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TELEVISÃO
Vera Fischer, a dona das emoções da noite
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
O transatlântico é branco em
sua enormidade. A loura dourada
pelo sol usa óculos escuros, mas de
armação branca. O vestido é quase todo branco, usando apenas
um ombro para seu equilíbrio.
Todo esse branco e dourado desce
a escada até o cais.
Um homem de cabelos também
muito brancos vê a cena e é totalmente envolvido pelo encantamento. Sabemos que é Francisco
Cuoco, muito bem protegido por
uma fortuna de milhões. Também
sabemos que a mulher dourada é
a esplendorosa Vera Fischer em
mais uma participação especial,
agora em "Pecado Capital".
Vera Fischer talvez não tenha
sido informada da delicadeza de
sua missão. Em grande número
de cenas sua beleza será sempre
ovacionada. Basta ela interromper uma lamúria da Cassia Kiss,
sufocar uma reação da Suely
Franco ou espantar algum ato da
Paloma Duarte, última lelé da cuca em atividade, num disfarce de
periclitante modernidade.
Ao mesmo tempo, Vera Fischer
nunca deverá ultrapassar os limites do que já foi consagrado como
território da Carolina Ferraz. Ela
é uma atriz de admiradores estritamente fanáticos em sua totalidade, inteiramente seduzidos pela -oh, qualidade tão absurda
em sua raridade- alegria de sua
beleza. É bom que se acrescente
que esses admiradores já estavam
pensando em recorrer às armas,
diante dos maus-tratos e menosprezo que os dotes valiosíssimos
de sua atriz favorita vêm merecendo da trama desnorteada.
Todo cuidado é pouco. Ao comentar seu glorioso desembarque, Francisco Cuoco, o "noivo"
de Carolina, recorreu logo às aspas, numa tentativa de recuperar
um poema. Além disso, Vera Fischer foi transportada até seu endereço por um Eduardo Moscovis
de alegria nunca mais vista em
uma centena de capítulos.
Perigo ainda maior, o endereço
que ela escolheu é o mesmo onde
mora o já comprometido, mas fascinado Francisco Cuoco. Ao preparar um uísque com a ajuda de
um "decanter" de cristal, ele vê
Vera Fischer descer as escadas de
sua casa com o esplendor realçado pelo repouso que uma bela viajante tanto merece.
Dessa vez, o fim do capítulo funcionou. Vera Fischer era, no meio
de tanta excitação, a dona inquestionável das emoções da noite. Talvez nem precisasse lembrar
de sua ilha grega. A noite era dela.
Até que, no decorrer tumultuado de "Suave Veneno", Irene Ravache grita. Ao ser informada pelo marido, Waldomiro, de que ele
queria divórcio, ela grita. "Waldomiro, me pega!" Há muito tempo uma atriz não esquecia de que
quem tem rede é circo. Nunca TV.
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