São Paulo, terça-feira, 01 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Quadrinhos da história

Recém-lançadas histórias em quadrinhos adaptam romances clássicos, como "O Alienista", de Machado de Assis, e "O Cortiço", de Aluísio Azevedo

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As obras literárias e histórias em quadrinhos estão mais próximas -pelo menos para os leitores brasileiros. Acabam de ser lançadas três HQs em que autores nacionais adaptam clássicos da literatura brasileira: "O Alienista", "Memórias de um Sargento de Milícias" e "O Cortiço".
A tarefa de adaptar as palavras de Machado de Assis em "O Alienista" coube aos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá.
"O legal de fazer uma adaptação é que os livros têm uma linguagem que é própria. O jeito que Machado de Assis ou Guimarães Rosa escrevem é só deles", diz Fábio Moon. "A questão não é só se a história é interessante, mas de levar ao leitor como o escritor usa as palavras", afirma.
Os irmãos Moon e Bá são quadrinistas reconhecidos: há duas semanas foram indicados ao Eisner Awards, o "Oscar" dos quadrinhos americanos, na categoria melhor publicação de material estrangeiro por "De: Tales", coletânea com histórias já publicadas no Brasil.
Além de "O Alienista", outro texto do século 19 que está prestes a ser lançado em quadrinhos é "A Relíquia", de Eça de Queiroz. O álbum está previsto para junho e o responsável pela adaptação e pela arte é Marcatti, conhecido por criar HQs de "humor escatológico", como ele próprio define.
Pode soar estranho, a princípio, que o "underground" Marcatti tenha trabalhado sobre um clássico da literatura de Portugal, mas ele encontrou algo em comum com Eça de Queiroz. "Não tem a escatologia, mas eu não imaginava que um escritor clássico pudesse ser tão ácido, tão crítico", diz Marcatti. "Em "A Relíquia", ninguém presta."

Coleções
As outras duas HQs recém-lançadas, "Memórias de um Sargento de Milícias" (por Índigo e Bira Dantas) e "O Cortiço" (por Ronaldo Antonelli e Francisco Vilachã), fazem parte da coleção Literatura Brasileira em Quadrinhos.
Essa série teve início no ano passado e traz volumes de 50 ou 66 páginas com adaptações de obras nacionais voltadas para estudantes do ensino médio. Alguns números trazem questionários no final da edição para que os professores passem como exercícios para os alunos.
"Desde o início da história dos quadrinhos, há a preocupação de que as HQs poderiam provocar preguiça para a leitura de livros", diz Francisco Vilachã, um dos idealizadores da coleção e que trabalhou em sete adaptações já publicadas. "Pode até ter acontecido, mas acho que inspirou um número muito maior de leitores."
Outra série que publica versões em HQs de obras literárias é a "Domínio Público", de Pernambuco, que traz HQs baseadas em contos e lançadas sem editora, por meio de leis de incentivo. Foram lançadas duas edições no ano passado, cada uma com seis histórias. Na primeira, todas baseadas em contos brasileiros; na segunda, textos de autores estrangeiros.
Para o quadrinista Mascaro, um dos responsáveis pela série, as adaptações podem ajudar a levar público não só para as HQs mas também para os livros clássicos. "Queríamos evitar o duplo preconceito da literatura clássica como algo chato, que se lê na escola por obrigação e do quadrinho como um facilitador da leitura simplesmente, algo infantilizado."


Texto Anterior: Horário nobre na TV Aberta
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.