São Paulo, quarta-feira, 01 de junho de 2005

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Flip busca pluralidade e repete o modelo de sua edição anterior

DA REPORTAGEM LOCAL

Que os satisfeitos se regozijem! Troquem-se nomes aqui, insira-se um novo tema ali, algumas novas línguas, alguns novos países, e a Festa Literária Internacional de Parati de 2005 segue a mesma trilha da edição que a precedeu. A fórmula fora um sucesso, avaliaram organizadores de ouvidos atentos ao entusiasmado público, e, portanto, não havia por que alterar todos os seus elementos.
"A programação é descendente direta da de 2004", afirma Samuel Titan, um dos organizadores. Como exemplo genealógico, cita a mesa dedicada estritamente à poesia, que neste ano contará com os brasileiros Paulo Henriques Britto, Alberto Martins e Claudia Roquette-Pinto. Será novamente um sarau, em que lerão poemas intercaladamente.
No evento que acontece na cidade fluminense entre os dias 6 e 10 de julho, uma mesa de não-ficção também seguirá os moldes de 2004. Se antes foi Ferréz quem tratou do tema da exclusão social, neste ano é o rapper MV Bill o responsável por dar tons mais políticos ao evento. Ele compartilhará a mesa com Arnaldo Jabor e Luiz Eduardo Soares, o antropólogo com quem dividiu também a autoria do livro "Cabeça de Porco".
Outra fonte de inspiração desta edição foi a palestra do irlandês Colm Toibin, que em 2004 percorrera "Ulisses", de James Joyce. No próximo mês de julho, a sessão de leitura de clássicos será ampliada para três mesas, únicas de texto preparado com antecedência. A seqüência "Mar de Histórias" terá o americano Robert Alter debruçando-se sobre a literatura da Bíblia, o turco Orhan Pamuk analisando as fábulas de "As Mil e Uma Noites", e o espanhol Juan Goytisolo refazendo o caminho de "Dom Quixote".
Nessas três mesas, entretanto, em que árabes, judeus e ocidentais (por assim dizer) se entrelaçam, revela-se um dos diferenciais da festa: a busca pela pluralidade. Ainda que não seja maior o número de países participantes, houve uma tentativa de ampliar as perspectivas apresentadas. "Nas primeiras duas Flips, tínhamos quase que somente autores de língua inglesa e portuguesa", afirma Liz Calder, idealizadora do evento.
Embora seja visível a presença menor neste ano de nomes longamente conhecidos do público brasileiro, para Calder, a esta festa não estão convidadas menos celebridades do que à de 2004. O difundido e perseguido pelo islã Salman Rushdie, além do israelense David Grossman e o cingalês Michael Ondaatje, autor de "O Paciente Inglês", fazem as vezes de estrelas. "Uma intenção do festival é tornar os convidados mais conhecidos no país", diz Calder.
A estrutura, por fim, também foi mantida, com o público dividido entre a Tenda dos Autores, cara a cara com as atrações principais, e a Tenda da Matriz, de onde se assistem às palestras através da frieza plana de um telão.

Uma antiga celeuma
Das críticas recorrentes ao evento nos anos anteriores, uma em especial parece sustentar o argumento. A presença de autores publicados pela Companhia das Letras permanece grande. A editora tem 12 dos 36 convidados, enquanto Objetiva e Record, em segundo, ficam apenas com quatro escritores cada uma.
No entanto, Roberto Feith, dono da Objetiva, parece não se importar. "No ano passado, a discussão me pareceu legítima, mas ficou velha. Não é possível nem mesmo desejável que os organizadores tenham de satisfazer uma fórmula matemática de equivalência entre editoras."
(JFU)


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