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ARQUITETURA
Apoiada em recursos tecnológicos, exposição contém projeções de vídeos e maquetes que se movimentam
Mostra foca processo construtivo de Gaudí
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Excêntrico, mirabolante, bizarro. Os adjetivos usados para descrever a obra do arquiteto catalão
Antoni Gaudí (1852-1926) em geral encobrem outras facetas importantes de seu trabalho: o cálculo, a precisão e a racionalidade.
Não é à toa. Suas construções, a
maioria na cidade de Barcelona,
na Espanha, como o Parque Güell
(1901-1914), a Casa Milá (1905-1910) ou a Igreja da Sagrada Família, construção iniciada em 1883 e
prevista para ser encerrada em,
pelo menos, 150 anos (leia texto
abaixo), impressionam pelas formas orgânicas, a diversidade de
materiais e a criatividade. Assim,
quem observa uma construção de
Gaudí não é levado a pensar na
complexidade construtiva de sua
arquitetura.
Pois a mostra "Gaudí, a Procura
da Forma", que será aberta hoje,
no Instituto Tomie Ohtake (ITO),
tem por objetivo desviar o olhar
da superfície dos edifícios para
traçar um panorama de seu vocabulário arquitetônico e de seu
processo construtivo. Organizada
em 2002, por ocasião dos 150 anos
de nascimento do catalão, na cidade de León, a exposição tem itinerado por várias cidades até chegar a São Paulo.
"É certo que Gaudí se inspirou
nas formas orgânicas, em modelos naturais e o espírito de síntese,
mas também é certo que há, por
trás dos elementos mais simbólicos de sua obra, um apoio estrutural, um delineamento funcional
e uma economia da forma baseados na experiência e na observação", afirma o curador da mostra
Daniel Giralt-Miracle, no catálogo
que a acompanha.
No final do ano passado, Gaudí
ganhou uma exposição no Museu
de Arte de São Paulo (Masp), que
chegou a ser apontada numa pesquisa realizada pelo site Mapa das
Artes como a pior mostra de 2003.
No ITO, Gaudí não deve repetir a
má performance.
A exposição, altamente tecnológica, está distante de tradicionais
mostras de arquitetura com plantas, desenhos e maquetes. Há projeções em tela plana das 15 obras
mais importantes de Gaudí, maquetes que se movimentam, e reproduções em escala real de partes das construções do espanhol.
Para a montagem no Brasil, três
arquitetos são responsáveis pela
adequação da exposição ao espaço do ITO. "Vemos aqui o domínio técnico do Gaudí, que está
muito além do aspecto fantasioso,
que é seu estereótipo. Com essa
mostra, creio que podemos vê-lo
como um arquiteto moderno, e
não art-noveau, como geralmente
ele é classificado", afirma Anderson Freitas, um dos arquitetos encarregados da exposição em São
Paulo.
Arrojo
Dividida em quatro núcleos, a
exposição tem início já com as
inovações técnicas de Gaudí. Em
"A Busca da Forma", que dá título
à mostra, estão dispostas 11 maquetes, quatro em escala real,
acompanhadas de vídeos que
apresentam a origem e a aplicação
da geometria de Gaudí.
"É incrível perceber como ele foi
arrojado sem ter tantos recursos
tecnológicos como hoje em dia",
conta Giancarlo Latorraca, outro
dos arquitetos a cuidar da montagem. Um dos exemplos é uma parede, numa maquete em tamanho
real, feita de metal, que se sustenta
sem colunas.
Esse núcleo dá conta dos arcos,
as abóbadas e colunas, entre outros elementos da arquitetura,
trabalhados por Gaudí, em alguns
casos com maquetes animadas.
Um dos destaques é a maquete
da Igreja da Sagrada Família, pendurada com diversos pesos e que
só pode ser compreendida por
um espelho alocado no chão, procedimento que era utilizado por
Gaudí.
Os núcleos "Pensamento de
Gaudí", um filme sobre as idéias
do arquiteto, e "A Obra Arquitetônica de Gaudí", filmes com suas
15 obras consideradas mais importantes, estão reunidos na sala
circular de projeção do ITO, no
andar térreo.
Finalmente, o último módulo,
"O Homem e Sua Época", apresenta uma contextualização da vida de Gaudí junto a móveis e objetos projetados para as casas Milá
e Batló.
"Ele era um arquiteto completo,
que planejava do edifício ao mobiliário", afirma Latorraca.
GAUDÍ, A PROCURA DA FORMA.
Mostra com maquetes e projeções de
obras do arquiteto. Curadoria: Daniel
Giralt-Miracle. Onde: Instituto Tomie
Ohtake (av. Faria Lima, 201, entrada pela
r. Coropés, São Paulo, tel. 0/xx/11/6844-1900). Quando: abertura hoje, às 20h
(para convidados); de ter. a dom., das
11h às 20h; até 25/7. Quanto: entrada
franca. Patrocinador: Telefônica.
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