São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2010

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Crítica/"Berlim, Texas"

Pethit mostra senso estético e sabe ser espontâneo

Em onze faixas, o cantor apresenta uma música com ar urbano e poliglota

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Thiago Pethit é um ator, mas seu método parece ser o da vida. Encarnando um cantor compositor, a representação é menor que o ímpeto de viver o personagem em primeira pessoa. De mansinho, nos últimos anos, gravou EP e single, fez clipe charmoso, filmou curta, teve aulas de composição em Buenos Aires e se jogou em pequenos shows justamente comentados à boca pequena.
Algo que o ajuda é o fato de estar inserido, pelas relações, gostos, geração e universo, em uma tal nova cena folk em São Paulo, de Tiê, Vanguart, até Mallu Magalhães. Mas o trunfo é a naturalidade de seu senso estético e a espontaneidade para criar seu universo sobre tango argentino, valsa francesa, folk americano, pop europeu.

Intenções expandidas
Chegando agora ao primeiro álbum, "Berlim, Texas", o capricho continua, mas as intenções se expandem. Por onze faixas - cinco em português, cinco em inglês, uma em francês -, ele apresenta uma música urbana e poliglota, confessional e orgânica, estilizada e sincera. É o indie delicado e deliberadamente idiossincrático de Beirut, Andrew Bird, Chris Garneau, Yann Tiersen, Devendra Banhart, com o senso pop de canções que buscam aquela sensação de abrir os braços quando chega o refrão.
O disco se revela em dinâmicas sussurradas, detalhes que entram e saem, sonoridade acústica levada por pianos, violões de nylon, ukuleles, violoncelos, sanfonas, poucas baterias.
Tudo muito simples, quase minimalista, ideias e sons apresentados um por um, colocados de maneira direta. Direto e simples, mas desviando da banalidade pelo espaço que deixa para o disco soar, questões ecoarem, imperfeições enriquecerem o todo.
Pethit é ótimo cantor, instintivo e entregue, à vontade interpretando letras sobre despedidas, amores, passeios, cartas. Imagens suspensas no ar em canções contemplativas, talvez tristonhas, mas não exatamente melancólicas. De um romantismo idealizado, mas não exatamente ingênuo. Com o senso de humor sutil de uma interpretação, mas vivida em primeira pessoa.


BERLIM, TEXAS

Artista: Thiago Pethit
Lançamento: independente
Quanto: R$ 20, em média
Avaliação: bom




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