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Quadrinhos da história
Recém-lançadas histórias em quadrinhos adaptam romances clássicos,
como "O Alienista", de Machado de Assis, e "O Cortiço", de Aluísio Azevedo
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As obras literárias e histórias
em quadrinhos estão mais próximas -pelo menos para os leitores brasileiros. Acabam de
ser lançadas três HQs em que
autores nacionais adaptam
clássicos da literatura brasileira: "O Alienista", "Memórias de
um Sargento de Milícias" e "O
Cortiço".
A tarefa de adaptar as palavras de Machado de Assis em
"O Alienista" coube aos gêmeos
Fábio Moon e Gabriel Bá.
"O legal de fazer uma adaptação é que os livros têm uma linguagem que é própria. O jeito
que Machado de Assis ou Guimarães Rosa escrevem é só deles", diz Fábio Moon. "A questão não é só se a história é interessante, mas de levar ao leitor
como o escritor usa as palavras", afirma.
Os irmãos Moon e Bá são
quadrinistas reconhecidos: há
duas semanas foram indicados
ao Eisner Awards, o "Oscar"
dos quadrinhos americanos, na
categoria melhor publicação de
material estrangeiro por "De:
Tales", coletânea com histórias
já publicadas no Brasil.
Além de "O Alienista", outro
texto do século 19 que está
prestes a ser lançado em quadrinhos é "A Relíquia", de Eça
de Queiroz. O álbum está previsto para junho e o responsável pela adaptação e pela arte é
Marcatti, conhecido por criar
HQs de "humor escatológico",
como ele próprio define.
Pode soar estranho, a princípio, que o "underground" Marcatti tenha trabalhado sobre
um clássico da literatura de
Portugal, mas ele encontrou algo em comum com Eça de
Queiroz. "Não tem a escatologia, mas eu não imaginava que
um escritor clássico pudesse
ser tão ácido, tão crítico", diz
Marcatti. "Em "A Relíquia", ninguém presta."
Coleções
As outras duas HQs recém-lançadas, "Memórias de um
Sargento de Milícias" (por Índigo e Bira Dantas) e "O Cortiço" (por Ronaldo Antonelli e
Francisco Vilachã), fazem parte da coleção Literatura Brasileira em Quadrinhos.
Essa série teve início no ano
passado e traz volumes de 50
ou 66 páginas com adaptações
de obras nacionais voltadas para estudantes do ensino médio.
Alguns números trazem questionários no final da edição para que os professores passem
como exercícios para os alunos.
"Desde o início da história
dos quadrinhos, há a preocupação de que as HQs poderiam
provocar preguiça para a leitura de livros", diz Francisco Vilachã, um dos idealizadores da
coleção e que trabalhou em sete
adaptações já publicadas. "Pode até ter acontecido, mas acho
que inspirou um número muito
maior de leitores."
Outra série que publica versões em HQs de obras literárias
é a "Domínio Público", de Pernambuco, que traz HQs baseadas em contos e lançadas sem
editora, por meio de leis de incentivo. Foram lançadas duas
edições no ano passado, cada
uma com seis histórias. Na primeira, todas baseadas em contos brasileiros; na segunda, textos de autores estrangeiros.
Para o quadrinista Mascaro,
um dos responsáveis pela série,
as adaptações podem ajudar a
levar público não só para as
HQs mas também para os livros clássicos. "Queríamos evitar o duplo preconceito da literatura clássica como algo chato,
que se lê na escola por obrigação e do quadrinho como um
facilitador da leitura simplesmente, algo infantilizado."
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