São Paulo, sábado, 01 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVROS

CINEMA


Diretor de "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é tema de obra

Ensaio analisa os filmes e a força criativa de Michel Gondry

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Vá até a fila de um cinema com programação diferenciada, pergunte a esmo quem conhece Michel Gondry e obtenha o número A. Faça o mesmo em relação a Charlie Kaufman e fique com o número B. E quem já viu "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" (04)? Esse é o número C. Muito provavelmente, C será maior do que B. A insólita comédia romântica com Jim Carrey e Kate Winslet já é objeto de pequeno culto, mas nem todos se lembrarão de que o roteiro, premiado com o Oscar, tem a assinatura de Kaufman, o mesmo de "Quero Ser John Malkovich" (99) e "Adaptação" (02).
Ainda assim, B será maior do que A. No universo do cinema americano de grife, Kaufman tem nome mais forte do que Gondry, diretor de "Brilho Eterno" (e de "A Natureza Quase Humana", de 2001, também escrito pelo roteirista). Coisas da era do marketing. Se alguma obra se desvenda nesse filme sobre memórias que se apagam, é bem mais a de Gondry do que a de Kaufman.
Michel quem? O realizador francês que, antes de chegar ao cinema, tocou na banda Oui Oui e se notabilizou realizando vídeos musicais, em especial meia dúzia com a islandesa Björk, entre eles "Human Behaviour" e "Army of Me". As constantes de seu trabalho são examinadas pelo jornalista Marcelo Rezende, editor da revista "Bravo!", em "Ciência do Sonho - A Imaginação sem Fim do Diretor Michel Gondry".
O ensaio inaugura a coleção Situações, da Alameda Editorial, em companhia de "Sobre a Felicidade - Ansiedade e Consumo na Era do Hipercapitalismo", da socióloga e filósofa eslovena Renata Salecl, e "De Volta aos Anos 60 -°Uma Viagem pelo Ideal Revolucionário", do crítico e escritor francês Pierre Bergounioux.
Rezende se refere a Gondry, 42, como um "artista de imagens" que trabalha em cenário onde "não existe mais a separação entre cinematográfico e televisivo, tecnológico e artesanal", e cuja originalidade "está no modo como escolhe e se apropria de um imenso repertório e imprime seu nome sobre ele".
Primeiro, vêm as conexões francesas de "Brilho Eterno" -com as obras do artista plástico Pierre Bismuth e do músico e cineasta Jean-Louis Bompoint, amigos de Gondry, e com a reflexão sobre o tempo e a memória nos filmes de Alain Resnais, sobretudo em "Je t'Aime, Je t'Aime" (68).
Depois, Rezende se detém na "relação de fantasia conjugal" entre Gondry e Björk, "a única, real e sólida musa para o recente período de fim-de-século, um instante de exaltação do luxo e do gesto criativo como sintoma de excentricidade". Desfeita a parceria, nova fase é aberta com os clipes de "Star Guitar" e "Let Forever Be", do Chemical Brothers.
Companhia ideal para a leitura do ensaio é o DVD dedicado a Gondry na série "The Work of Director", inédita no Brasil, com todos os trabalhos mencionados por Rezende em sua breve, panorâmica e vigorosa análise, e mais um punhado de experiências audiovisuais que permitem entender melhor por que, segundo o autor, o cineasta cria "uma tela na qual alguma coisa está realmente acontecendo, algo que excita a mente".


Ciência do Sonho
   
Autor: Marcelo Rezende
Editora: Alameda
Quanto: R$ 19,90 (48 págs.)

LEIA TRECHO DO LIVRO


Texto Anterior: Outro lado: Ministério diz que inclusão de livro foi engano
Próximo Texto: Filosofia: Obras discutem relações inter-religiosas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.