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Ex-colega de Supla compõe para Hollywood
Nos EUA desde os 18 anos, Marcelo Zarvos, 37, tem 25 filmes no currículo e pode ser "ouvido" atualmente em "O Bom Pastor"
Ex-membro da banda Tokyo, de Supla, músico estudou em instituto de Walt Disney; De Niro chamou-o pessoalmente para trabalhar em filme
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
A ficha técnica do filme "O
Bom Pastor", atualmente em
cartaz no Brasil, tem Robert De
Niro na direção; Matt Damon,
Angelina Jolie, Alec Baldwin e
outros no elenco; entre os produtores executivos, Francis
Ford Coppola; e, na trilha sonora, Marcelo Zarvos... Quem?
Nascido em São Paulo, esse
compositor de 37 anos, acredite, tem 25 filmes no currículo,
dos quais os mais recentes são
"O Bom Pastor" e "Hollywoodland -0Bastidores da Fama",
ambos produções de 2006.
Apesar do farto currículo, o
compositor Zarvos não imagina ser reconhecido na rua por
seus filmes em Hollywood.
"Quase ninguém que trabalha
com trilhas sonoras tem essa
pretensão. Celebridades são o
diretor e os atores. Os compositores fazem a sua parte cuidando da música, que é mágica e
tem um poder incrível", afirma,
lembrando que um dos maiores
compositores da indústria cinematográfica americana, o
italiano Ennio Morricone, só
ganhou um Oscar neste ano.
A pouca visibilidade da função, contudo, não parece arrefecer o encantamento de Zarvos pelo cinema e pela música.
"Desde criança, sempre fui vidrado [em filmes]", conta. Depois, veio a música. Aos dez
anos, ele começou a tocar piano. "Minhas paixões eram justamente as trilhas. A primeira
coisa que eu quis aprender foi a
música do "Golpe de Mestre"."
A liberdade de criação que o
cinema oferece a um músico o
seduzia -afinal, pode-se inventar coisas que não seriam compreendidas dentro de um disco.
"Gostava de improvisar. Nem
sabia ler partitura, mas já tentava uma forma rústica de composição", lembra.
Anos 80 com Supla
Sua primeira experiência
profissional nessa área foi na
banda Tokyo, liderada por Supla, que nasceu em 1985. Muito
ocupado em conciliar a escola e
as exigências da carreira que se
abria à sua frente, o adolescente Zarvos não entendia bem o
que significava a abertura política na história do país. "Hoje,
olhando para trás, sinto-me orgulhoso de ter participado daquele momento", diz.
Aos 18 anos, ele quis ir para
os EUA fazer faculdade. Os pais
não se opuseram, já acostumados a ter um artista na família.
A intenção era estudar música para cinema, mas Zarvos
deixou a idéia adormecida porque acreditava que deveria antes buscar uma formação sólida
como pianista. Era 1988, e ele
entrou para o California Institute of Arts, fundado por Walt
Disney. Lá, conheceu ritmos e
estilos do mundo todo, o que
contribuiu para se preparar para o ofício que abraçaria definitivamente dez anos depois.
Zarvos tocava com uma banda em bares vanguardistas de
Nova York quando conheceu o
diretor brasileiro Paulo Machline. "Dei a ele alguns discos
meus, ele gostou e acabou me
convidando para fazer a trilha
sonora do curta "Uma História
de Futebol", que foi lançado em
1998 e conta a história de Pelé."
A outro brasileiro do ramo,
Afonso Gonçalves, ele deve a
indicação para outro trabalho,
"Tully", que se passa em uma
fazenda de Nebraska, nos EUA.
Nesse momento, Zarvos precisou de toda a sua versatilidade.
"Existem alguns compositores
que se especializam em determinado estilo de música. Boa
parte da minha formação é em
música brasileira. Eu poderia
ter feito isso, mas acho melhor
estar sempre aberto. Ademais,
vivi metade da minha vida nos
EUA, creio que compreendo
bem a cultura local", comenta.
Saiu-se bem, fez amizade
com o pessoal do estúdio Focus
Features, mais filmes vieram.
O pianista esporadicamente
ainda grava discos próprios e
escreve peças para companhias
de dança. Considera-se realizado por só trabalhar em filmes a
que gostaria de assistir. Tendo
sido convidado por Robert De
Niro para fazer a trilha de "O
Bom Pastor", o que ainda falta?
"Que diretores brasileiros me
chamem. O fato de eu morar
nos EUA dificultou um pouco
que me aproximasse deles."
Além de Fernando Meirelles,
Walter Salles e Bruno Barreto,
Zarvos frisa que aprecia as
obras de Beto Brant. "Não o conheço, não sei em que realidade
ele vive, mas é bacana demais
ele fazer cinema brasileiro
mesmo", elogia. Se Brant tiver
algum projeto em vista, já encontrou o compositor.
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