|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Eastwood enterra tipo patriótico e triunfante
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Assim como "Os Imperdoáveis", "Gran Torino" (HBO,
21h; 14 anos) é um réquiem. No
primeiro filme, de 1992, o ciclo
que se encerrava era o do faroeste. Clint Eastwood o revisitava para frente e para trás, para melhor enterrá-lo.
Em "GranTorino", é o próprio personagem criado pelo
ator ao longo dos anos que deve
desaparecer. Não por acaso,
Clint disse que esse seria seu
último trabalho como ator.
Que personagem é esse? O do
policial invencível como Harry
Callahan. Ou o do caubói de tiro tão rápido quanto infalível
dos faroestes de Sergio Leone
(ou dele próprio).
Não, o Walt Kowalski de
"Gran Torino" é uma relíquia,
tanto quanto o precioso carro
que guarda em sua garagem.
Ambos vêm de uma antiga
América, hoje em desuso, América triunfante, certo, mas também moral. A moralidade estava nas pessoas assim como nos
objetos. Fazer um ótimo carro
era um programa ético.
É a isso que nosso herói, com
todo seu racismo, toda sua
crença no país, terá de renunciar, assim como a seu ódio pelos orientais. O tempo do velho
herói da Guerra da Coreia passou. O mundo está recomeçando, com imigrantes por todos
os lados. No fim, eles talvez sejam como os pioneiros, há os
bons, os maus etc.
O certo é que esse novo mundo já não precisa do velho, solitário, heroico Walt Kowalski.
Texto Anterior: Televisão/O melhor do dia Próximo Texto: José Simão: Ueba! Vai ter a Festa do Viagra! Índice
|