São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jair e Quinteto se encontram em CD

Sambistas do Quinteto em Branco e Preto produzem disco de veterano e lançam também o seu próprio, pela Trama

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre o acender e o apagar da chama ao redor da qual acontece o Samba da Vela, a já tradicional roda de samba do bairro paulistano de Santo Amaro, delineou-se a essência de dois álbuns que chegam agora às lojas.
Natural que um deles seja do Quinteto em Branco e Preto, cuja formação inclui dois dos fundadores da roda. O outro, também produção dos cinco rapazes, tem a assinatura mais insuspeita de Jair Rodrigues.
João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora Trama, foi quem idealizou a parceria. E aproveitou para lançar simultaneamente "Patrimônio da Humanidade", terceiro CD do Quinteto (na primeira incursão pela gravadora), e "Jair Rodrigues em Branco e Preto", do veterano cliente da Trama.
Jair, 69, assegura que "estava de olho nesses meninos" fazia tempo. "Eu os conheço desde antes da Beth Carvalho", diz, referindo-se à sambista que primeiro divulgou o trabalho do Quinteto, "só não sabia que compunham assim tão bem!".
Ciente de tais talentos, Jair aceitou a tutela dos "meninos" na produção e gravou algumas músicas oriundas da roda de Santo Amaro, caso de "Depois Chorei", de Walter Monteiro e Gilberto Alves, e do "sambaião" "Migração", de Magnu Sousá e Maurilio de Oliveira -irmãos que formam o Quinteto com os também irmãos Pessoa.
Da leva off-Samba da Vela, destaca-se "Como Tem Ladrão" (Ary do Cavaco/ Otacílio da Mangueira), que nas mãos de Jair ganhou letra amenizada (nos versos "Se votar pra deputado/ Você é roubado", ele preferiu "certos deputados") e título novo (Jair achou "História do Brasil" pessimista para o samba sobre ladrões).
Jair assume que o CD privilegia a produção de São Paulo, seja no choro de seu filho Jair Oliveira, "Vida em Sonho"; seja em "Baiano Capoeira", com paulistas na autoria (Jorge Costa/ Geraldo Filme) e na interpretação (Jair e Germano Mathias); seja numa de suas raras incursões autorais (com Paulinho Dafilin), "Quem Falou". Mas, bairrismo à parte, rejeita a rixa Rio-São Paulo. "Samba tem raiz em todo lugar.
É carioca, é baiano, é paulista...
E daí? É tudo brasileiro!"

Patrimônio
Discurso similar originou a faixa-título do CD do Quinteto em Branco e Preto, resultado de um fortuito encontro com o presidente da Trama no sofá de Hebe Camargo.
"Patrimônio da Humanidade" é uma observação sobre o samba ter sido tombado como patrimônio cultural, mas só no Rio e na Bahia. Por que não o samba de São Paulo?", questiona o pandeirista e vocalista Magnu Sousá, 33.
O tom de protesto, com maior ou menor dose de ironia, percorre o disco. É o caso de "Prisão Especial" (Everson Pessoa/ Nei Lopes), que diz: "Me grampearam sob a falsa acusação/ De estar fazendo samba". A faixa é uma "crítica bem-humorada ao preconceito que os sambistas sofrem até no meio musical", diz Sousá.
O viés social fala ainda mais forte em "Elemento Suspeito" (Casca/ Gerson da Banda/ Milbé), sobre a repressão policial na periferia: "Mão na cabeça/ Se correr leva no peito/ O negro na favela/ É sempre elemento suspeito", lamenta a letra.


JAIR RODRIGUES EM BRANCO E PRETO
Artista:
Jair Rodrigues

PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE
Artista:
Quinteto em Branco e Preto
Gravadora: Trama (ambos)
Quanto: R$ 20, em média (cada um)


Texto Anterior: Montagem exige muito do encenador
Próximo Texto: Samba ao vivo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.