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"HAIFA"
Longa de 96 se perde em excesso de engajamento e esquematismo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Haifa" pode ser visto em
dois níveis. O primeiro,
da informação, nos oferece uma
visão das cidades-favela em que
vivem os palestinos (em Gaza, no
caso) sob dominação israelense.
Realizada em 1996, a produção
talvez tenha perdido um tanto de
sua atualidade: foi concebida
num momento em que a paz no
Oriente Médio e o surgimento de
um Estado palestino pareciam
viáveis. Em todo caso, à parte a
destruição recente, as ruelas, a
precariedade das casas, a simplicidade do modo de vida não contradizem o que já se viu.
O segundo nível é o da realização propriamente dita e, aqui, a
precariedade do filme de Rashid
Masharawi é intensa. Trata-se de
um longa engajado, em que a vida
de uns palestinos é abordada tendo por centro a figura do louco da
aldeia. Ele se denomina Haifa em
alusão à cidade israelense.
Não é segredo para ninguém
que, para que Israel se constituísse, a população palestina foi afastada desse território. Voltar para
Haifa (ou Jerusalém) é uma reivindicação de parte da população.
Passemos pelo que pode haver
de justo ou injusto em tudo isso,
sob o risco de não chegar a parte
nenhuma. Em torno de Haifa, o
personagem, surgem diversos habitantes, a maior parte representativa das diversas posições dos
palestinos em relação ao problema. Existe desde o admirador incondicional de Arafat, que deposita nele todas as suas esperanças,
ao jovem e cético Siad, para quem
os acordos de paz representam
um compromisso inaceitável.
Seja no aspecto político, seja no
cultural, "Haifa" sofre de um esquematismo de construção quase
intransponível. Os personagens
não possuem vida própria, têm
apenas aquela que lhes determina
o realizador, o que os limita à condição de fantoches. Seus movimentos, seu fraseado não saem da
vida nos campos de refugiados,
saem diretamente do roteiro.
Por fim, não custa observar que
um dos momentos centrais de
"Haifa" consiste na questão enunciada por um dos personagens:
qual é a sua cidade de origem?
A mania da origem parece empestear o Oriente Médio, tanto do
lado israelense como do palestino. Todos (todos os radicais, bem
entendido) remetem questões
atuais a uma origem mais ou menos imemorial, reivindicando para si direitos sejam bíblicos, sejam
de anterioridade (qualquer anterioridade serve) que bloqueiam e
pelo jeito bloquearão por muito
tempo qualquer iniciativa de uma
paz razoável para ambos os lados.
O fato de "Haifa" ilustrar esse tipo de pensamento pelo lado palestino talvez nos ajude a compreender a imensa irracionalidade que parece nortear as ações das
partes envolvidas. Mais que tudo,
dá conta do estágio ainda imaturo
do cinema palestino.
Haifa
Direção: Rashid Masharawi
Produção: Palestina/Holanda, 1996
Com: Mohammad Bakri, Hiyam Abbass
Quando: a partir de hoje no Top Cine
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