São Paulo, sexta-feira, 01 de maio de 2009

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br

Moda agora é coisa de homem

Para o estilista Massimiliano Giornetti, da grife Salvatore Ferragamo, terminou a era dos "uniformes' na roupa masculina

do desfile da grife italiana Ferragamo na temporada de Milão; à esq., o diretor de criação da marca, Massimiliano Giornetti


Foi-se o tempo em que moda era apenas coisa de mulheres, e os homens se conformavam com algumas poucas peças em seu guarda-roupa. Na opinião do estilista Massimiliano Giornetti, diretor de criação da Salvatore Ferragamo, uma das novidades de nossa época é o fato de os homens estarem tomando gosto pela moda. "No passado, a roupa para eles era, de certo modo, um uniforme. Mas isso está acabando", diz.
Giornetti, 37, estudou literatura espanhola em Florença. Enquanto lia Cervantes e Lorca, começou a se interessar pela história das roupas. Terminou a faculdade e entrou para o Instituto Polimoda, também em Florença. Depois, trabalhou para ateliês de alta costura em Roma. Em 2000, foi contratado pela Ferragamo e atuou no setor de tricô para homens.
Há quatro anos, tornou-se diretor de criação das coleções masculinas da famosa "maison" criada nos anos 20. Um de seus méritos é introduzir inovações, ainda que sutis, no estilo tradicionalista e requintado da grife.
Na entrevista a seguir, feita durante os desfiles em Milão no mês passado, Giornetti define o estilo italiano para homens e afirma que a principal novidade da moda masculina é o surgimento de um novo conceito de alfaiataria:

 

FOLHA - Qual é a principal diferença entre fazer roupas para mulheres e para homens?
MASSIMILIANO GIORNETTI
- Na moda masculina, o estilista se arrisca muito menos. Nos últimos cem anos, muito pouca coisa mudou nas roupas dos homens, ao passo que na das mulheres houve sucessivas e radicais transformações. Os homens são mais conservadores. Usam poucas peças, que podem ser compostas de maneiras diferentes. O estilista precisa trabalhar estas peças meticulosamente.

FOLHA - Por que isso aconteceu?
GIORNETTI
- Creio que é por causa do papel social que os homens exerciam. No passado, a roupa para eles era, de certo modo, um uniforme, e havia pouco espaço para mudá-la. Mas isso está acabando. Nos últimos anos, eles passaram a dividir muito de seu poder com as mulheres e, ao mesmo tempo, se tornaram mais conscientes da moda, passaram a aceitá-la com mais facilidade. Há 20 anos, a maior parte das vezes era a namorada ou a esposa que ajudava a escolher a roupa para o homem. Agora, eles próprios tomam a iniciativa. A moda também invadiu as publicações dirigidas aos homens, até mesmo os jornais e revistas de negócios, onde você encontra matérias sobre estilo e publicidades com imagens de moda.

FOLHA - Como o sr. define o estilo italiano para homens?
GIORNETTI
- Se eu pudesse comparar com o americano ou o britânico, diria que o estilo italiano fica no meio, entre um e outro, e não no sentido negativo. A elegância britânica tem algo de excêntrico, a americana é mais casual e relax. Os italianos se arriscam na moda, mas menos que os britânicos, e são também menos casuais que os americanos.

FOLHA - Ao criar para a Salvatore Ferragamo, o sr. pode arriscar a fazer coisas novas?
GIORNETTI
- A Salvatore Ferragamo tem 80 anos de história, vestiu grandes personalidades, inclusive reis e rainhas. Então, há uma grande tradição. Sendo assim, cada coleção começa para mim no museu Ferragamo, onde vou buscar inspiração para as cores, as formas e os materiais a serem utilizados. Minha função é transformar este legado em algo contemporâneo.

FOLHA - O que quer dizer contemporâneo, neste contexto?
GIORNETTI
- Quer dizer que, embora me baseando na tradição, devo evitar fazer roupas vintages. Devo criar algo novo, que tenha um design atual.

FOLHA - A crise econômica influenciou a sua última coleção?
GIORNETTI
- Sim, no sentido de que é preciso ser mais realista. Não se pode fazer tudo que quer, é preciso fazer um belo trabalho com menos dinheiro.

FOLHA - Qual é a próxima grande coisa da moda masculina?
GIORNETTI
- Já está ocorrendo. É um novo conceito de alfaiataria, tornando-a mais contemporânea, mais leve e capaz de transmitir sua mensagem em ritmo rápido, com poucas peças, fáceis de usar e que podem ser mixadas de maneira espontânea e muito diversificada.

FOLHA - O sr. acha que os jovens, que adoram jeans e camisetas, podem se interessar pela alfaiataria?
GIORNETTI
- Tenho certeza de que sim, ao menos aqui na Europa. Nos últimos dez anos, eles têm se interessado por uma elegância mais formal, com jaquetas, gravatas, camisas e até chapéus, que estão usando cada vez mais frequentemente.

com Vivian Whiteman



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