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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
Moda agora é coisa de homem
Para o estilista Massimiliano Giornetti, da
grife Salvatore Ferragamo, terminou a era dos "uniformes'
na roupa masculina
do desfile da grife
italiana Ferragamo na temporada de Milão;
à esq., o diretor de
criação da marca, Massimiliano Giornetti
Foi-se o tempo em que moda
era apenas coisa de mulheres, e
os homens se conformavam
com algumas poucas peças em
seu guarda-roupa. Na opinião
do estilista Massimiliano Giornetti, diretor de criação da Salvatore Ferragamo, uma das novidades de nossa época é o fato
de os homens estarem tomando gosto pela moda. "No passado, a roupa para eles era, de certo modo, um uniforme. Mas isso está acabando", diz.
Giornetti, 37, estudou literatura espanhola em Florença.
Enquanto lia Cervantes e Lorca, começou a se interessar pela
história das roupas. Terminou
a faculdade e entrou para o Instituto Polimoda, também em
Florença. Depois, trabalhou
para ateliês de alta costura em
Roma. Em 2000, foi contratado
pela Ferragamo e atuou no setor de tricô para homens.
Há
quatro anos, tornou-se diretor
de criação das coleções masculinas da famosa "maison" criada nos anos 20. Um de seus méritos é introduzir inovações,
ainda que sutis, no estilo tradicionalista e requintado da grife.
Na entrevista a seguir, feita
durante os desfiles em Milão
no mês passado, Giornetti define o estilo italiano para homens e afirma que a principal
novidade da moda masculina é
o surgimento de um novo conceito de alfaiataria:
FOLHA - Qual é a principal diferença entre fazer roupas para mulheres
e para homens?
MASSIMILIANO GIORNETTI - Na moda masculina, o estilista se arrisca muito menos. Nos últimos cem anos, muito pouca
coisa mudou nas roupas dos
homens, ao passo que na das
mulheres houve sucessivas e
radicais transformações. Os
homens são mais conservadores. Usam poucas peças, que
podem ser compostas de maneiras diferentes. O estilista
precisa trabalhar estas peças
meticulosamente.
FOLHA - Por que isso aconteceu?
GIORNETTI - Creio que é por causa do papel social que os homens exerciam. No passado, a
roupa para eles era, de certo
modo, um uniforme, e havia
pouco espaço para mudá-la.
Mas isso está acabando. Nos últimos anos, eles passaram a dividir muito de seu poder com as
mulheres e, ao mesmo tempo,
se tornaram mais conscientes
da moda, passaram a aceitá-la
com mais facilidade. Há 20
anos, a maior parte das vezes
era a namorada ou a esposa que
ajudava a escolher a roupa para
o homem. Agora, eles próprios
tomam a iniciativa. A moda
também invadiu as publicações
dirigidas aos homens, até mesmo os jornais e revistas de negócios, onde você encontra matérias sobre estilo e publicidades com imagens de moda.
FOLHA - Como o sr. define o estilo
italiano para homens?
GIORNETTI - Se eu pudesse comparar com o americano ou o
britânico, diria que o estilo italiano fica no meio, entre um e
outro, e não no sentido negativo. A elegância britânica tem
algo de excêntrico, a americana
é mais casual e relax. Os italianos se arriscam na moda, mas
menos que os britânicos, e são
também menos casuais que os
americanos.
FOLHA - Ao criar para a Salvatore
Ferragamo, o sr. pode arriscar a fazer coisas novas?
GIORNETTI - A Salvatore Ferragamo tem 80 anos de história,
vestiu grandes personalidades,
inclusive reis e rainhas. Então,
há uma grande tradição. Sendo
assim, cada coleção começa para mim no museu Ferragamo,
onde vou buscar inspiração para as cores, as formas e os materiais a serem utilizados. Minha
função é transformar este legado em algo contemporâneo.
FOLHA - O que quer dizer contemporâneo, neste contexto?
GIORNETTI - Quer dizer que, embora me baseando na tradição,
devo evitar fazer roupas vintages. Devo criar algo novo, que
tenha um design atual.
FOLHA - A crise econômica influenciou a sua última coleção?
GIORNETTI - Sim, no sentido de
que é preciso ser mais realista.
Não se pode fazer tudo que
quer, é preciso fazer um belo
trabalho com menos dinheiro.
FOLHA - Qual é a próxima grande
coisa da moda masculina?
GIORNETTI - Já está ocorrendo.
É um novo conceito de alfaiataria, tornando-a mais contemporânea, mais leve e capaz de
transmitir sua mensagem em
ritmo rápido, com poucas peças, fáceis de usar e que podem
ser mixadas de maneira espontânea e muito diversificada.
FOLHA - O sr. acha que os jovens,
que adoram jeans e camisetas, podem se interessar pela alfaiataria?
GIORNETTI - Tenho certeza de
que sim, ao menos aqui na Europa. Nos últimos dez anos,
eles têm se interessado por
uma elegância mais formal,
com jaquetas, gravatas, camisas
e até chapéus, que estão usando
cada vez mais frequentemente.
com Vivian Whiteman
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