São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Músico vai a Los Angeles sem sair de SP

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

As imagens do filme "O Amor nos Tempos do Cólera", produção americana dirigida pelo britânico Mike Newell, com Javier Bardem no papel principal, nada têm a ver com o Brasil.
Mas a trilha sonora da adaptação cinematográfica do romance de Gabriel García Márquez está sendo composta num estúdio próximo do estádio Pacaembu. É de lá que o compositor Antonio Pinto realiza a façanha de morar em São Paulo e trabalhar em Los Angeles.
"Não tenho interesse em sair do Brasil. Tenho a sorte de poder fazer esses trabalhos aqui", afirma o músico.
Sorte apenas não basta para construir uma carreira em Hollywood. Mas certamente ajuda e, nesse quesito, Pinto, que é filho do cartunista Ziraldo, não tem do que reclamar.
Admirador de cinema que fazia trilhas para publicidade, Pinto estreou em longas pelas mãos do cineasta Walter Salles.
Quando "Central do Brasil" recebeu duas indicações ao Oscar -melhor filme estrangeiro e atriz (Fernanda Montenegro)-, Pinto foi à cerimônia de entrega das estatuetas, em 1999, "pela festa, pela diversão, e sem nenhuma ilusão de que chegaria em Los Angeles e entraria no mercado internacional ou qualquer coisa assim".
Um encontro com uma agente de Hollywood sepultou qualquer pretensão. "Ela me desencorajou totalmente e de maneira bombástica. Disse que havia em Los Angeles umas três agências, com 300 compositores cada uma, que disputavam os trabalhos", diz Pinto, 39.
O compositor voltou a Hollywood e à entrega dos Oscar cinco anos depois disso, quando "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, no qual assina a trilha, teve quatro indicações (direção, fotografia, montagem e roteiro adaptado).
Antes de embarcar, Pinto recebeu o telefonema de um tal Brice Gaeta, que dizia querer representá-lo em Hollywood.
"Imaginei estar falando com um cara barrigudo, bebendo cerveja e vendo TV no meio do Texas", relembra. Não era bem assim. Jovem e descolado, Gaeta esperou o brasileiro em Los Angeles com uma reunião agendada com o cineasta Michael Mann.
Como "não fazia a menor idéia de quem era Michael Mann", Pinto tratou-o com a maior naturalidade e falta de cerimônia. Sorte, acredita.
"Ele ficou à vontade comigo e me chamou para ver umas cenas do filme que estava fazendo. Quando olhei, o Tom Cruise e o Jamie Foxx estavam na tela. Era "Colateral", para o qual Pinto fez parte da trilha.
Para que sua carreira internacional prosseguisse, em filmes como "Senhor da Guerra", estrelado por Nicolas Cage, Pinto acha que contou muito sua habilidade de "juntar o primo pobre e o primo rico", ou seja, dar um tempero diferente ao som orquestral que tanto agrada a Hollywood.
O músico já aplicou a mistura aos inéditos "Estranha Perfeita", com Halle Berry, previsto para estrear no próximo dia 13, e "10 Items or Less", com Morgan Freeman e Paz Vega, ainda sem data de estréia no país.
O sotaque totalmente brasileiro Pinto exercitou outra vez na trilha sonora de "Cidade dos Homens", de Paulo Morelli (sócio de Fernando Meirelles), que será lançado em agosto.


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