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CINEMA
Diretor de "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é tema de obra
Ensaio analisa os filmes e a força criativa de Michel Gondry
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Vá até a fila de um cinema
com programação diferenciada, pergunte a esmo quem conhece Michel Gondry e obtenha o
número A. Faça o mesmo em relação a Charlie Kaufman e fique
com o número B. E quem já viu
"Brilho Eterno de uma Mente sem
Lembranças" (04)? Esse é o número C. Muito provavelmente, C
será maior do que B. A insólita comédia romântica com Jim Carrey
e Kate Winslet já é objeto de pequeno culto, mas nem todos se
lembrarão de que o roteiro, premiado com o Oscar, tem a assinatura de Kaufman, o mesmo de
"Quero Ser John Malkovich" (99)
e "Adaptação" (02).
Ainda assim, B será maior do
que A. No universo do cinema
americano de grife, Kaufman tem
nome mais forte do que Gondry,
diretor de "Brilho Eterno" (e de
"A Natureza Quase Humana", de
2001, também escrito pelo roteirista). Coisas da era do marketing.
Se alguma obra se desvenda nesse
filme sobre memórias que se apagam, é bem mais a de Gondry do
que a de Kaufman.
Michel quem? O realizador
francês que, antes de chegar ao cinema, tocou na banda Oui Oui e
se notabilizou realizando vídeos
musicais, em especial meia dúzia
com a islandesa Björk, entre eles
"Human Behaviour" e "Army of
Me". As constantes de seu trabalho são examinadas pelo jornalista Marcelo Rezende, editor da revista "Bravo!", em "Ciência do Sonho - A Imaginação sem Fim do
Diretor Michel Gondry".
O ensaio inaugura a coleção Situações, da Alameda Editorial,
em companhia de "Sobre a Felicidade - Ansiedade e Consumo na
Era do Hipercapitalismo", da socióloga e filósofa eslovena Renata
Salecl, e "De Volta aos Anos 60
-°Uma Viagem pelo Ideal Revolucionário", do crítico e escritor
francês Pierre Bergounioux.
Rezende se refere a Gondry, 42,
como um "artista de imagens"
que trabalha em cenário onde
"não existe mais a separação entre
cinematográfico e televisivo, tecnológico e artesanal", e cuja originalidade "está no modo como escolhe e se apropria de um imenso
repertório e imprime seu nome
sobre ele".
Primeiro, vêm as conexões francesas de "Brilho Eterno" -com
as obras do artista plástico Pierre
Bismuth e do músico e cineasta
Jean-Louis Bompoint, amigos de
Gondry, e com a reflexão sobre o
tempo e a memória nos filmes de
Alain Resnais, sobretudo em "Je
t'Aime, Je t'Aime" (68).
Depois, Rezende se detém na
"relação de fantasia conjugal" entre Gondry e Björk, "a única, real e
sólida musa para o recente período de fim-de-século, um instante
de exaltação do luxo e do gesto
criativo como sintoma de excentricidade". Desfeita a parceria, nova fase é aberta com os clipes de
"Star Guitar" e "Let Forever Be",
do Chemical Brothers.
Companhia ideal para a leitura
do ensaio é o DVD dedicado a
Gondry na série "The Work of Director", inédita no Brasil, com todos os trabalhos mencionados
por Rezende em sua breve, panorâmica e vigorosa análise, e mais
um punhado de experiências audiovisuais que permitem entender melhor por que, segundo o
autor, o cineasta cria "uma tela na
qual alguma coisa está realmente
acontecendo, algo que excita a
mente".
Ciência do Sonho
Autor: Marcelo Rezende
Editora: Alameda
Quanto: R$ 19,90 (48 págs.)
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