São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Ex-colega de Supla compõe para Hollywood

Nos EUA desde os 18 anos, Marcelo Zarvos, 37, tem 25 filmes no currículo e pode ser "ouvido" atualmente em "O Bom Pastor"

Ex-membro da banda Tokyo, de Supla, músico estudou em instituto de Walt Disney; De Niro chamou-o pessoalmente para trabalhar em filme

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

A ficha técnica do filme "O Bom Pastor", atualmente em cartaz no Brasil, tem Robert De Niro na direção; Matt Damon, Angelina Jolie, Alec Baldwin e outros no elenco; entre os produtores executivos, Francis Ford Coppola; e, na trilha sonora, Marcelo Zarvos... Quem?
Nascido em São Paulo, esse compositor de 37 anos, acredite, tem 25 filmes no currículo, dos quais os mais recentes são "O Bom Pastor" e "Hollywoodland -0Bastidores da Fama", ambos produções de 2006.
Apesar do farto currículo, o compositor Zarvos não imagina ser reconhecido na rua por seus filmes em Hollywood. "Quase ninguém que trabalha com trilhas sonoras tem essa pretensão. Celebridades são o diretor e os atores. Os compositores fazem a sua parte cuidando da música, que é mágica e tem um poder incrível", afirma, lembrando que um dos maiores compositores da indústria cinematográfica americana, o italiano Ennio Morricone, só ganhou um Oscar neste ano.
A pouca visibilidade da função, contudo, não parece arrefecer o encantamento de Zarvos pelo cinema e pela música. "Desde criança, sempre fui vidrado [em filmes]", conta. Depois, veio a música. Aos dez anos, ele começou a tocar piano. "Minhas paixões eram justamente as trilhas. A primeira coisa que eu quis aprender foi a música do "Golpe de Mestre"."
A liberdade de criação que o cinema oferece a um músico o seduzia -afinal, pode-se inventar coisas que não seriam compreendidas dentro de um disco. "Gostava de improvisar. Nem sabia ler partitura, mas já tentava uma forma rústica de composição", lembra.

Anos 80 com Supla
Sua primeira experiência profissional nessa área foi na banda Tokyo, liderada por Supla, que nasceu em 1985. Muito ocupado em conciliar a escola e as exigências da carreira que se abria à sua frente, o adolescente Zarvos não entendia bem o que significava a abertura política na história do país. "Hoje, olhando para trás, sinto-me orgulhoso de ter participado daquele momento", diz.
Aos 18 anos, ele quis ir para os EUA fazer faculdade. Os pais não se opuseram, já acostumados a ter um artista na família.
A intenção era estudar música para cinema, mas Zarvos deixou a idéia adormecida porque acreditava que deveria antes buscar uma formação sólida como pianista. Era 1988, e ele entrou para o California Institute of Arts, fundado por Walt Disney. Lá, conheceu ritmos e estilos do mundo todo, o que contribuiu para se preparar para o ofício que abraçaria definitivamente dez anos depois.
Zarvos tocava com uma banda em bares vanguardistas de Nova York quando conheceu o diretor brasileiro Paulo Machline. "Dei a ele alguns discos meus, ele gostou e acabou me convidando para fazer a trilha sonora do curta "Uma História de Futebol", que foi lançado em 1998 e conta a história de Pelé."
A outro brasileiro do ramo, Afonso Gonçalves, ele deve a indicação para outro trabalho, "Tully", que se passa em uma fazenda de Nebraska, nos EUA. Nesse momento, Zarvos precisou de toda a sua versatilidade. "Existem alguns compositores que se especializam em determinado estilo de música. Boa parte da minha formação é em música brasileira. Eu poderia ter feito isso, mas acho melhor estar sempre aberto. Ademais, vivi metade da minha vida nos EUA, creio que compreendo bem a cultura local", comenta.
Saiu-se bem, fez amizade com o pessoal do estúdio Focus Features, mais filmes vieram.
O pianista esporadicamente ainda grava discos próprios e escreve peças para companhias de dança. Considera-se realizado por só trabalhar em filmes a que gostaria de assistir. Tendo sido convidado por Robert De Niro para fazer a trilha de "O Bom Pastor", o que ainda falta? "Que diretores brasileiros me chamem. O fato de eu morar nos EUA dificultou um pouco que me aproximasse deles."
Além de Fernando Meirelles, Walter Salles e Bruno Barreto, Zarvos frisa que aprecia as obras de Beto Brant. "Não o conheço, não sei em que realidade ele vive, mas é bacana demais ele fazer cinema brasileiro mesmo", elogia. Se Brant tiver algum projeto em vista, já encontrou o compositor.


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