Selo recupera gravações históricas de Magda Tagliaferro em lançamento

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Cabelos vermelhos, vestidos chamativos, perfume forte e fala veemente: uma das presenças mais marcantes da cena musical brasileira no século 20, a pianista Magdalena Tagliaferro (1893-1986) tem sua arte celebrada em um generoso lançamento.
A edição selo Doremi, especializado em gravações históricas, traz dois CDs e um DVD e abrange 35 anos de trajetória, entre itens solo e com orquestra. A capa diz "volume 1", o que faz lícito esperar por ainda mais material.
Professora de uma plêiade de virtuoses do teclado, Tagliaferro ganhou notoriedade também graças às aulas públicas, que eram transmitidas por rádio. Financeiramente arruinada pelo segundo casamento, continuou se apresentando em público com idade avançada, quando as mãos já não obedeciam aos comandos de seu cérebro com a mesma presteza.
É dessa época a maioria dos registros em vídeo de suas performances, que circulam por aqui de forma pirata, entre os aficionados. Por isso, a maior joia do estojo da Doremi, que apaga a impressão negativa dos vídeos clandestinos, é o DVD, que traz performance incandescente do difícil terceiro concerto para piano de Prokofiev.
Gravada em Paris, em 1968, a apresentação traz Tagliaferro em plena forma, acompanhada pela Orquestra da ORTF, sob a batuta de Francesco Mandez. Quatro anos mais tarde, no Rio de Janeiro, ela registrou as obras solo de Chopin que formam o primeiro disco da caixa.
Aí, o caráter poético do compositor polonês aparece em sua plenitude, embora a pianista tenha de negociar com as passagens mais rápidas de quando em vez -algo que não acontece no segundo disco do álbum, no qual, em registro de 1935, ela toca o "Concerto em mi maior" de um de seus maiores amigos, o franco-venezuelano Reynaldo Hahn (1874-1947).
Com o próprio compositor na regência, Tagliaferro defende com brilho e empenho o concerto de Hahn (a ela dedicado), mostrando ainda refinamento em duas obras de Mozart: o "Concerto da Coroação" e a "Sonata K. 576", gravados ao vivo, em Paris. Imperdível para colecionadores, a caixa vale muito também para quem deseja conhecer esse talento brasileiro tão essencial.