São Paulo, sábado, 01 de maio de 2010

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Rembrandt é tema de livro e mostra em Vitória

Gravuras exaltam técnica rentável de luz e sombra

DO ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA

Na escuridão, surge um Cristo iluminado. Logo abaixo, fora do quadro, está explícita a inscrição: "gravura de 100 florins".
Rembrandt tinha graça, mas tinha também seus preços. Um livro recém-lançado destaca a relação do artista holandês com o mercado, já que foi notória sua transformação do ateliê em linha de montagem. Ao mesmo tempo, uma mostra agora em cartaz no Museu de Arte do Espírito Santo reúne gravuras que frisam sua produção em massa.
No livro "O Projeto de Rembrandt", da Companhia das Letras, a autora Svetlana Alpers destrincha o mundo que o artista recriou em seu ateliê. Dava ordens a um exército de ajudantes, limpava os pincéis na roupa, grosseiro como seus traços. Ela tenta mostrar como Rembrandt soube separar a luz das trevas em seus quadros para enriquecer no plano terreno.
Na verdade, as gravuras agora no país ajudam a entender que seu foco não era a distinção nítida de luz e sombra, mas a forma como figuras emergem da escuridão, aparição matizada por contornos luminosos.
Nas cenas bíblicas, como "Cristo Pregando", "A Escada de Jacó" e "A Adoração dos Pastores", Rembrandt arquiteta um emaranhado denso de traços que cede em alguns pontos para destacar a presença, bastante tímida, da luz.
Mergulha "O Sepultamento" num negror fuliginoso, com foco só para o rosto de Cristo. Dentro e fora de suas alegorias, instaura também um senso do cotidiano. A vida doméstica não cessa diante dos sermões, seus fiéis não disfarçam o ar entediado. Desenha mendigos nas ruas, velhas anônimas e se autorretrata à exaustão.
São fiapos de linhas apressadas que tentam dar estofo à rotina que recriava em seu ateliê. Vestia seus modelos com fantasias, exigia que declamassem até falas -um teatro da vida para vender como quadro. (SM)

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite dos organizadores da mostra.


REMBRANDT

Quando: ter. a sex., das 10h às 18h; sáb. e dom., das 12h às 18h
Onde: Museu de Arte do Espírito Santo (av. Jerônimo Monteiro, 631, Vitória, tel. 0/xx/27/3132-8390)
Quanto: entrada franca




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