São Paulo, segunda, 1 de março de 1999

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TELEVISÃO
Vera Fischer, a dona das emoções da noite

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

O transatlântico é branco em sua enormidade. A loura dourada pelo sol usa óculos escuros, mas de armação branca. O vestido é quase todo branco, usando apenas um ombro para seu equilíbrio. Todo esse branco e dourado desce a escada até o cais.
Um homem de cabelos também muito brancos vê a cena e é totalmente envolvido pelo encantamento. Sabemos que é Francisco Cuoco, muito bem protegido por uma fortuna de milhões. Também sabemos que a mulher dourada é a esplendorosa Vera Fischer em mais uma participação especial, agora em "Pecado Capital".
Vera Fischer talvez não tenha sido informada da delicadeza de sua missão. Em grande número de cenas sua beleza será sempre ovacionada. Basta ela interromper uma lamúria da Cassia Kiss, sufocar uma reação da Suely Franco ou espantar algum ato da Paloma Duarte, última lelé da cuca em atividade, num disfarce de periclitante modernidade.
Ao mesmo tempo, Vera Fischer nunca deverá ultrapassar os limites do que já foi consagrado como território da Carolina Ferraz. Ela é uma atriz de admiradores estritamente fanáticos em sua totalidade, inteiramente seduzidos pela -oh, qualidade tão absurda em sua raridade- alegria de sua beleza. É bom que se acrescente que esses admiradores já estavam pensando em recorrer às armas, diante dos maus-tratos e menosprezo que os dotes valiosíssimos de sua atriz favorita vêm merecendo da trama desnorteada.
Todo cuidado é pouco. Ao comentar seu glorioso desembarque, Francisco Cuoco, o "noivo" de Carolina, recorreu logo às aspas, numa tentativa de recuperar um poema. Além disso, Vera Fischer foi transportada até seu endereço por um Eduardo Moscovis de alegria nunca mais vista em uma centena de capítulos.
Perigo ainda maior, o endereço que ela escolheu é o mesmo onde mora o já comprometido, mas fascinado Francisco Cuoco. Ao preparar um uísque com a ajuda de um "decanter" de cristal, ele vê Vera Fischer descer as escadas de sua casa com o esplendor realçado pelo repouso que uma bela viajante tanto merece.
Dessa vez, o fim do capítulo funcionou. Vera Fischer era, no meio de tanta excitação, a dona inquestionável das emoções da noite. Talvez nem precisasse lembrar de sua ilha grega. A noite era dela.
Até que, no decorrer tumultuado de "Suave Veneno", Irene Ravache grita. Ao ser informada pelo marido, Waldomiro, de que ele queria divórcio, ela grita. "Waldomiro, me pega!" Há muito tempo uma atriz não esquecia de que quem tem rede é circo. Nunca TV.




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