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Jair e Quinteto se encontram em CD
Sambistas do Quinteto em Branco e Preto produzem disco de veterano e lançam também o seu próprio, pela Trama
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre o acender e o apagar da
chama ao redor da qual acontece o Samba da Vela, a já tradicional roda de samba do bairro
paulistano de Santo Amaro, delineou-se a essência de dois álbuns que chegam agora às lojas.
Natural que um deles seja do
Quinteto em Branco e Preto,
cuja formação inclui dois dos
fundadores da roda. O outro,
também produção dos cinco rapazes, tem a assinatura mais insuspeita de Jair Rodrigues.
João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora Trama, foi
quem idealizou a parceria. E
aproveitou para lançar simultaneamente "Patrimônio da
Humanidade", terceiro CD do
Quinteto (na primeira incursão
pela gravadora), e "Jair Rodrigues em Branco e Preto", do veterano cliente da Trama.
Jair, 69, assegura que "estava
de olho nesses meninos" fazia
tempo. "Eu os conheço desde
antes da Beth Carvalho", diz,
referindo-se à sambista que
primeiro divulgou o trabalho
do Quinteto, "só não sabia que
compunham assim tão bem!".
Ciente de tais talentos, Jair
aceitou a tutela dos "meninos"
na produção e gravou algumas
músicas oriundas da roda de
Santo Amaro, caso de "Depois
Chorei", de Walter Monteiro e
Gilberto Alves, e do "sambaião"
"Migração", de Magnu Sousá e
Maurilio de Oliveira -irmãos
que formam o Quinteto com os
também irmãos Pessoa.
Da leva off-Samba da Vela,
destaca-se "Como
Tem Ladrão" (Ary
do Cavaco/ Otacílio da Mangueira),
que nas mãos de
Jair ganhou letra
amenizada (nos
versos "Se votar
pra deputado/
Você é roubado",
ele preferiu "certos deputados") e
título novo (Jair
achou "História
do Brasil" pessimista para o samba sobre ladrões).
Jair assume que
o CD privilegia a
produção de São
Paulo, seja no
choro de seu filho
Jair Oliveira, "Vida em Sonho"; seja em "Baiano Capoeira", com paulistas na autoria
(Jorge Costa/ Geraldo Filme) e na
interpretação (Jair e Germano
Mathias); seja numa de suas raras incursões autorais (com
Paulinho Dafilin), "Quem Falou". Mas, bairrismo à parte, rejeita a rixa Rio-São Paulo.
"Samba tem raiz em todo lugar.
É carioca, é baiano, é paulista...
E daí? É tudo brasileiro!"
Patrimônio
Discurso similar
originou a faixa-título
do CD do Quinteto em
Branco e Preto, resultado de um fortuito
encontro com o presidente da Trama no sofá de Hebe Camargo.
"Patrimônio da Humanidade" é uma observação sobre o samba ter sido tombado
como patrimônio cultural, mas só no Rio e
na Bahia. Por que não
o samba de São Paulo?", questiona o pandeirista e vocalista
Magnu Sousá, 33.
O tom de protesto,
com maior ou menor
dose de ironia, percorre o disco. É o caso
de "Prisão Especial"
(Everson Pessoa/ Nei
Lopes), que diz: "Me
grampearam sob a falsa acusação/ De estar fazendo
samba". A faixa é uma "crítica
bem-humorada ao preconceito
que os sambistas sofrem até no
meio musical", diz Sousá.
O viés social fala ainda mais
forte em "Elemento Suspeito"
(Casca/ Gerson da Banda/ Milbé), sobre a repressão policial
na periferia: "Mão na cabeça/
Se correr leva no peito/ O negro
na favela/ É sempre elemento
suspeito", lamenta a letra.
JAIR RODRIGUES EM BRANCO E PRETO
Artista: Jair Rodrigues
PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE
Artista: Quinteto em Branco e Preto
Gravadora: Trama (ambos)
Quanto: R$ 20, em média (cada um)
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