, por imposição do regime militar. Mas tira o corpo fora do caso (ele não foi o diretor-geral, naquele ano). "Não tenho elementos para provar que foi assim, mas ouvi falar".
Sobre o "Festival dos Festivais" (85), nega que José Bonifácio Sobrinho, da Rede Globo, houvesse determinado a vitória de "Escrito nas Estrelas" (com Tetê Espíndola) sobre "Mira, Ira". "Não houve jamais isso. Inclusive eu achei melhor que não ganhasse "Mira, Ira", que na minha opinião forçava a barra no efeito "festivalesco"."
O livro é especialmente ácido com a tentativa de mais uma ressurreição dos festivais pela Globo, em 2000. "Foi a primeira vez que não tive controle total. Aquele festival teve 48 cenários diferentes e nenhum diretor musical sequer", critica.
Solano Ribeiro afirma, afinal, que não teve de omitir detalhes da história épica que atravessa suas memórias pessoais. "Fiz um relato dentro de minha maior possibilidade de ser sincero, do limite do meu pudor e da minha ética."


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