São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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ARQUITETURA

Apoiada em recursos tecnológicos, exposição contém projeções de vídeos e maquetes que se movimentam

Mostra foca processo construtivo de Gaudí

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Excêntrico, mirabolante, bizarro. Os adjetivos usados para descrever a obra do arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926) em geral encobrem outras facetas importantes de seu trabalho: o cálculo, a precisão e a racionalidade.
Não é à toa. Suas construções, a maioria na cidade de Barcelona, na Espanha, como o Parque Güell (1901-1914), a Casa Milá (1905-1910) ou a Igreja da Sagrada Família, construção iniciada em 1883 e prevista para ser encerrada em, pelo menos, 150 anos (leia texto abaixo), impressionam pelas formas orgânicas, a diversidade de materiais e a criatividade. Assim, quem observa uma construção de Gaudí não é levado a pensar na complexidade construtiva de sua arquitetura.
Pois a mostra "Gaudí, a Procura da Forma", que será aberta hoje, no Instituto Tomie Ohtake (ITO), tem por objetivo desviar o olhar da superfície dos edifícios para traçar um panorama de seu vocabulário arquitetônico e de seu processo construtivo. Organizada em 2002, por ocasião dos 150 anos de nascimento do catalão, na cidade de León, a exposição tem itinerado por várias cidades até chegar a São Paulo.
"É certo que Gaudí se inspirou nas formas orgânicas, em modelos naturais e o espírito de síntese, mas também é certo que há, por trás dos elementos mais simbólicos de sua obra, um apoio estrutural, um delineamento funcional e uma economia da forma baseados na experiência e na observação", afirma o curador da mostra Daniel Giralt-Miracle, no catálogo que a acompanha.
No final do ano passado, Gaudí ganhou uma exposição no Museu de Arte de São Paulo (Masp), que chegou a ser apontada numa pesquisa realizada pelo site Mapa das Artes como a pior mostra de 2003. No ITO, Gaudí não deve repetir a má performance.
A exposição, altamente tecnológica, está distante de tradicionais mostras de arquitetura com plantas, desenhos e maquetes. Há projeções em tela plana das 15 obras mais importantes de Gaudí, maquetes que se movimentam, e reproduções em escala real de partes das construções do espanhol.
Para a montagem no Brasil, três arquitetos são responsáveis pela adequação da exposição ao espaço do ITO. "Vemos aqui o domínio técnico do Gaudí, que está muito além do aspecto fantasioso, que é seu estereótipo. Com essa mostra, creio que podemos vê-lo como um arquiteto moderno, e não art-noveau, como geralmente ele é classificado", afirma Anderson Freitas, um dos arquitetos encarregados da exposição em São Paulo.

Arrojo
Dividida em quatro núcleos, a exposição tem início já com as inovações técnicas de Gaudí. Em "A Busca da Forma", que dá título à mostra, estão dispostas 11 maquetes, quatro em escala real, acompanhadas de vídeos que apresentam a origem e a aplicação da geometria de Gaudí.
"É incrível perceber como ele foi arrojado sem ter tantos recursos tecnológicos como hoje em dia", conta Giancarlo Latorraca, outro dos arquitetos a cuidar da montagem. Um dos exemplos é uma parede, numa maquete em tamanho real, feita de metal, que se sustenta sem colunas.
Esse núcleo dá conta dos arcos, as abóbadas e colunas, entre outros elementos da arquitetura, trabalhados por Gaudí, em alguns casos com maquetes animadas.
Um dos destaques é a maquete da Igreja da Sagrada Família, pendurada com diversos pesos e que só pode ser compreendida por um espelho alocado no chão, procedimento que era utilizado por Gaudí.
Os núcleos "Pensamento de Gaudí", um filme sobre as idéias do arquiteto, e "A Obra Arquitetônica de Gaudí", filmes com suas 15 obras consideradas mais importantes, estão reunidos na sala circular de projeção do ITO, no andar térreo.
Finalmente, o último módulo, "O Homem e Sua Época", apresenta uma contextualização da vida de Gaudí junto a móveis e objetos projetados para as casas Milá e Batló.
"Ele era um arquiteto completo, que planejava do edifício ao mobiliário", afirma Latorraca.


GAUDÍ, A PROCURA DA FORMA. Mostra com maquetes e projeções de obras do arquiteto. Curadoria: Daniel Giralt-Miracle. Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, entrada pela r. Coropés, São Paulo, tel. 0/xx/11/6844-1900). Quando: abertura hoje, às 20h (para convidados); de ter. a dom., das 11h às 20h; até 25/7. Quanto: entrada franca. Patrocinador: Telefônica.


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