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OSCAR
Com piadas políticas e sexistas do apresentador Chris Rock e filmes sobre eutanásia, cerimônia consagra Clint Eastwood
Tom politicamente incorreto dita festa
DO ENVIADO A WEST HOLLYWOOD
A cerimônia do Oscar, anteontem, foi a noite do politicamente
incorreto. Primeiro, pelos premiados: "Menina de Ouro", que
defende a eutanásia privada, levou três das principais estatuetas
(filme, diretor e atriz, mais ator
coadjuvante); "Mar Adentro",
que defende a eutanásia pública,
foi escolhido melhor estrangeiro;
Jorge Drexler, proibido de cantar
pela produção, foi premiado e
cantou como protesto. E Chris
Rock foi tudo o que o Oscar mais
teme num apresentador: político,
sexista, implacável.
O polêmico drama dirigido por
Clint Eastwood, que arrancou
protestos de entidades conservadoras por não condenar um suicídio assistido em sua trama, bateu
"O Aviador", recordista em indicações e suposto favorito, e adiou
pela sétima vez o sonho de Martin
Scorsese de levar um Oscar. A cinebiografia do milionário excêntrico Howard Hughes concorria
em 11 categorias; ganhou cinco,
quatro técnicas mais a não-merecida atriz coadjuvante, pela interpretação caricata que Cate Blanchett fez de Katharine Hepburn.
"Tenho muita sorte de estar
aqui, ainda trabalhando", disse
Eastwood, 74 anos, 25 filmes dirigidos, em seu agradecimento. "Vi
Sidney Lumet, que tem 80, e pensei: sou apenas um garoto. Ainda
tenho muito o que fazer." Lumet
havia sido homenageado pelo
conjunto da obra -dirigiu clássicos como "Serpico" (1972) e "Rede de Intrigas" (1976). Sucedia no
palco Morgan Freeman, 67, que
acabara de levar o Oscar de coadjuvante em sua quarta tentativa.
Outro título polêmico, "Mar
Adentro", a cinebiografia do espanhol que lutou pelo direito de
morrer, deu a Alejandro Almenábar o título de melhor filme estrangeiro. "Este filme é baseado
na vida de um homem que, apesar do desejo por morrer, espalhou tanta vida ao seu redor", disse o diretor. Foi aplaudido de pé.
Mais um latino arrancaria aplausos: o uruguaio Drexler, proibido
de cantar sua "Al Otro Lado del
Río" pelo produtor-executivo do
programa, Gil Cates.
Foi "culpa" de Cates, aliás, o
ponto alto da noite: Chris Rock
como apresentador. A idéia era
rejuvenescer a cerimônia em busca do público da MTV e aumentar
uma audiência em declínio. Daí as
mudanças cosméticas, como
anunciar certas categorias técnicas no meio da platéia, de um dos
balcões do Kodak Theatre ou
mesmo levando todos os concorrentes ao palco, que virava um telão gigante. Daí a música de Eminem encerrando o tradicional clipe de abertura. Daí a presença de
P. Diddy introduzindo Beyoncé.
Daí Chris Rock. Só que o comediante negro de 37 anos fugiu do
controle e, sem falar um só palavrão, salvou as pouco mais de três
horas da maratona do tédio absoluto. Seu texto de abertura é um
dos mais pesados e políticos da
história do Oscar. Começando
com "Sentem suas bundas!" para
encerrar os aplausos, criticou o
presidente George W. Bush, o déficit trilionário do país e a Guerra
do Iraque numa só frase, hilariante, que comparava os EUA a uma
loja Gap e o conflito a uma batalha
com a Banana Republic.
Detonou colegas como Jude
Law ("Se você quer uma estrela
como Tom Cruise, espere!"), Tobey Maguire ("Apenas um garoto
com roupas justas") e Halle Berry,
"a atriz do ansiosamente aguardado "Mulher-Gato 2'". Ela foi a
única a não achar graça. Rock falou o impronunciável: que a Academia ignorou os filmes que definiram o país em 2004, "Fahrenheit 11 de Setembro" e "A Paixão
de Cristo". Provocou as intocáveis
comunidades judaica e gay.
Foi deliciosamente machista, ao
anunciar Penélope Cruz e Salma
Hayek: "Vocês não vão conseguir
tirar os olhos dos próximos quatro apresentadores", referindo-se
aos seios das latinas. Foi deliciosamente racista ao contrário, ao entrevistar espectadores negros do
Magic Johnson Multiplex, no
Harlem, que só gostavam de porcarias e não viram nenhum dos
cinco filmes indicados.
(Não espere ver Chris Rock por
aqui no ano que vem, já que a audiência caiu em relação ao ano
passado -33 milhões de pessoas
contra 43,5 milhões em 2004.)
De resto, Hilary Swank ("Menina de Ouro") bateu de novo Annette Bening ("Adorável Julia")
cinco anos depois de duelo semelhante, e Jamie Foxx venceu como
ator por "Ray", não conseguindo
repetir a emoção do discurso no
Globo de Ouro.
(SÉRGIO DÁVILA)
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