São Paulo, sábado, 01 de maio de 2010

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Crítica

Eastwood enterra tipo patriótico e triunfante

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Assim como "Os Imperdoáveis", "Gran Torino" (HBO, 21h; 14 anos) é um réquiem. No primeiro filme, de 1992, o ciclo que se encerrava era o do faroeste. Clint Eastwood o revisitava para frente e para trás, para melhor enterrá-lo.
Em "GranTorino", é o próprio personagem criado pelo ator ao longo dos anos que deve desaparecer. Não por acaso, Clint disse que esse seria seu último trabalho como ator. Que personagem é esse? O do policial invencível como Harry Callahan. Ou o do caubói de tiro tão rápido quanto infalível dos faroestes de Sergio Leone (ou dele próprio).
Não, o Walt Kowalski de "Gran Torino" é uma relíquia, tanto quanto o precioso carro que guarda em sua garagem. Ambos vêm de uma antiga América, hoje em desuso, América triunfante, certo, mas também moral. A moralidade estava nas pessoas assim como nos objetos. Fazer um ótimo carro era um programa ético.
É a isso que nosso herói, com todo seu racismo, toda sua crença no país, terá de renunciar, assim como a seu ódio pelos orientais. O tempo do velho herói da Guerra da Coreia passou. O mundo está recomeçando, com imigrantes por todos os lados. No fim, eles talvez sejam como os pioneiros, há os bons, os maus etc.
O certo é que esse novo mundo já não precisa do velho, solitário, heroico Walt Kowalski.


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