São Paulo, quinta, 1 de maio de 1997.

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Filme de Bruno Barreto que estréia hoje no país é o maior investimento do cinema brasileiro
"Companheiro" chega embalado em polêmica

Divulgação
Pedro Cardoso, Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres em cena de "O Que é Isso, Companheiro?"


CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

``O Que É Isso, Companheiro?'', filme de Bruno Barreto inspirado no livro homônimo do jornalista e deputado Fernando Gabeira, entra hoje em circuito nacional sob polêmica e com duas grandes responsabilidades: recuperar o maior investimento já feito em um filme brasileiro -custou R$ 4,5 milhões-, e conseguir a indicação para o Oscar de melhor filme estrangeiro, repetindo a atuação de ``O Quatrilho'', de Fábio Barreto.
``Não vi o filme, mas mesmo sem ter visto, não gostei'', diz Vera Sílvia Magalhães, 49, a única mulher a participar da ação de sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969.
``Ela já não gostava antes de o filme começar a ser feito. Eu jamais produziria um filme para exaltar a luta armada, como ela gostaria, assim como jamais faria um filme exaltando a tortura e os atos arbitrários da ditadura'', responde Luís Carlos Barreto, produtor do filme e pai do diretor.
Vera Sílvia diz que, pelo que ouviu de amigos, ``O Que É Isso, Companheiro?'' é um filme ``desrespeitoso''.
``Todos nós somos apresentados como pessoas estúpidas, quase bárbaras, enquanto o torturador é humanizado. Isso me incomoda. Quem foi torturada fui eu, não foi o senhor Bruno Barreto'', diz.
``Pensei que hoje eles já tivessem maturidade e uma visão menos narcisista e juvenil do que aconteceu. Gabeira amadureceu, eles não'', diz Barreto.
Vera Sílvia sente-se retratada nas duas personagens femininas do filme -as guerrilheiras Maria (Fernanda Torres) e Renée (Cláudia Abreu). Daí ter ficado irritada ao saber que no filme Renée passa a noite com o chefe da segurança da embaixada norte-americana para conseguir informações sobre a rotina do embaixador.
``Não estava no nosso universo o uso da sexualidade como mercadoria. Não é por moralismo, mas jamais daria para o chefe da segurança para conseguir uma informação'', diz Vera, que hoje trabalha na Secretaria Estadual de Planejamento do Rio.
``Entrevistamos mais de 200 pessoas. Nada foi aleatório, mas nos demos algumas licenças poéticas e históricas'', afirma Barreto.
Estratégias
Apesar do alto investimento em sua produção, o filme terá, em sua primeira fase de lançamento, menos cópias do que ``O Quatrilho'' -última grande produção da família Barreto. Hoje, 21 cópias estão em exibição, contra 36 no lançamento de ``O Quatrilho''.
O filme entra hoje em circuito em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Curitiba e Porto Alegre. A partir do dia 23, o leque se abre, com 60 cópias.
``Vamos fazer um lançamento `low profile', apostando na propaganda boca a boca'', explica Barreto. Ele e sua mulher, Lucy, também produtora do filme, já estão traçando a estratégia para o lançamento do filme no mercado internacional.
Em outubro, deverá estrear nos Estados Unidos, com distribuição da Miramax.
A exibição no mercado norte-americano faz parte do ``Projeto Oscar''.
``O circuito americano é a segunda fase. Se conseguirmos a indicação daqui, é importante estar em exibição lá. Acho que nosso erro em `O Quatrilho' foi não estar com o filme em circuito na época da votação'', diz Barreto.

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