|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Flip busca pluralidade e repete o modelo de sua edição anterior
DA REPORTAGEM LOCAL
Que os satisfeitos se regozijem!
Troquem-se nomes aqui, insira-se um novo tema ali, algumas novas línguas, alguns novos países, e a Festa Literária Internacional de
Parati de 2005 segue a mesma trilha da edição que a precedeu. A
fórmula fora um sucesso, avaliaram organizadores de ouvidos
atentos ao entusiasmado público,
e, portanto, não havia por que alterar todos os seus elementos.
"A programação é descendente
direta da de 2004", afirma Samuel
Titan, um dos organizadores. Como exemplo genealógico, cita a
mesa dedicada estritamente à
poesia, que neste ano contará
com os brasileiros Paulo
Henriques Britto, Alberto Martins e Claudia Roquette-Pinto. Será novamente um sarau, em que
lerão poemas intercaladamente.
No evento que acontece na cidade fluminense entre os dias 6 e 10
de julho, uma mesa de não-ficção
também seguirá os moldes de
2004. Se antes foi Ferréz quem tratou do tema da exclusão social,
neste ano é o rapper MV Bill o responsável por dar tons mais políticos ao evento. Ele compartilhará a
mesa com Arnaldo Jabor e Luiz
Eduardo Soares, o antropólogo
com quem dividiu também a autoria do livro "Cabeça de Porco".
Outra fonte de inspiração desta
edição foi a palestra do irlandês
Colm Toibin, que em 2004 percorrera "Ulisses", de James Joyce.
No próximo mês de julho, a sessão de leitura de clássicos será
ampliada para três mesas, únicas
de texto preparado com antecedência. A seqüência "Mar de Histórias" terá o americano Robert
Alter debruçando-se sobre a literatura da Bíblia, o turco Orhan
Pamuk analisando as fábulas de
"As Mil e Uma Noites", e o espanhol Juan Goytisolo refazendo o
caminho de "Dom Quixote".
Nessas três mesas, entretanto,
em que árabes, judeus e ocidentais (por assim dizer) se entrelaçam, revela-se um dos diferenciais da festa: a busca pela pluralidade. Ainda que não seja maior o
número de países participantes,
houve uma tentativa de ampliar
as perspectivas apresentadas.
"Nas primeiras duas Flips, tínhamos quase que somente autores
de língua inglesa e portuguesa",
afirma Liz Calder, idealizadora do
evento.
Embora seja visível a presença
menor neste ano de nomes longamente conhecidos do público
brasileiro, para Calder, a esta festa
não estão convidadas menos celebridades do que à de 2004. O difundido e perseguido pelo islã Salman Rushdie, além do israelense
David Grossman e o cingalês Michael Ondaatje, autor de "O Paciente Inglês", fazem as vezes de
estrelas. "Uma intenção do festival é tornar os convidados mais
conhecidos no país", diz Calder.
A estrutura, por fim, também
foi mantida, com o público dividido entre a Tenda dos Autores, cara a cara com as atrações principais, e a Tenda da Matriz, de onde
se assistem às palestras através da
frieza plana de um telão.
Uma antiga celeuma
Das críticas recorrentes ao evento nos anos anteriores, uma em
especial parece sustentar o argumento. A presença de autores publicados pela Companhia das Letras permanece grande. A editora
tem 12 dos 36 convidados, enquanto Objetiva e Record, em segundo, ficam apenas com quatro
escritores cada uma.
No entanto, Roberto Feith, dono da Objetiva, parece não se importar. "No ano passado, a discussão me pareceu legítima, mas
ficou velha. Não é possível nem
mesmo desejável que os organizadores tenham de satisfazer uma
fórmula matemática de equivalência entre editoras."
(JFU)
Texto Anterior: Literatura: Clarice ganha verbo na voz de Gullar e Chico Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|