|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Berlim, Texas"
Pethit mostra senso estético e sabe ser espontâneo
Em onze faixas, o cantor apresenta uma música com ar urbano e poliglota
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Thiago Pethit é um ator,
mas seu método parece
ser o da vida. Encarnando um cantor compositor, a
representação é menor que o
ímpeto de viver o personagem
em primeira pessoa. De mansinho, nos últimos anos, gravou
EP e single, fez clipe charmoso,
filmou curta, teve aulas de
composição em Buenos Aires e
se jogou em pequenos shows
justamente comentados à boca
pequena.
Algo que o ajuda é o fato de
estar inserido, pelas relações,
gostos, geração e universo, em
uma tal nova cena folk em São
Paulo, de Tiê, Vanguart, até
Mallu Magalhães. Mas o trunfo
é a naturalidade de seu senso
estético e a espontaneidade para criar seu universo sobre tango argentino, valsa francesa,
folk americano, pop europeu.
Intenções expandidas
Chegando agora ao primeiro
álbum, "Berlim, Texas", o capricho continua, mas as intenções se expandem. Por onze faixas - cinco em português, cinco em inglês, uma em francês
-, ele apresenta uma música
urbana e poliglota, confessional e orgânica, estilizada e sincera. É o indie delicado e deliberadamente idiossincrático
de Beirut, Andrew Bird, Chris
Garneau, Yann Tiersen, Devendra Banhart, com o senso
pop de canções que buscam
aquela sensação de abrir os braços quando chega o refrão.
O disco se revela em dinâmicas sussurradas, detalhes que
entram e saem, sonoridade
acústica levada por pianos, violões de nylon, ukuleles, violoncelos, sanfonas, poucas baterias.
Tudo muito simples, quase
minimalista, ideias e sons apresentados um por um, colocados
de maneira direta. Direto e
simples, mas desviando da banalidade pelo espaço que deixa
para o disco soar, questões
ecoarem, imperfeições enriquecerem o todo.
Pethit é ótimo cantor, instintivo e entregue, à vontade interpretando letras sobre despedidas, amores, passeios, cartas.
Imagens suspensas no ar em
canções contemplativas, talvez
tristonhas, mas não exatamente melancólicas. De um romantismo idealizado, mas não exatamente ingênuo. Com o senso
de humor sutil de uma interpretação, mas vivida em primeira pessoa.
BERLIM, TEXAS
Artista: Thiago Pethit
Lançamento: independente
Quanto: R$ 20, em média
Avaliação: bom
Texto Anterior: Cabaré chic Próximo Texto: Comentário/"Pornô - Falcatrua Nº 18.633": "Pornô" traz Irvine Welsh a clube do Baixo Augusta Índice
|